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2 de março de 2023

Estórias 09 - uma carta de amor

Aqui, no alto da falésia, onde o mar bravo não me apanha, onde recordo amores e desamores faz tempo eu vivi, me lembro que altura houve onde escrevi cartas. Cartas de amor que se perderam no tempo ou no tempo foram absorvidas, assim numa espécie de reciclagem, num apagador de memória selectiva. Se alguma pena tenho desse passado não ser presente é porque não me lembro os lindos poemas que lhes escrevi. Se eu escrevi cartas é porque estava longe desse amor e dói ser amado de longe, dói beijar sem boca, dói o silêncio do abraço e a insensibilidade da carícia. É através dessa dor que se escrevem os mais bonitos poemas de amor. Dói perder o ardor da juventude nesse amor desfisicado, nesse trocar de olhares cegos, desses beijos sem saliva. 
Teria sido mais fácil ter atravessado um deserto nesta minha idade de agora que ter passado esse tempo sem esse amor presente. Por muito que eu soubesse que que ia ser eternamente teu, enquanto durasse, sentia o corpo vazio num amar errado, numa doce fim de tarde trovejada. Era duro esse tempo porém gostava que fosse presente para me reler nos sonetos e poemas vários com os sentimentos de hoje. Aí tola juventude ganha que recordo neste presente como uma ressaca dum copo bebido no tempo da irresponsabilidade.
Quem me dera recordar de todas as cartas de amor que alguma vez possa ter escrito.



Sanzalando

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