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1 de março de 2023

Estória 08 - reconstruindo-me

Me olho só assim dum de fora para dentro e mesmo que eu pareça estar todo partido dos carretos ainda consigo reflecir a luz da minha essência ao ponto de embelezar qualquer noite cerrada. Quem morre de amores fica assim esfrangalhado que nem copo de vidro que foi ao chão. Mas meus pedaços, porque são-me importantes, desconseguem ficar cacos soltos e se encaixam na minha existência como se fosse um puzzle de muitas mil peças. Entre cortes e colagens reconstrui-me, envernizei-me na forma de tornar impermeável a novas intempéries e carregado de muitas esperanças parto para novos horizontes, sem medos, temores ou outras questões. Nas minhas peças saradas, sem rachaduras perceptíveis fui-me reconstruindo fortaleza, ainda que haja noites em branco.
E com a contagem dos tempo a se desfazer, fui criando outros rumos, uns mais sólidos que parecia granito, outros mais arenosos que que nem a fina areia da praia ficava na peneira.
Foram bonitos momentos, coloridos, alegres e carregados de fanfarras que nem baile de sábado à noite. De tantas mortes de amor fui recuperando-me que nem viúvo alegre, até à morte seguinte. 
Do caos do caco até à solidez do presente muito poderia contar, mas jamais conseguiria dar o colorido misturado com o cinzentismo desse intervalo.
Me olho e me gosto mesmo que tenha dado desgosto a quem me gostava.


Sanzalando

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