recomeça o futuro sem esquecer o passado

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30 de janeiro de 2007

Até já

Já que não conseguimos fazer o discurso mundial, vamos caminhar ao longo do final do zulmarinho, assim como num dizer de adeus e até já.
Nada de balanços, contas pendentes e nem totais.
Me dizes que estou ausente, olhar frio, palavras poucas e roucas. É. Se calhar tas com a razão do teu lado. Só quero mesmo é sentir o calor do teu abraço e deixar-me ficar assim num quentinho de ternura.
Quero ficar mesmo nos abraços de todos aqueles que me ouviram conversar comigo, me acompanharam nestas caminhadas de perfume de maresia, banhos de nostalgia. Quero mesmo ver o teu sorriso sair disparado da cara ao encontro do vizinho do lado e vice-versa.
Deixa-me dizer-te ao ouvido:
Até breve, nem que seja amanhã dum outro dia destes.

Sanzalando

Para os que não viram e para os outros também


amadeo souza-cardoso

29 de janeiro de 2007

As cenas finais do filme

Anda, me dá uma força para eu ir ali em cima daquela rocha e fazer um discurso ao mundo. Me apetecia mesmo lhe fazer, dizer-lhe todas as palavras que conheço e lhe mostrar os caminhos que eu acho lhe ficavam bem. Mas de verdade que eu não sei por onde ia começar.
E tu sabes que a minha timidez, o meu medo e a minha ansiedade iam provocar um monte de palavras que nem detective lhe ia descobrir o significado.
Tu me dás força, me acompanhas nas horas boas e nas outras também. Mas eu não te posso pedir para ires ali dizer as minhas palavras. Não ia ser a mesma coisa. Só o teu olhar ia mostrar o que me vai na alma. Mas tem gente que nem isso lhe ia conseguir ver.
Imagina tu, que sabes o que é imaginar, que estamos a fazer um filme. Desses mesmo de cinema. Sabes tanto como eu que o galã só entra nas cenas que são fáceis. Nas outras eles têm um que faz tudo por eles, que até se magoam por eles. Mas neste filme que estamos a fazer é um filme em que o combu não é nem suficiente para pagar a conta da luz, assim não tem nem alínea na verba para pagar um duplo. E o galã, que neste caso até que sou eu, tem de saltar de um prédio de muitos andares que até fica lá para cima além das nuvens. Me imaginas na minha timidez de ter de representar, o medo de saltar, mesmo que tenha sido eu quem foi que fez o guião, e a ansiedade de ver tudo a terminar num final feliz como que devem ser os filmes de amor. Se eu calcular mal a corrida? Se o paraquedas não abrir? Se o gajo da câmara estiver distraído? Se os bombeiros não estiverem com tudo a postos, se é que alguém avisou neles que a cena era assim que nem perigosa?
Mas o filme já começou e agora não pode ser filmado coisas novas como nem outro filme.Olha, faz só mesmo o favor de subir na rocha e dizer que hoje não estou com o dom da palavra, que a voz se me prendeu na garganta assim que nem num nó.

Sanzalando

Para os que não viram e para os outros também


amadeo souza-cardoso

27 de janeiro de 2007

Último Sábado - dia de descanso

Vamos aproveitar que é fim de semana. Vamos verter uma loira estupidamente gelada e saborear o mar. Está frio?
Deixa só que aquecemos ao sabor das palavras que eu te repito miles de vezes e tu miles de vezes ouves com a atenção que só uma sombra pode ouvir.
Te invejo. Onde vou, tu vais. Se fico tu ficas. Umas vezes és maior que eu, outras quase nem te vejo. Deve de ser difícil ser a minha sombra e ter que aturar as minhas aventuras fabricadas nos sonhos, acordados ou de sono profundo.
Hoje te falo pouco para te dar descanso. Deve de ser difícil ser a minha sombra, porque às vezes é difícil eu ser eu.
Aproveita o Sábdo que te dou folga de fazermos uma caminhada de palavras ao longo do zulmarinho.

Sanzalando

Para os que não viram e para os outros também


amadeo souza-cardoso

26 de janeiro de 2007

Hoje caminho com pena

Vamos aproveitar que o vento passou a brisa, que o frio se aqueceu um pouco e a maresia tem mais sabor a mar, para caminhar nas palavras que ainda te tenho para dizer.

Sabes que eu sinto pena de quem não vence nunca, como também tenho daquele que nunca perde. Tenho pena de quem faz só o necessário, do que desacredita de si e dos convencidos da vida. Tenho pena de quem não foi criança, de quem não levou ralhete da kota, de quem não brincou aos polícias e ladrões. Tenho pena de quem está amarrado numa prisão de amor infrutífero e sofredor. Tenho pena de quem não vê o mundo do lado de fora da janela. Tenho pena de quem não diz palavra que depois se vai arrepender, tenho pena de quem diz que não tem um pouco de maldade no coração. Tenho pena de quem não vocifera cá para fora a raiva contida. Tenho pena de quem faz o que não gosta e de quem gosta do que não faz ou vice versa conforme estamos no ir ou no voltar. Tenho pena de quem nunca teve uma paixão. Tenho pena de quem não tem medo e dos que só se arrependem do que não fazem.

Tas a ver, hoje eu estou num dia de pena.

Sabes mesmo porquê?

Porque tenho pena de quem não sonha!


Sanzalando

Para os que não viram e para os outros também


amadeo souza-cardoso

25 de janeiro de 2007

Os sonhos

Anda, senta aqui pertinho que o sol está gelado e o vento não nos deixa caminhar. Caminhamos só com passadas largas de palavras que ainda me apetecem dizer-te. Hoje tou com a impressão que acordei a saber mais do que quando me deitei. É! Te pode parecer uma afirmação minha assim como que carregada de loucura, mas a verdade é que é essa mesmo. Hoje acordei com a sensação que sabia mais do que quando me deitei.
Não é que eu tenha sonhado que tinha salvo o mundo porque comi batatas fritas enquanto dormia. Sonhei que estava a estudar, não o estudar numa secretária com livros e compêndios à frente dos olhos. Estava a estudar mentalmente uma matéria bem definida. Assim, quando acordei, revi todos os esquemas, todos os mapas, todas as localizações e equações. Estava tudo certo, direito e sem nenhum desvio da realidade. Assim eu hoje estou melhor, mais rico de saberes. E como te gosto eu te compartilho estas coisas.
Se tiveres paciência e olhares para estes esquemas que eu tenho aqui, feitos a partir do meu sonho, tu vais ver que, da mãos a abanar, eu vou conseguir chegar lá, ao resultado que tu sabes que eu quero. Olha bem para eles. São simples como eu o sou, são em socalcos como tem sido toda esta caminhada que temos feito até aqui. Aqui, neste planalto que eu desenhei a lápis para poder apagar e fazer só uma planície, vai ser o meu coração. Ali, nessa seta que vês a apontar o céu, numa verticalidade equatorial, é o caminho que espero percorrer.
Como vês eu sonhei tudo e por isso estou hoje a saber mais que sabia ontem quando me deitei.
Olha, sabes, fico com a impressão que o meu cérebro trabalha a solo, aproveita que o corpo não está com ele e záz desata a estudar.
Mas te digo que esta noite não vou querer sonhar, acordarei antes dele. Preciso de dar férias aos sonhos.
Te chega mais a mim e me afaga na tua sombra, me mima com perfume de maresia.
Ser um caminhante sonhador…


Sanzalando

Para os que não viram e para os outros também

amadeo souza-cardoso

24 de janeiro de 2007

Falemos que o dia é curto

Caminhemos num vai e vai sem parar. Se encurtam os dias e sei que muita coisa vai ficar por dizer. Pois não sei se falar no início do zulmarinho vai ter o mesmo ritmo deste falar de final de zulmarinho. Não pares de me escutar mesmo que o nosso caminhar seja feito de palavras. Me perguntas se eu sempre te falarei. Tu sabes que a resposta vai ser sim. Porque sim!
Quantas vezes temos os olhos abertos e não nos vemos? Quantas vezes queremos olhar à esquerda e não voltamos a cabeça? Tão pouco o fazemos para olhar à direita. Quantas vezes os homens não vêem as mulheres, desejando entendê-las apenas? E as mulheres não vêem os homens, desejam que eles mudem. Como vês são tudo coisas simples, com respostas silenciosas guardadas em frascos de cristal coloridos, como vitrais.
Continuo?
Então continuemos as nossas conversas de mim para ti como se comêssemos um prato de cerejas. Nem olhamos para as meter na boca. Quando bebemos, simplesmente bebemos sem olhar para o conteúdo quando emborcamos.
Afinal temos mesmo os olhos mais para quê?
Para olhar para além da linha recta que é curva? Para ver se a areia está mais lisa ou mais irregular que outra vez qualquer que já nem sabemos quando?
Temos olhos porque nos ficam bem na cara? Ai que olhos tão lindos, até parecem de gato.
Precisamos dos olhos para ver mais além do que a vista alcança.
Não, a maior parte do tempo nós não nos vemos, olhamos para lá de um vazio qualquer.
Mesmo que caminhemos de olhos fechados bebendo cada palavra do que dizemos devemos manter a visão para lá de nós sem de nós ter saído.
Te compliquei a vida… deixa estar que assim falámos de mais coisas em menos tempo.
Coisas apenas.

Sanzalando

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amadeo souza-cardoso

23 de janeiro de 2007

Frases feitas por dizer

Anda, vamos pôr nossas pernas a trabalhar e dar ao caminho mais palavras que me apetece dizer.
Sabes, às vezes gostava de ter um apontamento das frases que disse. Como não tenho, te vou falar das frases que disse ou ouvi, sem saber quais foram quem. Umas porque lhes gosto, outras porque não as queria ter ouvido ou dito.
Nunca deixes que o passado te atrapalhe o presente ou fira o futuro.
Não pretendas que alguém te conheça se tu não te conheceres.
Nós vivemos a vida sempre em busca da felicidade, quando a não procuramos, vivemo-la porque já a encontrámos.
Mas afinal o que é mesmo a felicidade? Quanto tempo dura ela? Quem nos dá a felicidade? Não te sei dar uma resposta porque as respostas são muitas e às vezes precisamos de uma para ter outras e é um nunca mais parar.
Tu sabes bem que a felicidade é uma coisa complexa e não se compõe só de uma coisa, é um somatório de muitos aspectos de vida.
Anda, me acompanha neste caminhar de chuvas palavreadas de entulho e confusões assimétricas, em lamas encardidas de sonhos aglomerados em fantasias.
Mas me acompanha rápido que hoje está difícil caminhar. Me tombo das pernas sem dar conta, que até parece vem vento traiçoeiro por de trás e me derruba num ápice.
Tu sabes que as caminhadas são feitas de escolhas, passos que se dão, pequenos no parecer mas que às vezes são grandes na vida. Diz-me só uma coisa, tinha havido outra hipótese de ter uma sombra que não fosses tu? Tinha eu alguma hipótese de ter um amor que nem esse que eu tenho? Era mesmo difícil matar esse sentimento logo que ele nasceu e assim eu tinha evitado uma série de caminhadas, adaptações e outras ões?
Anda, vamos ser felizes, e esqueçamos que eu queria falar-te de frases feitas!


Sanzalando

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amadeo souza-cardoso

22 de janeiro de 2007

Silêncios

Anda daí. Faz de conta eu sou o guardador dos silêncios. Ainda que te possa parecer estranho te digo que é uma tarefa muito complicada. Já viste a trabalheira que é compilar e classificar todos os silêncios que se produzem? Já viste o que é andar carregado de frasquinhos de cristal, nesta caminhada diária, tendo sempre um para cada silêncio? Uns serão de boca larga e outros de boca estreita. Uns para os grandes silêncios, outros para os sussurros. Uns para as gargalhadas não dadas, outros para os silêncios de amor. Uns para os silêncios de biblioteca, outros para os silêncios perversos. Uns para os silêncios tristes, outros para os silêncios convenientes.
Uma palete de fraquinhos de frágil cristal e estar atento. É mesmo uma trabalheira infernal.
Na verdade é ainda mais complicado porque enquanto eu te falo se produzem silêncios à nossa volta e não os posso perder.
Quando guardo um silêncio este brilha dentro do frasquinho de cristal para todo o sempre, como só as coisas únicas o fazem. Às vezes há necessidade de mudar de frasquinho, porque uma vez capturados, alguns silêncios são mutáveis e caprichosos, mudam de sentido.
Consegues acompanhar a minha passada labial? Eu sei que esta areia de mil cores às vezes nos atrapalha a marcha e se não fosse a orientação recebida pelas ondas do zulmarinho, nós nos perderíamos em gargalhadas ou em silêncios.
Sabes que quando um dia capturei um silêncio de amor, desses que são classificados ‘no que eu te queria dizer mas que nunca saiu dos meus lábios’, e quase o fechava bem rolhado, ele se transformou num silêncio triste e tive que o mudar para os ‘silêncios melancólicos’, e com toda a trabalheira das trasfegas que isso acarretou.
Todos os silêncios surgem sem aviso prévio, sem ruído e sem qualquer sinal, pelo que ao falar-te tenho de estar atento ao meu redor. Caminhar, falar e recolher silêncios. É verdade que eu já tive mais trabalho do que agora, o ruído vai ganhando terreno pouco a pouco e os charlatães começam a abundar.
Tu sabes que muitas vezes digo para mim que mal vão os tempos para o silêncio.
Olha, vou calar-me um minuto e vamos caminhar ao sabor dos passos.

Sanzalando

Para os que viram e para os outros também


amadeo souza-cardoso

21 de janeiro de 2007

Lua Cheia


Que bom te reencontrar neste dia com este sol de Inverno a nos aquecer. Anda caminhar a meu lado e com o teu ar sério me ouvir falar-te do que me vai na alma e noutros lugares de mim. Tu sabes que daqui a uns dias o inesquecível me vai acontecer. É mesmo isso que me acabas e ouvir. Alguma coisa de muito especial vai acontecer e depende de ti participar nela ou não. Se deixares de ser a minha sombra e eu passar a ser dessombrado passarás ao lado desta coisa ansiosamente esperada, por isso mesmo é melhor começares a te preparar que eu sei tu me tens-te sempre. Por agora não te digo mais nada, mas num brevemente não poderei caminhar contigo na beira deste zulmarinho, mas… noutros caminhos caminharemos.
Não tem nada a haver com esse ponto de futuro que eu estou à espera mas enquanto caminhamos eu hoje te falarei da lua, aquela bola redonda que estás a ver daqui, que dá voltas sobre ela própria e sobre a Terra para que a gente repare nela. Ela é assim como uma musa que inspira artistas, poetas e amantes. A Lua tem magia quando vista daqui, lhe olha ela a reflectir-nos a luz que recebe do Sol na sua silhueta vaidosa. Vês como ela tem magia. É bonita mesmo. Nos atrai como um íman e a gente parece não consegue deixar de lhe olhar. Mas tu sabes que se lá fosses lhe ias encontrar tremendamente seca e árida e nos ia desiludir.
Por tanto, sombra que me acompanhas nestas e noutras caminhadas, te digo que devemos manter sempre as distâncias para que tudo se mantenha assim mágico e belo. Há pessoas na nossa vida que são como a lua.


Sanzalando

Para os que não viram e para os outros também


amadeo souza-cardoso

20 de janeiro de 2007

Caminhos curtos de um sábado

Vamos caminhar neste universo paralelo, onde tudo está quieto num silêncio analítico.
Vamos saborear a maresia, vamos dançar a música das ondas, neste universo paralelo onde as palavras são exactas e bem doseadas, onde eu abraço as memórias de medos e angústias ancestrais. Nesse universo paralelo eu estou a salvo, a minha respiração descansa da ofegante sensação de viver mais um dia e o meu cérebro repousa das imagens dos filmes negros da vida.
Anda, vamos caminhar neste universo paralelo onde eu sou nuvem e não tenho idade.
Vamos caminhar neste universo paralelo de zulmarinho com perfume de rosas


Sanzalando

Para os que não viram e para os outros também


amadeo souza-cardoso

19 de janeiro de 2007

Me experimentando

Li isto. encaminhado pelo blog do Miguel ' A Minha Matilde e Cª ' , no blog Ministério da Soltura
Desafio a quem por aqui passa , a escrever um conto ou um poema, com as seguintes palavras:
FORMAS, DEGRAUS, ÁGUA, ESPELHO, SEXO, MORTE, PELE, ECO, RETALHOS, AUDÁCIA, TELA, NEGRUME, CAFÉ, GESTOS, NORTE, VOZ, VIDA, PEDRA, SENTIDOS.
Enviar para:tozribeiro@gmail.com

Vai daí parti para a experiência e saiu esta coisa:

De sem sentidos acordei. Morri? Não, a morte não pode chegar assim indolorosamente silenciosa. Simplesmente estava a dormir que nem uma pedra, fugido dos retalhos da vida, preso no negrume da consciência sem norte, vida sem audácia, gestos rotineiros do dia a dia, como uma tela pendurada numa parede branca em que todos os dias se olha e não se vê com olhos de ver, não se admira a forma, não se tem o eco de quem a pintou.Acordei com a mesma pele, admirei-me ao espelho, fiz gestos rápidos na vã esperança que o reflexo fosse mais lento. Acordei apenas de um sono profundo. Bebi um café e pensei em sexo.


Sanzalando

Para os que não viram e para os outros também


amadeo souza-cardoso

18 de janeiro de 2007

Me arrumando



Anda, senta aqui e repousa o corpo que a caminhada é longa e é necessário ter forças para lhe aguentar.
Tu sabes que há dias em que a gente se derruba por dentro. Sabes que hoje me olhei e no espelho e parecia uma dessas casas assim do tipo património mundial ou coisa mais pequena, em que só lá está a fachada e por dentro está assim é um vazio grande que enche qualquer espaço que parece está escondido dos olhos. É, parece o mundo desabou nos pés e a desordem se inundou-me. As recordações se amontoam sem qualquer ordem sobre a capacidade de pensar, que por sua vez se descola dos sentimentos. Misturei-te as ideias? Pois é mais ou menos assim que eu me baralho hoje nesta desvontade de caminhar e recuperar alguma força para continuar a caminhada.
As sensações desapareceram, todas menos a tristeza, que se fez senhora e dona do meu cérebro, dominando acções, reacções, gestos e palavras.
Pois é, tu sabes, que há dias em que eu mesmo me derrubo por dentro.
Assim como mais assim é mesmo melhor a gente se sentar nesta areia de mil cores, olhar o zulmarinho se baloiçando e ver se consigo pôr em ordem a desordem em que me arrumo e que faz um peso danado nos meus pés este desabar do mundo sobre eles.
Um a um vou-lhes organizar os pensamentos, as recordações e os sentimentos. Os que não me interessa ter porque são velhos, absurdos ou são aborrecidos deixarei enterrados aí num buraco que farei na areia. Assim, me reconstruirei por dentro e se verá por fora.
Sentes a brisa que sopra? Ela mesmo vai tapar esse buraco.
Olha bem para cima daquele monte de areia que fizemos numa das nossas caminhadas. Em cima dele está a minha indecisão. Como é pesada a brisa ainda não lhe conseguiu levar para longe. Olha ali rebolando contra o zulmarinho todas as palavras que eu nunca deveria ter dito. Agora vê sobre as ondas, como que boiando, os antigos amores como que não sabendo se vão ao fundo ou se voltam para terra para arrancar o que resta do meu coração.
Vês como é fácil a gente se arrumar por dentro e transparecer por fora?


Sanzalando

Para os que não viram e para os outros também


amadeo souza-cardoso

17 de janeiro de 2007

Ser comum é um destino

Agora que já sabes quem eu sou e mesmo assim me acompanhas neste caminhar sobre a areia das mil cores ouvindo o zulmarinho a se atirar sobre ela num espreguiçar de carinho.
Então vamos num vai e vem, às vezes à direita outras à esquerda, mesmo só dependendo se vamos ou vimos.
Pois é, não há nada mais comum que ser uma pessoa comum. Afinal das contas todos somos seres assim como comuns, mesmo aqueles que pensam que não o são. Estes, mais cedo que tarde, vão descobrir que, mesmo dentro do seu isolamento, são pessoas comuns como qualquer outro comum.
Pois é, gente comum é comummente confundida com gente comum. Quantas vezes essa gente ouviu alguém lhe dizer que lhe olhando fazia lembrar alguém que mais nem ele? Quantas vezes viu alguém com uma roupa igual que nem a sua e que você pensava era exclusiva pelo caro que lhe pagou?
Tás-me a ver a raciocinar comummente?
É que gente comum passa por situações comuns e que comummente são chatas. Filas de trânsito, filas dum banco, lojas cheias, filas na bomba de gasolina, filas nos autocarros e machimbombos.
Mas o mais comum é querer ter uma vida incomum e é comum ver as gentes chocadas com o incomum. Mas o choque dura pouco tempo pelo que as coisas incomuns afinal de contas são comuns.
O tradicional é comum assim como o original também o é comummente.
Mas neste comum momento que caminhamos num paralelo com a linha recta que é curva, tu te podes sentir assim como que com uma carência, ou com o coração fechado, ferido, endurecido pela vida, mas é comum olhares em volta e veres gente que ri, que está que nem feliz. E porque estas coisas são raras e ao mesmo tempo tão comuns, que eu, do alto da minha comum vulgaridade, não deixo de acreditar que o comum tem o seu valor.
É comum o sol se pôr.

Sanzalando

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amadeo souza-cardoso

16 de janeiro de 2007

Biografia 3 de 3

Vamos aproveitar este sol de Inverno e continuar a nossa caminhada? Tens os ouvidos carregados de atenção para me continuares a ouvir?
Pois então continuemos até ao fim que pode ser um começo.
Aos 25 anos a minha vocação e os meus amores andaram numa evolução com sentido que eu nem lhe tinha imaginado nem nunca os tinha esperado. Aconteceram risonhos e repenicados. Altos e baixos com muitos poucoas baixos.
O amor platónico continuou platónico. Outros amores foram crescendo e frutificando. A vocação descoberta se solidificou e os dias formaram semanas, estas meses e estes anos. Tudo corria como que sobre rodas numa auto-estrada.
Hoje falo através das letras, frequentemente e com uma paixão independente dos resultados, mesmo que nunca tenha planeado ser um orador de palavras encantadas e acertadas.
Falo através dum platonismo exacerbado. A primeira platónica paixão e a segunda eterna paixão platónica.
Da primeira paixão que te falo só posso continuar a falar porque passado tantos anos ela assim continua e não sei mesmo se o cabelo branqueou, se o peso exacerbou e se a gravidade fez efeito na coluna vertical e nariz empinado.
Da segunda, sombra eterna que me protege do sol, que me alimenta o dia, que me fomenta o sonho, que me energiza, te falo num constantemente que até parece é doença. Em forma de nostalgia.
As ideias amadurecidas e a incerteza dum querer e não poder se foram construindo num equilíbrio instavel de uma qualquer torre de cartas à espera de uma brisa mais forte, sem ser vento se quer.
Aos 50 resolvi reacordar de coração vazio de saudade e voltar aos anos atrás, quando não devia ter acordado por causa do nevoeiro da alma.
Me ouves ou adormeceste? Yah. Te entendi, queres ver bem o zulmarinho. Olha bem nele e vais ver que me vais entender no todo ou em parte.
Tenho um plano mas ainda não te digo qual é.



Sanzalando

Para os que não viram e para os outros também


amadeo souza-cardoso

15 de janeiro de 2007

Biografia 2 de 3

Estás com a devida atenção para me continuar a escutar ao som do zulmarinho se espreguiçar na areia?
De facto, contra a vontade e de verdade, decidi prolongar o meu crescimento até aos dezoito anos. Mas até chegar a essa idade parece que passou uma eternidade. As corridas no liceu, o santo sacrifício da saída da missa. O passeio rotineiro das 6 da tarde. A esquina do café e o café da esquina. Os amigos, poucos eram os que chegavam e partiam, sempre os mesmos. Todos vivíamos afinal na eternidade da espera dos 18 anos.
Aconteceu o esperado. Desejado por alguns e odiado por muitos. Mas aconteceu e ainda bem. Queria ter outra vez dez anos mas não consegui apagar o rasto do tempo e fiquei nos 18 anos. Daqui não saiu nem à força. 18 anos e nem mais um dia.
O meu avô decidiu isso e não é que cumpriu na véspera de arracar, adormeceu e ficou teimosamente. Homem decidido.
Quase todos os outros eles foram partindo, uns depois dos outros. Ela também lhe decidiram que vinha apanhar uns estudos e voltava mais tarde. Lhe fiquei com as chaves e prometi limpar e cuidar de tudo e quando ela voltasse estava assim como que igualzinho para melhor. Mas me esqueci de manter limpo o coração. Lhe deixei entrar por uma fresta uma tonelada da saudade. A forte torre dos 18 estava à beira da derrocada. Me ocupei do lado errado da vida. Escolhi o caminho mais longo e sombrio. Me politiquei, me aldrabei, me importei na importância de ser gente.
Acordei um dia, carregado da saudade que transbordava nos olhos em forma de lágrimas e decidi terminar de parar de crescer e desatei a crescer sem amarras, sem seguro. Um dia, acho estava nevoeiro, mas se não estava no céu estava na minha alma, arranquei de deixar tudo sem olhar para trás. Deixei-me entrar em efusão e o tempo não deixou de andar. Lhe procurei mais tarde mas era tarde de mais.
Outras correntes me tinham amarrado e eu sem resistência as deixei ficar.
Me deixa fumar um cigarro para eu deixar de ver este cinzento roupeiro que vesti a minha vida. Enquanto fumo estarei calado, e calado eu não penso e se não penso eu não vejo.


Sanzalando

dias que passaram


14 de janeiro de 2007

Biografia 1 de 3

Anda. Me acompanha neste caminhar lento de dias frios. Me ouve com os ouvidos de atenção, sem te esquecer de ouvir o marulhar, assim como se fosse um pano de fundo, porque para lá dele está o meu cantinho que me espera ansiosamente. Pelo menos eu espero assim.
Sabes, quando eu tinha quatro anos decidi que não ia crescer mais. Ficaria sempre com essa idade pois assim não ia esquecer mais como era o meu pai, quem era ele de verdade (hoje só sei dele de recordação apagada pelo tempo). Ia ter sempre gravada a sua voz, a sua gargalhada (será que ele gargalhava?), o seu rosto simpático, seu ar de matreiro, suas brincadeiras. Mas desconsegui cumprir essa decisão e acrescentei mais uns anos. Sete é mesmo o meu número da sorte (será que é? Nunca pensei nisso). Mas tudo continuou amarelo e eu que nada tenho contra o amarelo deixei os anos seguirem-se uns depois dos outros. O mundo dos adultos sempre me pareceu pouco atraente, havia muito realismo e pouco interesse pelo que eu via nos livros. Melhor mesmo é ficar nos dez. Ainda me lembro da voz, das gargalhadas, das matreirices. Fico nos dez. Nesta idade tudo é mais bonito, mais alegre, mais vida. Assim me pareceu.
Mas mais uma vez mais fui ultrapassado no querer pelos anos. Jamais eu conseguirei pensar e viver como um adulto, dizia-me tantas vezes que até decorei no até hoje.
Já viste que o fazer anos nos aproxima da morte. Mas bem lá no fundo eu queria ser maduro e continuar a ser criança e assim, quando eu decidisse que já tinha vivido tudo o que tinha para viver, envelheceria e apagar-me-ia num silêncio ensurdecedor.
Bem, mais uns centímetros davam jeito. Há que crescer mais um pouco, pensei eu do alto dos meus dez maduros anos. Mas não mais que uns poucos centímetros, pois eu quero aproveitar a minha roupa até a gastar, que a roupa maior é cara e não havia de ter dinheiro para comprar roupa de marca.
Me estás a acompanhar? Então te senta que eu depois te continuo a falar de mim nesta necessidade eterna de continuar a falar-te.


Sanzalando

Na linha 4


13 de janeiro de 2007

Rasurando os medos

Anda, vamos caminhar, ouvir o marulhar, sentir a maresia e falar. Falemos as palavras que nos vierem à cabeça, assim como que pinceladas feitas em cores garridas.
Tu sabes porque eu sei que o sabes, o medo faz estar a gente assim como que vigilante, pronto a agir ou reagir. Mas também sabes que medo a mais faz mal, parece assim cascata a escorrer no corpo que lhe deixa tenso e na esperança ansiosa de que alguma vai acontecer de errado.
Na verdade te digo que os meus maiores medos acabam sempre por acontecer e no fim de contas nada pode ser feito, mesmo que eu esteja preparado e já tenha imaginado todas as cenas e finais.
Por tanto o melhor é mesmo deixar de ter medo e assim nada acontece.
Mais um dia fora de jogo
Sanzalando entre Gondomar e o final do zulmarinho

12 de janeiro de 2007

Caminhar falando

Caminho nesta areia das mil cores, olhos postos para lá da linha recta que é curva. Às vezes caminho com o corpo, outras vai só mesmo o espírito que o corpo anda cansado. E tu sabes que eu enquanto caminho te falo. Mesmo que o meu caminhar seja parado. Caminho e falo não para fugir da vida, mas no contrário mesmo, para que a vida não me fuja. Neste meu caminhar. pouco importa para onde caminho desde que o final da viagem fique naquele ponto marcado com o X no mapa, procuro despertar-me sentimentos escondidos e imaginar uma vida diferente noutro espaço. O caminhar é algo mais que o transporte físico de um lugar para outro, é mais como que uma mudança dentro de mim. Eu preciso caminhar, recuperar as forças, energias, voltar a me encontrar, mesmo que confundido, choroso, triste. Eu preciso falar-te sem ser assim como que através das ondas deste zulmarinho, minha ponte. Preciso caminhar num abanar de inércia, na fuga da rotina, no encontro de mim perdido algures por lá.
Sim, eu sei que no findar deste caminhar ela me está lá à espera para me dar a sua magia, os 10 minutos de pôr do sol, o perfume de terra molhada.
Eu preciso caminhar e te falar, nem que seja num sussurro. Esperaste-me mais que o suficiente e só espero que a vida não me deixe escapar-te de mim.
Ainda não foi penalty.

Sanzalando

Ai meu anjo


11 de janeiro de 2007

Um dia na trave

Não, não é ainda hoje que eu caminho.
Adormeci nesta areia fofa de mil cores. Ao acordar fiquei assim como que engasgado por não saber onde estava. Olhei o céu, vi as estrelas e me pareceu ver um ramo de flores. Não sabia onde estava, mas estava acordado e feliz.
Não via mas lhe ouvia marulhar contra a areia na sua cadência arrítmica, no seu característico som de se espreguiçar sobre a areia de mil cores tingida de castanho molhado.
Desorientado, estremunhado, ramelento, me apeteceu caminhar até de encontro ao som.
Mas onde é que afinal estou eu?
Não, a viagem não tem a duração de um sonho. Ainda estou aqui afinal. Ainda não é o fim, ou o começo. Ainda não é dia zero.
Foi outro dia que bateu na trave.

Sanzalando entre Coimbra e Lisboa

Há dias


10 de janeiro de 2007

Necessário falar

Caminho nesta areia como se ela fosse uma estrada que me leva onde mesmo que quero ir.
Falo.
Que acontece quando falo?
Que importância tem um sorriso quando sorrio para um estranho?
Se saúdo alguém que não conheço isso tem alguma importância? Sucede algo de mais? Tudo é levado pelo vento e se não houver vento leva-lhe o tempo. Mas será que se causa um efeito relevante no estranho? Eu descobri que o melhor remédio para os males actuais é falar.
Por isso te falo, por isso me falo.
A gente se sente isolada, necessita que haja alguém que nos escute. A gente precisa receber um pequeno sorriso, um olhar de atenção. A gente precisa de sinais.
Ouves o marulhar deste zulmarinho a se espreguiçar na areia, sentes o perfume de ar que se entranha no teu corpo? Sou eu na voz do zulmarinho a te falar, a te acariciar.
Quando suceder eu não te estar a falar, agarra numa concha, lhe põe no ouvido e me escuta. Se olhares à tua volta e não me vires, olha no zulmarinho e vê que aquelas nódoas brancas de ondas que não chegaram na areia, te lembra que sou eu que pairo algures por ali.
Se entrares na rotina diária escuta as pessoas à tua volta, porque uma das vozes pode ser a minha. Se alguém, desconhecido, assim sem mais nem menos te sorrir, te lembra só que esse sorriso foi eu que lhe pedi para te dar.
Um remoinho de sensações pode acontecer quando te confessares a tua solidão num desconhecido, porque fui eu, vindo surfando na crista de uma onda que te entrei e te obriguei a falar assim num à toa.
Falei, porque te desconheço melhor terapia.
Outro dia passou no vão da escada.

Sanzalando entre Pinhel e Gouveia

estou semeando plantas


9 de janeiro de 2007

Mais um dia

Um dia. Só um dia. Mais um dia. Tudo pode acontecer no dia em que decido soltar a angústia, rodear-me de ruídos, e gritar donde nunca devia ter saído.
A maresia, o marulhar, as ondas que me abraçam num abraçar violento. Caminho de olhos em corpo sentado virado para o horizonte.
Espero a ponte.
Mais um dia.


Sanzalando ainda na Guarda

Não basta


8 de janeiro de 2007

Ao 7º dia

Ao 7º dia tinha de acontecer. Foi, me disseram, assim antes, é assim agora que este seu sei.
Assim ao 7º dia do ano de noves fora é zero que eu fiquei afónico e o sol se apagou. Não caminhei na areia das mil cores, não te falei as coisas que as ondas do zulmarinho me contam, não te vi, sombra insuportavelmente companheira de todas as horas.
Ao fim de tanto tempo fiz uma pausa de te falar, fiz uma pausa de te ter a meu lado. Sobreviveste. Eu caí no labirinto da espera. Sei que te pedi ajuda que nunca podias dar. Te treino para aqueles dias que vão chegar e sem eu saber se te poderei falar, te poderei contar as coisas que ouço no início do zulmarinho.
Faço X num calendário imaginário. Um dia depois de outro até ao dia que começo do zero.
Ao 7º dia não tenho a certeza do diz 0. Sei que ele vai existir não tarda nada. Mas perdido no labirinto eu não lhe consigo ver.
Ao 7º dia me sento frente a um poster do zulmarinho e aguardo recuperar a voz e poder ouvir as mukandas qua ainda me vão chegar do início do zulmarinho, enquanto não contarei as coisas ao contrário, as novas do final do zulmarinho ao final dele mesmo, sem tirar nem pôr.
Te baralhei?
Ao 7º dia é natural que isso aconteça.

Sanzalando na Guarda

Saudade infinita


6 de janeiro de 2007

Labirinto

Aqui estou há horas. Até parece caminho num labirinto. Me sinto cansado porque caminho e parece não saio do mesmo lugar. Estou cansadamente tonto. Mas não posso desistir pois parece já estou mesmo perto da saída. Tenho de caminhar mais um pouco. A minha respiração ofegante não me deixa ouvir o barulho do mar, meu nariz entupido não me deixa sentir a maresia. Acho mesmo vou-me sentar e ficar a olhar esse azul ondulado de branco. Logo, mais logo vai ficar escuro e eu não quero estar ainda neste labirinto. Por isso não me sento e descanso.
Acho mesmo vou-me deitar na areia das mil cores e esperar. Durmo, acordo e caminho. Tantas vezes as que forem precisas. Preciso mesmo é chegar ao fim deste labirinto. Nem que para isso eu tenha de ser arrastado por mim.
Me ouves na respiração? Me sentes no caminhar? Me ajuda mais então.
As pernas me doem e tu não me levas ao colo. Sombra que me segues mesmo na noite de luar, serves mesmo só para me ouvir. Olha lá e se eu me calasse para sempre ias fazer mais como então? Me ajuda a chegar ao fim deste labirinto que está quase quase a acabar.
Ouves o zulmarinho a te gritar para me ajudares? Uê, que até pareces tás surda.
Também te digo que quando eu sair deste labirinto tu não vais mais comigo. Arranjo outra sombra e pronto.

Sanzalando em Guimarães

rua onze


5 de janeiro de 2007

Difícil não é fácil



Como esse zulmarinho sábio me diz o difícil não é fácil. E não é fácil caminhar quando as pernas não querem nem andar, nem mexer para sentar. Parece mesmo elas têm vontade própria e hoje tiraram o dia para contrariar. E depois, a voz doce desse mar salgado e que parece está com toda a agitação de quem gostou de me ver, como que me abafa a voz e me deixa num preguiça de gritar para me ouvir. Assim sendo não é fácil nem falar. Vou fazer mais como então? Pensar e deixar-te ler o que eu penso? É, hoje é mesmo isso que eu vou te fazer.
Me desculpas de te provocar esse exercício mental?

Sanzalando

tirania


4 de janeiro de 2007

Hoje é dia de correio

Me sento. Olho o zulmarinho. Já lhe vi com dias mais calmos. Hoje até parece ele me quer agarrar. Se atira na areia até parece estar zangado com a terra que lhe limita. Logo hoje que eu tenho paz dentro de mim. Mas lhe olho fixamente como quem procura-lhe os olhos para lhe olhar na alma.
Nem dei por tu te sentares aqui do meu lado esquerdo neste pôr-de-sol. Forma esquia espreguiçada na areia.
Te mostro para que vejas as duas cartas que recebi hoje. É. Parece hoje foi dia de correio. Uma lês depressa porque só diz ‘concedido pelos poderes que me são delegados’. Seguem-se quatro assinaturas. Não te diz nada? Pois olha só que esta frase a mim diz mais que muito, que até quem me olhou parece tinha ganho um prémio grande de Natal.
Bem, a outra, enviada pelos Três Reis Magros. Assim mesmo está no remetente. Tu sabes que eu não te minto. Te posso omitir as palavras porque sei que me vais lê-las dentro da minha cabeça. Nesta tu vais gastar muito mais tempo porque é uma carta divinalmente bela. É tão bela que eu posso escrever aos Três Reis Magros uma simples palavra ‘Obrigado’ que eu sei eles vão entender mesmo tudo o que representou essa missiva.
Portanto, sombra da minha existência, hoje é mesmo só dia de olhar para este zulmarinho revolto. Mas acho ele está assim porque é ele a me mostrar a sua alegria pela minha alegria.

Como vês, o carteiro vem sempre duas vezes.

Sanzalando

com arte em toda a parte


3 de janeiro de 2007

Ao terceiro dia

Me sento e descanso. Este ano ainda não estou com vontades de caminhar. Quero mesmo ficar só a admirar esse zulmarinho que mais não é que a minha ponte. Já sei que sendo assim tu também te sentas a meu lado, ou não fosses tu a minha sombra. Teus ouvidos são como duas antenas sintonizando a minha voz. Sempre com a esperança que eu te fale coisas.
Como ainda estamos no terceiro dia eu ainda só vou tendo recordações do ano passado. Pois é, ainda estamos na na altura de de olhar o passado e ver o futuro. Mas desde já te digo que de 2006 eu quero é mesmo muita distância. Para mim e para muitos que lhes conheço, 2006 simplesmente não existiu, foi ano que não aconteceu. Esse ano apenas me trouxe três coisas boas: teve doze meses que lhe vivi; nesse ano tomei medidas que deviam ter sido tomadas faz mais que muito tempo; e mais outra coisa que nem a ti eu digo.
Mas mesmo não existindo o 2006 eu me pergunto o que aprendi com ele?
Perco horas a pensar nisso e ainda não consegui dar-me uma resposta audível e perceptivel.
E quais são as coisas que eu me preciso perdoar e ainda não o fiz?
Já sei que a gente só se lembra das coisas que magoam. Tudo o resto parece é normal e a gente esquece, assim como que apaga um quadro negro da escola primária.
Bem, mas mesmo melhor é entrar neste novo ano com uma nova pele, faz de conta a gente é serpente, e deixar a pele velha mesmo para trás.
Bem, eu vou é reflectir. E isso de reflectir não tem nada a ver com o reflexo que a gente vê quando se olha no espelho. Tem que medir, pesar, ponderar e meditar.
Quando me olho no espelho o que é que vejo?
Bem, isso é mais uma pergunta e eu tenho de sair, deixar-te o zulmarinho e ir ver o mundo de um outro lado.
Olha bem que eu vou ali, um dia destes, e já volto.


Sanzalando

Oh Angola, dor mansa e bruta


2 de janeiro de 2007

Conta-me uma estória

Anda, senta-te comigo e olha para longe, mesmo onde os teus olhos já não conseguem ver.
Hoje eu calo-me no meu silêncio e quero que me contes uma estória. Quero ficar aqui encostado a ti e ouvir-te nessa calma esponjosa e voz cor de água. Deixa fluir-te pelas frestas do desejo, com sentimento e te desdobra nas lágrimas que te vou chorar.
Vamos, conta-me uma estória.
Conta-me a estória dos teus perfumes, da tua essência, das tuas estrelas, dos teus pôr-do-sol.
Anda lá. Conta-me uma estória enquanto podemos estar aqui sentados no final do zulmarinho nesta mistura de Inverno e sol.
Conta-me a tua estória!
Sanzalando

do ser e não ser


1 de janeiro de 2007

2007 - reflexão

Se tudo vai mudar, reclamar pra quê?
Na maioria das vezes são as pequenas coisas, que muita gente nem percebe e eu observo e sinto, que me fazem tomar decisões e fazer escolhas. E se, por mais que eu tente, um determinado comportamento não muda, então não tem mesmo jeito.

É só esperar o desenrolar de 2007

Sanzalando

O sol nasce a oriente