recomeça o futuro sem esquecer o passado

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15 de janeiro de 2007

Biografia 2 de 3

Estás com a devida atenção para me continuar a escutar ao som do zulmarinho se espreguiçar na areia?
De facto, contra a vontade e de verdade, decidi prolongar o meu crescimento até aos dezoito anos. Mas até chegar a essa idade parece que passou uma eternidade. As corridas no liceu, o santo sacrifício da saída da missa. O passeio rotineiro das 6 da tarde. A esquina do café e o café da esquina. Os amigos, poucos eram os que chegavam e partiam, sempre os mesmos. Todos vivíamos afinal na eternidade da espera dos 18 anos.
Aconteceu o esperado. Desejado por alguns e odiado por muitos. Mas aconteceu e ainda bem. Queria ter outra vez dez anos mas não consegui apagar o rasto do tempo e fiquei nos 18 anos. Daqui não saiu nem à força. 18 anos e nem mais um dia.
O meu avô decidiu isso e não é que cumpriu na véspera de arracar, adormeceu e ficou teimosamente. Homem decidido.
Quase todos os outros eles foram partindo, uns depois dos outros. Ela também lhe decidiram que vinha apanhar uns estudos e voltava mais tarde. Lhe fiquei com as chaves e prometi limpar e cuidar de tudo e quando ela voltasse estava assim como que igualzinho para melhor. Mas me esqueci de manter limpo o coração. Lhe deixei entrar por uma fresta uma tonelada da saudade. A forte torre dos 18 estava à beira da derrocada. Me ocupei do lado errado da vida. Escolhi o caminho mais longo e sombrio. Me politiquei, me aldrabei, me importei na importância de ser gente.
Acordei um dia, carregado da saudade que transbordava nos olhos em forma de lágrimas e decidi terminar de parar de crescer e desatei a crescer sem amarras, sem seguro. Um dia, acho estava nevoeiro, mas se não estava no céu estava na minha alma, arranquei de deixar tudo sem olhar para trás. Deixei-me entrar em efusão e o tempo não deixou de andar. Lhe procurei mais tarde mas era tarde de mais.
Outras correntes me tinham amarrado e eu sem resistência as deixei ficar.
Me deixa fumar um cigarro para eu deixar de ver este cinzento roupeiro que vesti a minha vida. Enquanto fumo estarei calado, e calado eu não penso e se não penso eu não vejo.


Sanzalando

1 comentário:

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