recomeça o futuro sem esquecer o passado

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14 de janeiro de 2007

Biografia 1 de 3

Anda. Me acompanha neste caminhar lento de dias frios. Me ouve com os ouvidos de atenção, sem te esquecer de ouvir o marulhar, assim como se fosse um pano de fundo, porque para lá dele está o meu cantinho que me espera ansiosamente. Pelo menos eu espero assim.
Sabes, quando eu tinha quatro anos decidi que não ia crescer mais. Ficaria sempre com essa idade pois assim não ia esquecer mais como era o meu pai, quem era ele de verdade (hoje só sei dele de recordação apagada pelo tempo). Ia ter sempre gravada a sua voz, a sua gargalhada (será que ele gargalhava?), o seu rosto simpático, seu ar de matreiro, suas brincadeiras. Mas desconsegui cumprir essa decisão e acrescentei mais uns anos. Sete é mesmo o meu número da sorte (será que é? Nunca pensei nisso). Mas tudo continuou amarelo e eu que nada tenho contra o amarelo deixei os anos seguirem-se uns depois dos outros. O mundo dos adultos sempre me pareceu pouco atraente, havia muito realismo e pouco interesse pelo que eu via nos livros. Melhor mesmo é ficar nos dez. Ainda me lembro da voz, das gargalhadas, das matreirices. Fico nos dez. Nesta idade tudo é mais bonito, mais alegre, mais vida. Assim me pareceu.
Mas mais uma vez mais fui ultrapassado no querer pelos anos. Jamais eu conseguirei pensar e viver como um adulto, dizia-me tantas vezes que até decorei no até hoje.
Já viste que o fazer anos nos aproxima da morte. Mas bem lá no fundo eu queria ser maduro e continuar a ser criança e assim, quando eu decidisse que já tinha vivido tudo o que tinha para viver, envelheceria e apagar-me-ia num silêncio ensurdecedor.
Bem, mais uns centímetros davam jeito. Há que crescer mais um pouco, pensei eu do alto dos meus dez maduros anos. Mas não mais que uns poucos centímetros, pois eu quero aproveitar a minha roupa até a gastar, que a roupa maior é cara e não havia de ter dinheiro para comprar roupa de marca.
Me estás a acompanhar? Então te senta que eu depois te continuo a falar de mim nesta necessidade eterna de continuar a falar-te.


Sanzalando

3 comentários:

  1. Hoje de manhã senti a tua falta.. Fui tomar café àquele bar do HBA, a música tocava viras e demais «modas»e lembrei-me de quando entravas a dançar.. Lembras-te?

    De certeza que por onde andas os viras da vida são diferentes e quiçá melhores
    TT

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  2. Pus em dia a leitura do blog. Espero agora o resto da biografia. Gostei imenso da nº 1...
    WF

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  3. Como eu entendo esta desvontade de crescer. Às vezes escuto falas dos miúdos:

    - A são não é bem uma pessoa grande pois não?
    - Ela é quase mas não é bem.
    - É. Deve de ser pessoa grande com cabeça e cara de minino piqueno.
    - É por isso que o people lhe gosta bué.

    E o que eu disfruto quando posso ser essa eu ...

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