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27 de fevereiro de 2007

O Céu que bem podia esperar

Eram 8.30 da madrugada, porque me apetecia ficar estendido no colchão, ar convencionado nos 18 graus, papo no ar e curtir a fluidez dos pensamentos, quando tinha mesmo que sair porque combinado estava combinado e eu não sou de faltar nas combinações, mesmo que agora não se usem mais assim como os saiotes. Acho que me saltou o pensamento para outros caminhos além dos que estavam alinhavados na raiz dele mesmo. Mas até amanhã, a manhã que se pode prolongar pela tarde, está combinada num programa apertado que faz esquecer o estômago que as horas são de lhe meter qualquer coisa lá dentro. E assim, dizia eu, eram 8.30 quando meti as pernas a caminho.
Mas cinco minutos depois, se é que passaram assim tantos minutos, o céu desatou a chorar sobre mim que, num atravessar de rua, faltou mesmo só o sabão e o champô. Eu e mais umas quantas dezenas de outros anónimos peões, aproveitamos o alpendre de um banco e ali estivemos mais que 60 minutos, à espera que o céu deixasse de me chorar em cima.
A quantidade de lágrimas caídas trouxe outro problema para eu resolver. Como vou caminhar sem levar com um banho dado pelos carros até parecem fazem de propósito, no andar de pressa nas ruas transformadas em rios?
Mas combinado está combinado e não há como descombinar, pés a caminho e se espera o milagre de eu me transformar em Moisés e esperar que a água se separe na minha passagem. Mas a transformação não se deu e lá fui usando os sapatos como botes e na meia hora seguinte eu estava lá, com mais de uma hora de atraso. Sem maka. Se começa mais tarde e se acaba mais tarde.
Com gosto e com prazer as coisas se vão fazendo e nas 15 horas o estômago estava a gritar de vazio, mas o sorriso estampado no rosto fazia não o parecer. Todos, que não era só eu.
Comemos lá mesmo a comida requentada num micro-ondas e te vou dizer que não é que parecia mesmo acabadinha de fazer e que bem que soube.
Mais um dia em que sinto que ganhei o céu da terra. Com gente boa a gente se sente mesmo bem.
Agora, acho mereço o meu descanso de hoje.

Sanzalando

2 comentários:

  1. Não sei se as lágrimas que caíram, nos 60 minutos, dos céus de Luanda não serão as lágrimas de todos aqueles que já sentem saudades de não te ter. E agora? Como ficamos? Mais pobres do que antes, de certeza! Mas a culpa não é tua, nem minha, nem de ninguém. A culpa é de quem não tem a sagrada esperança de sonhar num mundo melhor. Fico aqui a ver o tempo passar e não poder, ou não querer(?), fazer nada. Cumplice contigo aguardo o sol grande como o mundo para brilhar na terra que (não) nos quer. Um abraço solidário

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  2. Na verdade, aqui seria muito bom uma chuvarada dessas, porque o calor tá demais...

    Um grande abraço, amigão!

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