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5 de março de 2007

Espelho da vida

Enquanto olho o céu à espera do meu nascer do sol vou vendo filmes mentais, filmes de autor, com a particularidade de estar sempre a mudar de cenário, de enredo e de cor.
Há alturas da vida em que a vida nos coloca um espelho à frente para que nos possamos ver. Nesse espelho podemos ver-nos. Quantas vezes não lhe damos conta, não nos olhamos e não nos vemos.
Faz pouco tempo, sentei-me no meu banco de jardim, não para ver borboletas, não para apanhar banhos de sol. Simplesmente porque às vezes apetece-nos estar connosco e não encontro melhor sítio que um simples jardim público.
Reparei que noutro banco estava alguém que me parecia familiar. Procurei rever todas as faces conhecidas e não havia uma que correspondesse. Porém eu continuava a teimar-me conhecer aquela cara de algum lugar. Talvez fosse dum filme. Na verdade era-me familiar, penso eu. Apeteceu-me meter conversa pois achei que seria agradável ter uma conversa com esse desconhecido mas familiar. Reparei então que ele, sozinho no seu banco não parava de falar.
É verdade que eu às vezes também falo sozinho, mas de uma maneira contida e não perceptível para outras pessoas, porque nunca em lugares públicos.
Fiz um esforço para lhe ouvir e entender. Nada percebi. A sua língua parecia-me adormecida, se calhar por efeitos de álcool em excesso, coisa que vista aquela distancia mão me parecia. Se calhar por efeitos da medicação de algum psiquiatra.
Sei lá, também não me apetece estar a fazer conjecturas que nunca poderei corrigir.
Se calhar era um génio debaixo daquela capa de extravagância. Se calhar estava a resolver um problema terrível da humanidade, teria encontrado a solução e estava ali a divulgar publicamente. E eu que não conseguia entender as palavras que aquela boca dizia.
Ele continuava sozinho no seu banco e eu sozinho no meu. Lhe olhava e não me cansava de procurar no meu arquivo mental uma cara que fosse igual àquela que ali, com sapatilhas novas de barata marca, não parava um instante no seu infindável discurso.
Será que era um momento da vida em que me via ao espelho?

Sanzalando

1 comentário:

  1. Viva Carlos:

    Viver é inventar o dia.
    É constantemente redescobrir as coisas belas da vida,
    lembrando que o sorriso é o idioma universal.
    Ouvir músicas que acalmem a alma.
    Desacelerar e aproveitar o tempo,
    cada pequeno momento de prazer.
    Viver é... simplesmente ver
    a vida com o coração.

    Boa semana.
    Um abraço,

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