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5 de dezembro de 2010

gelado mar calado

Janela sardenta de pingos de chuva me separam deste mar que teima em estar calado nos segredos que tem para me contar. Eu sei que ele tem vezes, muitas, que me faz sofrer só para me ver triste. Quem é que pode compreender um mar? Esse mar que esconde segredos que nem à lua, está ali revoltado parece eu tenho culpa de ele estar quase gelado e a outra parte dele quase a ferver. Por isso estou deste lado da janela aquecido pela lareira da esperança, mimado pelas gotas de chuva que rolam nos vidros e parecem são lentes de ver ao longe mais perto.
Vou mordiscando os meus dedos mostrando uma timidez enquanto observo o mar e me deixo levar para a minha rua, para o meu café, para minha mesa onde os kotas toleram a minha presença porque sabem um dia eu vou contar as estórias que lhes ouvi ou fingi ter ouvido.
Vou torcendo o lábio enquanto penso nelas, as meninas formosas da minha escola que nunca me olharam mesmo quando me falavam. Eu sei que tinham medo dum susto ou que um dia eu lhes podia dizer o nome em voz alta.
Vou fechando os olhos enquanto me embalo na cadeira de balouço feita de aduelas de barril que estava na minha varanda, qual meu posto de controlo.
E o mar gelado continua calado no que tem para me contar. Um dia, ele vai querer falar e eu não vou estar aqui para lhe escutar, nem para me recordar desses tempos todos que guardei na memória de adolescente que se esqueceu de crescer.

Sanzalando

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