recomeça o futuro sem esquecer o passado

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7 de dezembro de 2010

flash

Abrigado da chuva e vento olho esse mar grande que está branco de raiva espumante e faz barulho que até me assusta. Nos separa um frágil vidro. Simples obstáculo transparente encardido que com um ligeito toque se esfrangalha em cacos pelo chão. Já sei, estou eu nos meus filmes de antes de entrar a verdadeira acção, se é que algum dia a vou ter.
Mas na verdade nem apanho chuva, nem me despenteia o vento e nem eu tremo de frio. Tremo apenas de medo que alguma onda mais revoltada me venha desassossegar. 
De repente tive um flash, me veio à ideia a morena alta, a que no verão veste biquini azul e que no inverno passeia todas as seis da tarde pelas ruas da cidade. E nesta imagem ela sorria, o que me fiz sorrir atrás da minha timidez e escondendo a vergonha de que alguém me visse sorrir num nada. Mas ali estava ela, superior às ondas, indiferente à chuva e ao vento e algum trovão que ouvia vindo lá de longe. Sempre altiva, a moça.
Dei um passo atrás como que a dar espaço para a conseguir ver de corpo inteiro. Meus olhos me estavam a mentir. Ela não estava ali. Fora apenas um flash de recordação.
A chuva é real como o é o vento e o mar revoltado. O resto é a minha memória a se confundir num retrocesso mental, na doce loucura de voltar a ser jovem, na minha rua, no meu lugar de ser feliz.

Sanzalando

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