Juro que queria que fosse fácil manter uma pose desinteressada. Juro e que nada, repito – nada, me faria mais realizado do que ser um típico calculista, aparentemente frio e com o ego sempre lá em cima, a roçar o céu. Ou que ao menos tivesse uma certa mestria para fingir ser possuidor dessa realidade.
Só que eu infelizmente, não sou uma dessas pessoas. Tudo o que faço é sempre sentido, pensado, repensado e lamentado. Tudo no que me fui tornando foi só um somatório de ações ao longo dos tempos, que para falar a verdade, eu nem me lembro que acontecerem, não recordo as cicatrizes nem as luzes brilhantes.
E depois as pessoas me dizem que só vou enrugando a cara e deixando doer a dor insensível e invisível, até que um dia olho para trás e não me reconheço. Nem consigo localizar o tempo da minha vida em que deixei de ser eu.
Não existem grandes motivos na lembrança para a mudança, só sei que foi um grande ajuntamento de coisas e que acumulados, eles me fizeram me fechar e fechar gradualmente.
Quando a nostalgia bate tento voltar ao que era, mas tal não é possível, mesmo tentando muito, porque quando esta carcaça se instala, é praticamente impossível me livrar dela. Ela mora em mim num para sempre, como a fazer me lembrar do quanto ter acreditado demais me fez me tornar o que sou hoje.
Claro que isso nem é de todo ruim, mas as vezes sinto falta do que já fui, penso que se nada tivesse me obrigado a ser diferente, tudo pareceria mais fácil e grande parte dos seus problemas estariam resolvidos e é aí que a gente se perde uma e outra vez.
Nalgum lugar dentro da febre desta versão ainda existe o outro eu, que grita esporadicamente para que volte para ele. O outro eu já cá mora há muito tempo, já se apoderou deste corpo, de tudo que construí e idealizei e aí se parar para pensar e pesar e comparar... tem muito mais de mim com esta nova versão do que com aquela que sinto tanta falta.
É nessa hora que entendo que a vida me fez assim, a vida me cobrou esse preço para conquistar o que tenho hoje, para me ter livrado do que por muito tempo, colocava aquele meu outro eu para baixo, não dá para voltar. aí você continua remando.
Sanzalando