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16 de agosto de 2006

Hoje não é sexta-feira

Caminho num passo incerto, olhos fixos no vazio da multidão que me rodeia. Falo num sussurrar que só tu me podes ouvir. Os dias são diferentes ou a gente é que acorda diferente? Hoje, ainda sentado na poltrona de rocha esculpida pelas forças zangadas do zulmarinho nos seus dias maus, aninhado com meu pensamento navegante, dei por mim a falar sozinho em pensamento devagar divagando. Pensei em tantas coisas que nem vou conseguir falar-te tudo aqui e agora. Se é que alguma vez consigo lembrar os passeios que faço nos sonhos.
Te começo por resmungar porque hoje ainda não é sexta-feira. Queria que já fosse sábado ou outro dia qualquer que não o de hoje.
Na verdade não queria que aquele momento acabasse no momento em que me pus a caminhar. Estava tão bem ali sentado navegando nas ondas do pensamento, uma manhã fresca, um aconchego no silêncio da manhã acabado de ser interrompido pela avalanche de gente que busca a pele morena na força de estar num deitar ruidoso de absorção dos raios desse sol que quando nasce deva ser para todos. Mas hoje é hoje e contra isso desconsigo de fazer alguma coisa. Obedeço ao calendário e me vou preparando para encarar mais um dia de vida, do jeito que ele tem que ser.
Esta é a necessidade de improvisar, fazendo dar certo um sonho que sonho acordado. Esta é a capacidade de fazer valer os meus pergaminhos na certeza de um dia estar onde está o conteúdo do meu coração.

Sanzalando

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