A Minha Sanzala

no fim desta página

29 de agosto de 2006

Platão e eu

Caminho com ar de erudito e me ponho a falar-te de Platão. Esse mesmo, o grego que escreveu a Alegoria da Caverna. Acho que é o texto mais conhecido dele. Não sei, porque não lhe conheço muitos. Mas esse conheço e lhe gosto.
Tem pessoas que vivem anos a fio dentro duma caverna e só vêem as sombras da realidade, pois para além de estarem acorrentadas, estão ainda de costas voltadas para a abertura da caverna. Assim a visão delas é totalmente ofuscada, já que a única luz que conseguem ver é projectada pela sombra de uma fogueira que vem desde a entrada da caverna. Se habituaram a isso e se alguém conseguir sair da caverna e descobrir a existência do sol, voltar dentro da caverna e contar a realidade que viram, ele será, na opinião de Platão, morto. Os que estão dentro da caverna não vão acreditar no relato daquele que conseguiu sair.
Me estás a acompanhar? Me consegues seguir neste dia de coisa erudita? Se não conseguires, deixa estar que eu te explico.
Quando nos escondemos na caverna do nosso eu e fechamos os olhos às coisas que acontecem à nossa volta, porque essas coisas perturbam, mostram a dura realidade de um mundo frio, criado por pessoas que se fecham dentro de si mesmas, para se esconderem do medo que sentem, da falta de iniciativa, achando que nada tem a ver com as crueldades que acontecem, com aqueles que passam necessidades, com as vítimas de toda espécie de violência, com todas as guerras, com a fome, a falta de sistemas de saúde, de educação, de casa para morar; de justiça, com pessoas que sofrem perseguições, com aqueles que estão a necesitar de uma ajuda, mesmo que seja apenas uma palavra encorajadora estamos indo contra o projecto de felicidade individual.
Quando vivemos nesta caverna nos cavernamos. Passamos a ignorar a beleza das coisas neste mundo que é nosso. Vivemos só da sombra, como os personagens de Platão, não querendo saber da existência do sol que há lá fora, pois quando há luz se vê com clareza a lixeira que está à nossa volta e lixeira é coisa que incomoda muito. Ver com clareza significa contemplar as maravilhas deste mundo. Mudar significa ter no mínimo a coragem para enfrentar a opinião daqueles que nos querem moldar à sua maneira, teremos que ir contra e para isso é preciso muito esforço e firmeza.
Sol é luz forte e nós somos um espírito de luz e quando a gente se afasta dessa luz a gente se afasta da gente mesmo.
Tá na hora de mostrar a luz , de sair da nossa caverna e levar os nossos sonhos avante, nem que a gente tenha de nadar esse zulmarinho todo até no outro lado, até no início dele, olhar na lixeira e ver que pode ser limpa, olhar na nossa volta e iniciar uma cruzada que no seu início pode ser molhada mas depois ficará o sal que tempera uma vida, uma estória, uma herança.
Está a chegar a hora. Tem de estar.
Me acompanhaste? O teu silêncio perturbante me deixa sempre nessa dúvida.

Sanzalando
Posted by Picasa

Sem comentários:

Enviar um comentário

recomeça o futuro sem esquecer o passado