Me sento junto a ti e nem tenho tempo de te olhar.
Falamos um tempo indefinido de assuntos de nada como dois loucos que têm tanto para dizer e o tempo escasseia. Permanecemos em silêncio como que a querer absorver com lentidão o que sofregamente foi falado.
Não sabemos quando voltaremos a estar juntos outra vez, porque não sabemos qual o nosso destino.
Encontrar-nos-emos numa qualquer ocasião, num qualquer lugar, com o mesmo sorriso e com o mesmo olhar. Me disse um velho sábio e se ele disse é porque é verdade. Ou se não foi quem disse foste tu que falaste por ele, o que vem a ser a mesma coisa aqui para mim.
Dissemos tanta coisa e não podemos fazer uma fracção dela. Um passo que se segue ao outro sem sair do mesmo lugar. Razões estranhas, razões distantes, razões internas, razões sem razão.
A verdade mesmo é que é necessário estarmos sentados e falarmos, mesmo que não haja tempo para troca de olhares. Não pode ser só momentos de felicidade instantânea. Não pode haver só despedidas, lenços brancos a acenar e lágrimas caídas numa leveza insustentável.
Não é tempo de fantasias porque daqui a pouco tempo o tempo termina. A tua partida, a minha fuga, o nosso voltar de olhos secos e palavras surdas. Não há tempo de fantasiar desencontros. O velho sábio disse e se ele falou está escrito algures num sítio qualquer.
Não há tempo para recordações quando pouco tempo sobra para a realidade.
Não há tempo para a falta de tempo.
Não faz sentido alegrar a vista, saciar a alma em paralelas palavras que te falo e te recordo. Não faz sentido desligar a televisão da realidade e fantasiar filmes de imaginação.
Não faz sentido procurar caminhos quando as estradas estão feitas, os mapas actualizados e as coordenadas definidas.
É o Destino que destina-me.
Sanzalando