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8 de julho de 2012

aqui, na ponte velha

De tanto cacimbo que faz eu já estou rouco de imitar farol. Daqui a pouco a minha garganta vai ter calos e não vai conseguir usar voz melodiosa para dizer coisas de amor. Terei mesmo é que desfazer os nós das gargalhadas e as encruzilhadas das palavras doces. Com esta voz como eu vou conseguir rimar os poemas de amor, saudade, dor e ansiedade?
Aqui na ponte velha, na carcaça da ponte mais velha que a idade de alguém que eu conheça, em silêncio para deixar descansar a garganta, escrevo na memória rimas bobas com dedicatória na contracapa e sorriso nos olhos.
Daqui olho para onde não vejo mas sei que fica um pouco a dar ao longe, sentindo-me raquítico decido que sou crescido de mais para continuar a amar com tanto amor e me deixar atormentar o sono por coisas bonitas de sofrer.
Aqui, pé ante pé, tábua seguida de buraco, na ponte que já foi tudo até ponto de mergulho, me atiro de cabeça para palavras bonitas, lhes lanço uma guita, lhes dou um nó bem apertado e as atiro na memória para numa beleza futura, embrulhada em sorrisos e olhos brilhantes e voz descansada, buscando forças inimagináveis, as dizer num fôlego como se fossem palavras bonitas acabadas de escrever.
Daqui, num aqui que é agora, declaro com a minha voz rouca de imitar farol, que quero que as minhas poesias não valem um tostão e que todas as metáforas são obras do diabo.
Aqui, na ponte velha que sempre me meteu medo, liberto-me de abraços fracos e pinto de cinzento os arco-íris dos dias de nevoeiro que cai sobre a minha cidade, em troca duma obra prima que ainda não escrevi.


Sanzalando

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