recomeça o futuro sem esquecer o passado

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27 de julho de 2012

liceu de memória

Percorri vezes sem conta os compridos corredores do meu Liceu. Também lhe abri janelas para entrar sem me verem, ou sair, fugindo de aulas, sem que o stôr saber. Neste liceu conheci gente marcante, importante e outros inesquecíveis. Hoje me sento frente a uma fotografia e o silêncio me ocupa num empoeirar de emoções. 
Pobre alma de garoto apaixonado numa parva adolescência.
Uma ou outra lágrima rola pela cara caindo mesmo sobre a fotografia como a lhe querer afogar num mar de sal. Um teste à memória escrito em linhas tortas duma infância passada lá no longe num tempo amarrotado e por vezes sepultado na argamassa do esquecimento.
O coração acelera quando se lembra de amores platónicos escondidos num espreitar atrás de cada coluna. Embaraço de voz no soletrar de cada nome que a memória fixou. Tropeço palavras sobre sentimentos, salas, escadas, rostos, vozes, andares e posturas. Vagabundos se me encontram no degrau da porta final do corredor da secretaria onde mais velhos gastam faltas em fumos de cigarro ou outros que fazem sorrir. Eu, tímido, me coloco em bicos de pés para parecer maior e me juntar neste grupo de bons malfeitores, gente boa que nem o tempo nem a memória, alguma vez atraiçoou. 
No pátio, feito de areia e brita, em que as brincadeiras mais violentas davam direito a esfoladela grossa, mercúriócromo para amanhã, se fazem equipes de trouxa lavada, garrafão ou picles.
A fotografia, já ondulada pelas lágrimas, parece criar vida e deita fora o que restou de desilusão como que a dizer-me que não me esqueceu e que o meu eu faz parte desta importante peça de memória escolar.
Limpei os olhos, entrei numa sala de aula e atentamente, pela primeira vez na vida, ouvi uma aula com a maior atenção do mundo


Sanzalando

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