Estou mesmo junto do rio Bero que hoje acho se deveria chamar seco porque é assim que ele está. Parece estou de partida.
Estou encostado na cancela que está aberta que não vem comboio. Olho na foz e vejo que a quase nada água não chega no mar. Parou com vontade de não se molhar na água fria e salgada desse mar. Fico em contemplação. Pelo menos é assim que quem me olha vai pensar. Mas eu estou é mesmo a pensar, a arranjar explicação para explicar que tudo o que está atrás de mim mexe comigo de forma esplendorosa. Sinto uma vontade danada de estar perto, de dar gargalhadas das piadas que pensei e se calhar até nem têm graça. Sinto uma vontade enorme de amar-te assim num modo sem graça, sem rasto e sem dor. Sinto vontade de aquecer-me no teu frio, de abrigar-me no teu vento. Eu não queria era sentir saudades do que ficou para trás.
As pernas tremem, um nó se aperta no estômago, as mãos transpiram. Acho vou ter um treco. Acho melhor voltar para trás e esquecer os amores do planalto.
Sinto medo de perder. Estou cansado de perder. Olho para trás. Olho para a foz. Olho e não consigo ver nada. Os olhos molhados não me deixam ver.
Sinto muito. Volto para trás e um dia eu vou ser criança antes de saber amar.
Uma rajada de vento, assim num tipo rabanada me fez ouvir a tua voz me dizer— | Eu sinto muito, meu bem, por ti eu sinto tudo. |
Sanzalando
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