Fui só assim no fim da tarde comer pastei de nata na Flórida. A tirol estava cheia de jogadoores de bilhar e muitas garrafas de cerveja. Nós as crianças ali nos sentimos desfasados pelo que fico na Flórida ou vou no Combinado, comer doces. Era no tempo que deixavam as criança comer doces e outras gulodices. Amanhã arracamos para Pereira d'Eça e já sei que além dos avós vão a Dina, o RuiNando, o Vasco Gouveia e mais eu. Lá vamos ter com a Carla, que ainda é criança e disse a minha avó que vamos ter com a tia Maria de Deus que está grávida. Vai ser bonito. Primeiro a viagem que disseram demora quase meio dia, passa na Chibia, depois na Cahama, Roçadas, PéuPéu, Humbe Xangondo e sei mais onde porque a avó disse nomes que eu nem sei soletrar.
A Chevrolet conduzida pelo avô é só mais uma peripécia pois o avô se distrai e ainda +e capaz de nos levar para fora da estrada. Ele às vezes esquece que está ao volante e é a avó que grita para lhe pôr no caminho.
E fomos parando. Fomos comendo e bebendo em modos pic-nic assim como fazer a mijinha atrás das árvores. A estrada é boa apesar de ter muitos camiões e algum trânsito em alguns lugares.
Chegamos era início da noite. O tio Néné estava preocupado mas não muito pois ele conhece bem o pai dele. O tio está gordo e grande parece é um armário. Fomos distribuídos e nós os rapazes ficamos nos anexos. Eramos os quatro sendo que eu era o mais novo e estava sempre a levar carolos deles.
Eu vou dizer que na manhã, na primeira manhã, eu tinha percorrido as ruas todas da cidade ou vila ou lá o que é isto. Tem hospital mas só tem um enfermeiro e está sempre aberto. Tem um aéro-clube que é bar e ponto de encontro dos mais velhos e das mais novas do lugar. Ao lado deste estão a transformar um parque de jogos num recinto de feira. Logo à noite temos festa.
Neste primeiro dia bebi a minha primeira cuca pois o tio Néné disese que não pagava outra coisa que não cerveja. Gostei. O Rui é que ficou a seco porque ele não bebe dessas coisas . Está muito certinho que nem parece o meu tio Rui que eu cruzei no Planalto. Deve estar é com saudades da namorada. Está aqui e está a pedir para lhe mandarem na carreira para o planalto.
Foi no PéuPéu que eu vi um jacaré. Nunca tinha visto um e ontem quando lá passamos eu vi. Fiquei com medo sim embora eu estava dentro do carro e na estrada. Mas eu sou um gajo da cidade e não do mato.
Ao fim da tarde, no Aéro-Clube bebi outra cerveja com o meu tio e o senhor capitão. Acho ele já tinha bebido uma fábrica inteira pois a voz arrastada e os bigodes mostravam que ele estava ali para verter para dentro todas as que encontrasse.
Fomos jantar um jantar que eu não sei se foi a barriguda da tia ou a calma da avó quem fez. Depois fomos todos para a feira. Aqui eu encontrei o amor. O amor da minha vida. A São que estava ali de férias pois estudava interna no Colégio das Madres no planalto. Me apaixonei ao primeiro olhar e decidi que nunca mais ia sair dali.
Foi a primeira noite feliz destas minhas férias todas. Eu andei ao tiros de pressão de ar nas barracas da feira. Eu ria e fazia rir. Estava apaixonadamente feliz. Às 10 e qualquer coisa tocou o recolher dela e eu entristecido também fui para casa. Custou a adormecer. Eu sonhava e só dizia que eu não queria ser como os meus tios e o Vasco. Mas ela não saia da cabeça. Cansado adormeci num sono profundo que nem deu para ver se eu sonhei ou não.
Manhã cedo fui para a casa da tia e todos desataram a rir a olhar para mim. Despercebi o que se passava. Ninguém conseguia dizer nada. Era só gargalhada. A Dina ainda disse qualquer coisa tipo Tarzan qualquer coisa e eu não sei mais o quê. Quando entrei na casa de banho para lavar os dentes e a cara eu vi e chorei. Chorei de raiva e me apetecia partir todos. Tinha a cara cheia de graxa de sapatos. Eu lavava e me arranhava e aquilo não tinha meio de sair. Nesse dia eu não sai de casa e não falei com ninguém, nem com o meu avô. Zanguei-me e prometi que me havia de vingar no meu monólogo de raiva. Tantas vezes me esfreguei ao longo do dia que aquilo lá acabou por sair.
À noite, sem companhia fui na feira. Encontrei a Sáo e estivemos a conversar. Fizemos promessa de futuro que até aos dias de hoje nunca ninguém cumpriu. Eu não estudei na terra do planalto e por isso não lhe podia lá visitar. Adiantando, quando acabaram as férias daqui se foi acabando esta paixão e nunca soube como foi o nosso futuro inexistente. Mas o presente foi feliz e isso era o mais importante para mim.
Três dia depois de la estarmos fomos no Sudoeste Africano, a Omwandi e o meu avô fartou-se de comparar chocolates, vinagre de várias cores e outras coisas. Sei que passada a fronteira a gente conduzia como os Carcamanos, na faixa do lado. Fazia confusão e nunca percebi quem é que está certo.
Eu assim já podia dizer que estive num país estrangeiro. Voltamos para casa no mesmo dia e na fronteira eu fiquei admirado porque aquilo era só pergunta fácil de responder e pode passar.
Com o calor que estava o chocolate derreteu e eles, o Vasco, o RuiNando, e a Dina comeram às colheres. Foi a minha vingança. Eles passaram 24 horas em corrida para a casa de banho numa fila de entra e sai quase à vez. Eu não porque sou comedido e a minha vingança foi servida em forma de mijar pelo cu.
Nessa noite fui o único que fui na feira. Mas quando estava lá a chegar fui chamado para casa porque a tia estava a querer parir e tínhamos que ir para o Hospital da Missão de Chindukulo que era onde havia equipe médica. Foi uma viagem atribulada feita em picada com a família toda parecia era um grupo de excursão para uma festa de parto. Lá chegados fomos todos corridos para fora do espaço da missão e só ficou a tia e o tio. Pouco depois vieram eles a dizer que ainda não era a hora destinada ao nascimento. Cada um se enroscou na Chevrolet como podia. Mais uma vez eu só pedia para voltar para Pereira d'Eça para ir ter com o tal amor da vida. Ninguém me ligou. O dia estava a romper e foi ver um movimento intenso entre o tia e a tia e o carro a correr para a Missão. Finalmente nascia a Sandra. Eu tinha uma prima nova. As madres mandaram mais uma corrida para o meu avô e lá fomos para Pereira d'Eça e ficamos de a vir buscar três dias depois.
Deixei de beber a Cuca ou a Nocal porque não tinha o tio para as pagar. Mas o capitão se adiantou e lá foi uma. A feira continuava a a minha felicidade estava ao rubro. Eles foram buscar a tia no dia combinado. Nós as crianças e adolescentes ficamos porque ninguém mais queria ouvir sermão das madres.
A cidade, vila ou aldeia de Pereira d'Eça deixou de ter segredos para mim. Eu todos os dias fazia ronda por ali à volta e na companhia da São eu conheci recantos secretos.
No fim de semana custou despedir-me da São e prometi mais mil coisas que ainda estão por cumprir pois nunca fui ao Colégio lhe procurar, depois das férias grandes acabarem.
A viagem de regresso demorou mais tempo pois fomos parando em tantos sítios que eu nem sabia que havia quando descemos.
Foi assim uma semana das ferias do planalto passada na planície do Cunene.
Sanzalando