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31 de maio de 2006
Sigo meu caminho. Sigo meu sonho
Continua a minha caminhada na borda deste zulmarinho que termina aqui mas tem o início dele lá, do outro lado da linha recta que é curva e, se eu me ponho em bicos de pé parece ela fica mais longe, portanto mais perto do seu início. Dou pulinhos como que imitando quem faz ginástica para ver se vejo ainda mais além. Ainda não consegui daqui ver o início dele, mas me cheira que é mesmo ali, depois dela.
Mas a verdade é que o cheiro só cheira depois de ser cheirado.
À esquerda tenho o zulmarinho no seu ar azulado de sombras e soles que é um enorme campo de pensamento, de mistérios e de sonhos. À direita tenho o mundo e todas as coisas que esse mundo tem. O arco íris dos dias, somatórios de vidas, sonhos, pesadelos, tormentas, bonanças. Aqui, terra de ninguém, fronteira do sonho e da magia, terra do Tempo e da capacidade de viajar nele. Aqui me encontro comigo na paz de estar isolado dos pobres de espírito que cada dia mais mostram que não são capazes de estar sem mim, lhes ilumino os escuros dias por onde vivem as suas almas, que se fossem gémeas, já se tinham morto de dor no cotovelo. São os meus dependentes, precisam da minha ajuda, do meu carinho e quem sabe de que eu lhes indique o caminho, como é costume de se dizer, o norte. Mas eu não consigo ficar-lhes indiferente. Tenho dó deles, coitados.
A brisa que me trás a maresia, perfume das entranhas do zulmarinho, resquícios dos ares que vêm desde lá da linha recta que é curva, que me trás a força de ouvir e contar as estórias, que me trás a capacidade de sonhar, me trouxe um papel que se me colou que nem na canela e por mais que eu tentasse que ele seguisse o seu caminho, desconsegui. Só depois de o ler ele seguiu o seu caminho, se calhar até se colar numa outra perna. Ele dizia tão pouco que ao mesmo tempo era tanto: "Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te".Apocalipse 3, 15-16
Já que parei para ler, aproveito e me sento de costas para o mundo, de frente para o sonho.
Trocar o certo pelo duvidoso? Mas e quem me garante que este certo é realmente certo? Quem garante que amanhã o pássaro não encontra alguém disposto a lhe abrir a gaiola e o deixa voar até ao sonho dele. E aí eu fico sem o certo e sem o duvidoso. Afinal, as certezas que temos na vida são tão poucas.
Olha só que me deu para continuar os sonhos de ontem. Vais ver foi esse pedaço de papel que me deu novo caminho?!
Sigo o meu caminho. Sigo o meu sonho!
Mas a verdade é que o cheiro só cheira depois de ser cheirado.
À esquerda tenho o zulmarinho no seu ar azulado de sombras e soles que é um enorme campo de pensamento, de mistérios e de sonhos. À direita tenho o mundo e todas as coisas que esse mundo tem. O arco íris dos dias, somatórios de vidas, sonhos, pesadelos, tormentas, bonanças. Aqui, terra de ninguém, fronteira do sonho e da magia, terra do Tempo e da capacidade de viajar nele. Aqui me encontro comigo na paz de estar isolado dos pobres de espírito que cada dia mais mostram que não são capazes de estar sem mim, lhes ilumino os escuros dias por onde vivem as suas almas, que se fossem gémeas, já se tinham morto de dor no cotovelo. São os meus dependentes, precisam da minha ajuda, do meu carinho e quem sabe de que eu lhes indique o caminho, como é costume de se dizer, o norte. Mas eu não consigo ficar-lhes indiferente. Tenho dó deles, coitados.
A brisa que me trás a maresia, perfume das entranhas do zulmarinho, resquícios dos ares que vêm desde lá da linha recta que é curva, que me trás a força de ouvir e contar as estórias, que me trás a capacidade de sonhar, me trouxe um papel que se me colou que nem na canela e por mais que eu tentasse que ele seguisse o seu caminho, desconsegui. Só depois de o ler ele seguiu o seu caminho, se calhar até se colar numa outra perna. Ele dizia tão pouco que ao mesmo tempo era tanto: "Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te".Apocalipse 3, 15-16
Já que parei para ler, aproveito e me sento de costas para o mundo, de frente para o sonho.
Trocar o certo pelo duvidoso? Mas e quem me garante que este certo é realmente certo? Quem garante que amanhã o pássaro não encontra alguém disposto a lhe abrir a gaiola e o deixa voar até ao sonho dele. E aí eu fico sem o certo e sem o duvidoso. Afinal, as certezas que temos na vida são tão poucas.
Olha só que me deu para continuar os sonhos de ontem. Vais ver foi esse pedaço de papel que me deu novo caminho?!
Sigo o meu caminho. Sigo o meu sonho!
Sanzalando Angola
30 de maio de 2006
Entre a dúvida da certeza e a certeza da dúvida
Agarrado na minha birra loira e estupidamente gelada faço a minha caminhada ouvindo as estórias que quero ouvir ou as que me quero contar. Conto-me para mim que sou o melhor ouvinte de mim.
Mas a birra tá tão gelada como alguns cérebros que se esparramam na areia tentando absorver com os olhos míopes aquilo que nem conseguem ver à frente do nariz.
Esta minha caminhada, peça de teatro de vida em que os actores principais sou que nem eu e mais a minha paixão de vida.
A vida é uma paixão, somatório de cores, sabores e cheiros. Encruzilhada de coisas boas e de coisas menos boas. A vida não tem coisas más, porque a vida é sempre vida e a gente tem tempo de sobra para estar morto um dia qualquer.
Eu nem tenho tempo para ter um mínimo de pena desses míopes, apenas tristeza de ver a infelicidade da ignorância, o emaranhado de vazios ocos fervendo nos primeiros raios de um sol nublado.
Mas eu caminho na beira do final do zulmarinho sempre com os olhos postos nela, mesmo que não a veja, sabendo que ela está lá, do outro lado da linha recta que é curva. Mas ao mesmo tempo ela está aqui, dentro de mim! Ou será que sou eu que quero estar dentro dela?
Eu já tenho algo seguro e certo, mas também tenho a dúvida e a hipótese de viver um turbilhão de emoções. E isso está a deixar-me assim como que muito incomodado, pois não sei ao certo que caminho seguir de modo a não atrofiar a minha capacidade de raciocinar, a minha capacidade de ser feliz, a minha hora de ter o prazer de me viver. Quando estou quase a tomar a decisão, acontece algo que me faz parar e repensar a minha decisão e ver se é realmente isso o que eu quero.
Por um lado sei que a certeza é algo mais tranquilo, afinal mais vale um pássaro na mão do que dois a voar. Porém, sinceramente na sinceridade que me reconheço, não sei até que ponto vale a pena prender este pássaro. Talvez eu esteja a fazer com que ele perca a oportunidade de seguir o seu caminho. Por outro lado, tenho a dúvida, algo totalmente subjectivo, mas que minha intuição diz que dará certo. É uma questão de tempo.
Sanzalando Angola
Mas a birra tá tão gelada como alguns cérebros que se esparramam na areia tentando absorver com os olhos míopes aquilo que nem conseguem ver à frente do nariz.
Esta minha caminhada, peça de teatro de vida em que os actores principais sou que nem eu e mais a minha paixão de vida.
A vida é uma paixão, somatório de cores, sabores e cheiros. Encruzilhada de coisas boas e de coisas menos boas. A vida não tem coisas más, porque a vida é sempre vida e a gente tem tempo de sobra para estar morto um dia qualquer.
Eu nem tenho tempo para ter um mínimo de pena desses míopes, apenas tristeza de ver a infelicidade da ignorância, o emaranhado de vazios ocos fervendo nos primeiros raios de um sol nublado.
Mas eu caminho na beira do final do zulmarinho sempre com os olhos postos nela, mesmo que não a veja, sabendo que ela está lá, do outro lado da linha recta que é curva. Mas ao mesmo tempo ela está aqui, dentro de mim! Ou será que sou eu que quero estar dentro dela?
Eu já tenho algo seguro e certo, mas também tenho a dúvida e a hipótese de viver um turbilhão de emoções. E isso está a deixar-me assim como que muito incomodado, pois não sei ao certo que caminho seguir de modo a não atrofiar a minha capacidade de raciocinar, a minha capacidade de ser feliz, a minha hora de ter o prazer de me viver. Quando estou quase a tomar a decisão, acontece algo que me faz parar e repensar a minha decisão e ver se é realmente isso o que eu quero.
Por um lado sei que a certeza é algo mais tranquilo, afinal mais vale um pássaro na mão do que dois a voar. Porém, sinceramente na sinceridade que me reconheço, não sei até que ponto vale a pena prender este pássaro. Talvez eu esteja a fazer com que ele perca a oportunidade de seguir o seu caminho. Por outro lado, tenho a dúvida, algo totalmente subjectivo, mas que minha intuição diz que dará certo. É uma questão de tempo.
29 de maio de 2006
Caminho porque sei para onde vou
Caminho, passo desconcertado, ritmado nas ondas. Linha recta marcada, pelos buracos dos meus pés, no chão de areia molhada que uma ou outra onda mais rebelde se estendeu por mais adentro da areia, encortando o meu espaço em relação ao mundo real. Caminho de olhos abertos e pensamento fechado. Hoje é dia de ver, talvez por ser segunda-feira o pensamento ainda está no domingo dele, e nem que lhe berre ele hoje acorda. Servem os olhos que vão servindo bem.
Esta é a vista que se vê de qualquer lugar, dando uma volta de 360 graus em torno de mim. Não, não me cansa. Nem de andar, nem de ver. Nem de subir, nem de descer, nem de aproximar e nem de afastar os olhos. De tanto ver, de tanto zulmarinho, de tantas montanhas de água que até parece se vai derramar toda aqui na areia, de tanto ar puro, que até parece que nos falta. Falta mesmo é a coragem de partir numa marcha acelerada por esse zulmarinho dentro. Nó no peito, olhos cheios de avidez querendo absorver tudo, pernas cansadas mas fortalecidas num treino diário de percorrer esta beira-mar, sempre à espera do momento certo que um dia vai chegar assim num estalar de dedos. Força para continuar a andar e constatar de que há muito que se ver, há muita terra que andar, há muita gente para conhecer.
Caminhar à beira-mar, na borda deste final do zulmarinho é o tipo de lugar onde se tira a prova real de que o céu é azul e o mar lhe acompanha. Que a vida é cheia de cores bizarras e improváveis, que depois ou antes há sempre uma subida ou uma descida, depois de uma planície há um monte, um planalto, um vale, uma encruzilhada, uma linha recta. Nesta minha caminhada onde ouço as kiandas a me contar estórias, encontro-me e perco-me. Tudo aqui pode acontecer. Mesmo que nada, isso é um nada acontecido porque foi vivido.
Brigado Árthemis pela divinal composição gráfica
Esta é a vista que se vê de qualquer lugar, dando uma volta de 360 graus em torno de mim. Não, não me cansa. Nem de andar, nem de ver. Nem de subir, nem de descer, nem de aproximar e nem de afastar os olhos. De tanto ver, de tanto zulmarinho, de tantas montanhas de água que até parece se vai derramar toda aqui na areia, de tanto ar puro, que até parece que nos falta. Falta mesmo é a coragem de partir numa marcha acelerada por esse zulmarinho dentro. Nó no peito, olhos cheios de avidez querendo absorver tudo, pernas cansadas mas fortalecidas num treino diário de percorrer esta beira-mar, sempre à espera do momento certo que um dia vai chegar assim num estalar de dedos. Força para continuar a andar e constatar de que há muito que se ver, há muita terra que andar, há muita gente para conhecer.
Caminhar à beira-mar, na borda deste final do zulmarinho é o tipo de lugar onde se tira a prova real de que o céu é azul e o mar lhe acompanha. Que a vida é cheia de cores bizarras e improváveis, que depois ou antes há sempre uma subida ou uma descida, depois de uma planície há um monte, um planalto, um vale, uma encruzilhada, uma linha recta. Nesta minha caminhada onde ouço as kiandas a me contar estórias, encontro-me e perco-me. Tudo aqui pode acontecer. Mesmo que nada, isso é um nada acontecido porque foi vivido.
Brigado Árthemis pela divinal composição gráfica
Sanzalando Angola
28 de maio de 2006
Não te quero para mim, te quero para te viver
Caminho vagarosamente, carregando o peso de ser o detentor da verdade suprema, única, de cada instante. Só deste instante, do outro instante que vem a seguir, mesmo que a verdade seja diferente. O perfume deste zulmarinho que me ilumina na escuridão da vida, cego de ver mas não de sentir, caminho a caminhada diária vertendo umas e outras, como quem verte a sede de viver. Tás-me a ver todos os dias a fazer a caminhada, é o meu treino diário para mais tarde fazer a maratona de descer este zulmarinho até no início dele. Vais dizer ou pensar, só com a vergonha de dizer, que vivo na angústia. Mas eu te respondo sem te dizer que vivo na dualidade da dúvida de ter a certeza que sou o detentor dessa verdade suprema deste instante. Vivo a capacidade de viver para hoje e de guardar em frágeis frascos de pó das estrelas todo o ontem e o amanhã. Pós de cores que foram tudo e que, como um arco-íris, nunca são iguais. Postos lado a lado na prateleira da minha vida a tornam tão colorida que me permitem estar aqui a conversar contigo, a dialogar num monologo com os teus olhos neste ouvler que temos diariamente na testemunha presencial deste zulmarinho, umas vezes chão, outras vezes rebelde que nem quando eu era noutras idades mais irreflectidas. Caminho sempre com os olhos postos em ti, mesmo não te vendo já que estás escondida por detrás dessa linha recta que é curva, traçada com uma régua em T, num estirador de Arquitecto que me quer testar na maneira de ser e ver até onde aguento a dor de ser dono da minha verdade instantânea. Deste-me muito de ti, para viver. Não te tenho tentado levar mais nada. Talvez seja medo. Talvez seja defesa. Talvez escolha. Não me culpo. Amo-te em cada instante. Amo-te na eternidade. Por aquilo que me permiti viver. Escolhi. Não me terias escolhido mas escolhi-te. Gosto de ti. Tudo é hoje e eu fui tudo o que fui porque sim. Porque não quis! Nos teus braços estive indefeso, incoerente, apaixonado, alegre, choroso. Tu mandaste-me o destino sem sabres que estavas a traçar um linha tracejada. As tuas cores fortes me prenderam ao sonho que sonho acordado. As tuas costas geométricas me mantiveram à tona, me trouxeram sempre à superfície da escuridão, à clareza da nitidez por vezes desfocada, no caminhar do arame gráfico. Os teus perfumes, as tuas formas me vergaram e me envenenaram sem veneno. Foi bom! Não te quero para mim, te quero para te viver. Não me quero como tu me queres porque te quero mais do que tu me queres a mim. É bom saber que pode ser assim. Gosto de mim por te ter vivido, por ter sabido aguentar a espera de ter esperança. Chega mais um pouco para mim, assim como tu estás em ti, também eu quero estar em ti.
Sanzalando Angola
27 de maio de 2006
É hoje!
Caminho no meu vai e vem de quem não teme. O zulmarinho calmo, contrastando com as nuvens que me parecem cinzentas mas se calhar é mesmo só erro do meu olhar, num vai e vem que parece lago. Paro e me olho nele assim como que fixamente a querer ler os pensamentos que lhe vão nas ondas.
Quem é mesmo que nunca acordou um dia e tivesse dito para dentro que hoje é que era o dia. Uma promessa, um desejo, uma paixão obsessiva? Hoje acordei e era um desses dias.
Então estou aqui parado frente ao zulmarinho num mar que parece chão e tento cumprir hoje o que há muito tempo me vai na alma do pensamento. Pensamento tem alma sim, tás a pensar o quê? Quantas vezes te dás a ver o teu dia a dia com uma ideia fixada na cabeça e desconsegues livrar-te dela? Se não tivesse alma achas que o vaporoso pensamento ia deixar assim um rasto de modo que não consegues pensar noutra coisa?
Está decidido que hoje é o dia de eu cumprir ma tentativa tantas vezes adiada.
Olho para os meus pés. Estão semi-enterrados na areia das muitas cores, muitas vezes molhada das ondas desse zulmarinho quando está zangado. Mas hoje está calmo. Está mesmo a parecer que está à minha espera. Estende uma onda suave que quase chega no meu dedo soterrado.
É hoje.
Acendo um cigarro, verto na goela uma birra geladinha como que a querer refrescar o corpo por dentro e ter força para cumprir esse desejo de alma e coração.
Arranco em passo firme. Não olho para trás não vá me passar uma coisa na cabeça e varrer a alma do pensamento. Está decidido é como estar feito.
Caminho firme porque quero atravessar todo esse zulmarinho e ir até ao início dele usando os meus passos firmes e decididos.
Quando a água me chega ao pescoço e começa a atrapalhar a marcha é que vejo que desse modo não dá para cumprir esse desejo mais desejado.
Volto para trás e agarro na alma do pensamento e lhe reformulo as questões. Tento de conseguir mesmo que seja de oura forma.Bebo outra loira estupidamente gelada e caminho paralelo no zulmarinho vociferando sons que nem eu sei bem o que são.
Quem é mesmo que nunca acordou um dia e tivesse dito para dentro que hoje é que era o dia. Uma promessa, um desejo, uma paixão obsessiva? Hoje acordei e era um desses dias.
Então estou aqui parado frente ao zulmarinho num mar que parece chão e tento cumprir hoje o que há muito tempo me vai na alma do pensamento. Pensamento tem alma sim, tás a pensar o quê? Quantas vezes te dás a ver o teu dia a dia com uma ideia fixada na cabeça e desconsegues livrar-te dela? Se não tivesse alma achas que o vaporoso pensamento ia deixar assim um rasto de modo que não consegues pensar noutra coisa?
Está decidido que hoje é o dia de eu cumprir ma tentativa tantas vezes adiada.
Olho para os meus pés. Estão semi-enterrados na areia das muitas cores, muitas vezes molhada das ondas desse zulmarinho quando está zangado. Mas hoje está calmo. Está mesmo a parecer que está à minha espera. Estende uma onda suave que quase chega no meu dedo soterrado.
É hoje.
Acendo um cigarro, verto na goela uma birra geladinha como que a querer refrescar o corpo por dentro e ter força para cumprir esse desejo de alma e coração.
Arranco em passo firme. Não olho para trás não vá me passar uma coisa na cabeça e varrer a alma do pensamento. Está decidido é como estar feito.
Caminho firme porque quero atravessar todo esse zulmarinho e ir até ao início dele usando os meus passos firmes e decididos.
Quando a água me chega ao pescoço e começa a atrapalhar a marcha é que vejo que desse modo não dá para cumprir esse desejo mais desejado.
Volto para trás e agarro na alma do pensamento e lhe reformulo as questões. Tento de conseguir mesmo que seja de oura forma.Bebo outra loira estupidamente gelada e caminho paralelo no zulmarinho vociferando sons que nem eu sei bem o que são.
Sanzalando Angola
26 de maio de 2006
Gritaria com humor
Como sabes eu também sou humano e por vezes tenho dias menos. É raro porque tu sabes que eu sou um optimista por natureza. Se aguentei 9 meses dentro dum espaço tão limitado que nem me dava para me esticar eu não ia aguentar as esquinas cortantes da vida? Mas há dias e dias e nem todos os dias são iguais. Entornado por problemas e frustrações em diversos níveis e categorias, abarrotado por esperanças, umas vãs outras nem por isso antes pelo contrário, fiz o que qualquer homem sensato e tranquilo faria: perdi a compostura da tranquilidade, se apagou o sorriso que se me colou um dia na cara e não descolava nunca, ou quase e saí por aí de cara amarrada numa carranca velha e carcomida pelo tempo mostrado nos pelos brancos da barba por fazer vai para uns dias.
Transformei-me num sujeito tenso e descarrego o nervosismo em qualquer inocente que esteja por perto. Começo a gritar com os que se divertem jogando à bola na borda do zulmarinho, espezinhando-o ou saltitando por ele como se estivesse gelado, esquecendo que há mundo do outro lado da vida que vivem e estão para ali a divertir-se. Depois, passo a gritar com os outros que se esparramam na areia como querendo absorver numa forma egoísta o sol e ficarem assim com a pele que nem um bronze de estátua, esquecendo-se que pode aparecer algum pombo e fazer aquilo que os pombos gostam de fazer nas estátuas além de pousar para a foto. E, finalmente, grito com o nadador salvador, que a olhar pelo físico deve de ser mais nadador afundador.
Grito com os vizinhos que também caminham nesta borda do final do zulmarinho e que parecem também querem ouvir estórias para mais tarde recontar. Grito com boa parte da família e com vários amigos, daqueles que bem podes fazer cara de zangado e eles ainda se estão a rir dessa mesma cara.
Quando todos passam a evitar-me, afastando o seu olhar em cada passo meu, resta-me gritar contra o ar, contra o vazio de gente, contra a corrente, num grito para o vazio.
Um desses espreitadores da vida alheia que se escondem duma vista apurada mas vêem tudo, recomendou-me, em surdina não fosse eu descobrir onde ele estava escondido, procurar um psicanalista, pois não ficava bem eu, contador de estórias, andar assim a gritar ao deus dará num desconexo contexto de raiva descabida e incontrolada. Mesmo contrariado, segui o seu conselho: procurei na praia alguém que tivesse cara e aspecto de psicólogo e gritei com ele. Ele me escutou com a mesma cara de parvo que eu já vira nos jogadores de bola da beira do zulmarinho, nos que estavam deitados a egoisticamente absorver todo o sol do mundo. Não me senti melhor.
Chegou o fim de tarde e continuei a caminhar na beira deste zulmarinho, agarrado à minha garrafa âmbar de birra estupidamente gelada, como de costume, para me tranquilizar. A minha tradicional caminhada termina com o pôr-do-sol aqui que poderá corresponder a um acordar de sol noutro lugar qualquer. Não surtiu efeito e então gritei com a pedra que veio de encontro ao meu dedo grande do pé e me fez deitar água do zulmarinho pela cara como se fosse uma nascente dum rio de água salgada.
Agora, pareço outra pessoa. Não grito com mais ninguém - fiquei rouco!
Transformei-me num sujeito tenso e descarrego o nervosismo em qualquer inocente que esteja por perto. Começo a gritar com os que se divertem jogando à bola na borda do zulmarinho, espezinhando-o ou saltitando por ele como se estivesse gelado, esquecendo que há mundo do outro lado da vida que vivem e estão para ali a divertir-se. Depois, passo a gritar com os outros que se esparramam na areia como querendo absorver numa forma egoísta o sol e ficarem assim com a pele que nem um bronze de estátua, esquecendo-se que pode aparecer algum pombo e fazer aquilo que os pombos gostam de fazer nas estátuas além de pousar para a foto. E, finalmente, grito com o nadador salvador, que a olhar pelo físico deve de ser mais nadador afundador.
Grito com os vizinhos que também caminham nesta borda do final do zulmarinho e que parecem também querem ouvir estórias para mais tarde recontar. Grito com boa parte da família e com vários amigos, daqueles que bem podes fazer cara de zangado e eles ainda se estão a rir dessa mesma cara.
Quando todos passam a evitar-me, afastando o seu olhar em cada passo meu, resta-me gritar contra o ar, contra o vazio de gente, contra a corrente, num grito para o vazio.
Um desses espreitadores da vida alheia que se escondem duma vista apurada mas vêem tudo, recomendou-me, em surdina não fosse eu descobrir onde ele estava escondido, procurar um psicanalista, pois não ficava bem eu, contador de estórias, andar assim a gritar ao deus dará num desconexo contexto de raiva descabida e incontrolada. Mesmo contrariado, segui o seu conselho: procurei na praia alguém que tivesse cara e aspecto de psicólogo e gritei com ele. Ele me escutou com a mesma cara de parvo que eu já vira nos jogadores de bola da beira do zulmarinho, nos que estavam deitados a egoisticamente absorver todo o sol do mundo. Não me senti melhor.
Chegou o fim de tarde e continuei a caminhar na beira deste zulmarinho, agarrado à minha garrafa âmbar de birra estupidamente gelada, como de costume, para me tranquilizar. A minha tradicional caminhada termina com o pôr-do-sol aqui que poderá corresponder a um acordar de sol noutro lugar qualquer. Não surtiu efeito e então gritei com a pedra que veio de encontro ao meu dedo grande do pé e me fez deitar água do zulmarinho pela cara como se fosse uma nascente dum rio de água salgada.
Agora, pareço outra pessoa. Não grito com mais ninguém - fiquei rouco!
Sanzalando Angola
25 de maio de 2006
Fácil?
Caminho assim ao deus dará. Darei uma volta e mais outras e às voltas andarei. Sigo o rumo de mim na incapacidade de fugir de mim. O zulmarinho me presenteia com a sua maresia e a sua música marulhada num espraiar de assimetrias e ritmos anacrónicos, seja lá o que isso quer dizer. Caminho e cada passo que dou é uma forma de pensar, de estar e de ser. Ser na dúvida e ter uma certeza que desconsegue ser coerente num segundo sentido de voltar ao princípio dum início. É difícil fazer alguém feliz. Assim como bué fácil fazer triste. É difícil dizer que eu lhe amo. Assim como é fácil não dizer nada, cerrar os lábios num silêncio gritado para dentro. É difícil dar valor a um amor. Assim como é fácil perdê-lo para sempre num piscar de olhos. É difícil agradecer por hoje, ontem e por amanhã. Assim como é fácil viver mais um dia que foi igual a tantos outros. É difícil convencer-me de que sou feliz, Assim como é fácil achar que sempre falta alguma coisa que não tenho. É difícil fazer alguém sorrir. Assim como é fácil fazer chorar lágrimas salgadas tal e qual as gotas que salpicam deste zulmarinho. É difícil pôr-me no lugar de alguém. Assim como é fácil olhar para o próprio umbigo e ver que tudo é nem mais nem menos que eu. Se se erra, peço desculpas. É assim tão difícil pedir perdão? Mas quem disse que é fácil ser perdoado?! Se alguém errou, perdoa-o... É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender?! Se sinto alguma coisa eu digo... É difícil se abrir e se mostrar como se é? Mas quem disse que é fácil encontrar alguém que queira escutar e saiba ouvir?! Se alguém reclama de mim, eu ouço... É difícil ouvir certas coisas? Mas quem disse que é fácil ouvir-me?! -Se alguém te ama, ame-o... É difícil se entregar assim numa dádiva sem trocas? Mas quem disse que é fácil ser feliz?! Nem tudo é fácil na vida... Mas, com certeza, nada é impossível... Precisamos acreditar, ter fé na vida, lutar para que não apenas sonhemos. Mas tornemos todos nossos sonhos realidade mesmo que o caminho seja pregado de espinhos e andes ali descalço!Acho mesmo que o beber as birras estupidamente geladas e fundamentalmente loiras, debaixo deste sol que me ensombra a areia em cada passada me anda a amolecer os parcos neurónios que me levam a contar-te a estória da minha vida em folhetim de trazer por casa.
Sanzalando Angola
24 de maio de 2006
Introspecção feliz
Sento-me na areia. Estou cansado da caminhada em que cada passo representa uma palavra. Tas a ver, né, mermão? Então me sento e olho só o zulmarinho e as suas ondinhas que arritmicamente se vão esticando na areia como que a querer espreguiçar. Aí a cabeça começa a funcionar doutra maneira. Assim num mais para dentro do que num mais para fora que às vezes parece nem tem tempo para respirar. Tas a ver, né, mermão?
Conheces aqueles dias quando o mau-humor aparece de repente, sem nenhum motivo aparente, sem teres dado de faz de conta e ele já está dentro de ti? Então... O bom-humor também pode chegar da mesma forma. A gente acorda bem, faz as coisas com mais boa vontade e o dia fica bem mais produtivo que mesmo que esteja nublado parece esta praia está cheia de sol, o zulmarinho tem mais a sua cor. Sorri à toa a nossa cara de tal modo que a gente se olhar no espelho fica mesmo admirado de ver o gajo que é a gente com aquela cara... E na minha opinião, felicidade é isso.
É assim: ninguém (e isso não exclui a ti que estás a ler isto por pura falta do que mais fazer) está nesse planeta, nessa vida, para ser feliz. A gente veio mesmo foi para sofrer! Para aprender com o sofrimento e evoluir. Ninguém conseguirá alcançar um estado de felicidade completa 24 horas por dia enquanto estiver em "processo de evolução" (ou nem depois, quem vai saber?). Então, esses pequenos momentos de alegria (com motivo ou não, tanto faz) que surgem no meio da nossa agonia terrena devem ser aproveitados ao máximo, porque é daí que tiramos energia e força de vontade para superar as nossas amarguras. E a vida traz tantas que se a gente fosse contar uma na outra não ia nem conhecer o número certo de tantos pontos e zeros que eu nem sei mesmo como dizer os triliões todos que ia dar...
Nestes dias, ou nestes momentos, o ideal é ignorar a cara feia dos outros, ou tentar contaminá-los com a nossa cara feliz, se for possível. Mas não deixes que o contrário aconteça, porque, assim como as fases da vida, isso passa rápido demais.
P.S.: Acho que eu estou viciado em parênteses (e em reticências também...).
Conheces aqueles dias quando o mau-humor aparece de repente, sem nenhum motivo aparente, sem teres dado de faz de conta e ele já está dentro de ti? Então... O bom-humor também pode chegar da mesma forma. A gente acorda bem, faz as coisas com mais boa vontade e o dia fica bem mais produtivo que mesmo que esteja nublado parece esta praia está cheia de sol, o zulmarinho tem mais a sua cor. Sorri à toa a nossa cara de tal modo que a gente se olhar no espelho fica mesmo admirado de ver o gajo que é a gente com aquela cara... E na minha opinião, felicidade é isso.
É assim: ninguém (e isso não exclui a ti que estás a ler isto por pura falta do que mais fazer) está nesse planeta, nessa vida, para ser feliz. A gente veio mesmo foi para sofrer! Para aprender com o sofrimento e evoluir. Ninguém conseguirá alcançar um estado de felicidade completa 24 horas por dia enquanto estiver em "processo de evolução" (ou nem depois, quem vai saber?). Então, esses pequenos momentos de alegria (com motivo ou não, tanto faz) que surgem no meio da nossa agonia terrena devem ser aproveitados ao máximo, porque é daí que tiramos energia e força de vontade para superar as nossas amarguras. E a vida traz tantas que se a gente fosse contar uma na outra não ia nem conhecer o número certo de tantos pontos e zeros que eu nem sei mesmo como dizer os triliões todos que ia dar...
Nestes dias, ou nestes momentos, o ideal é ignorar a cara feia dos outros, ou tentar contaminá-los com a nossa cara feliz, se for possível. Mas não deixes que o contrário aconteça, porque, assim como as fases da vida, isso passa rápido demais.
P.S.: Acho que eu estou viciado em parênteses (e em reticências também...).
Sanzalando Angola
23 de maio de 2006
Quase quase
Olá! Tudo bem com vocês?
Por aqui as coisas estão bem. Esta é uma semana corrida, com certeza a mais corrida que eu já vivi porque é aquela em que eu vivo. A semana passada já passou e já é mesmo história que não conta para esta estória. As caminhadas têm de ser feitas em passo de corrida, logo os meus pulmões vão querer sair das grades costeladas que lhe seguram, as estórias têm de ser contadas em rotações que já não se usam. Alguém agora ia pôr um cd a tocar numa rotação diferente? Nem o aparelho lhe ia deixar. Mas esta semana é assim. A próxima não sei porque ainda não cheguei que nem lá perto. Esta semana ainda vai a meio caminho. Mas já deu para ver que não tem sobrado tempo para nada, nem para namorar as vistas que se vêem aqui esparramadas na areia de muitas cores.
Estou num tremendo dilema.
Continuar ou não a contar as minhas estórias para aqueles que têm tido a pachorra sobre-humana de me ouvir lendo? O motivo: falta de tempo. Caminho o dia inteiro num vai e vem nesta beira-mar que me trepa pelas pernas nas ondas revoltosas deste zulmarinho que tem o seu início lá do outro lado onde ele começa e me trás a força para andar neste vai e vem, conto as estórias que mesmo que não aconteceram não deixam de ser verdadeiras, pelo que só me restam alguns minutos do dia, que ocupo a almoçar. Quem não é bom para comer não é bom para contar.
Por pouco não segui o caminho mais fácil. Falta de ideias. Tanto que o objectivo deste post é justamente actualizar o blog. Pois hoje não tenho absolutamente nenhuma ideia interessante para escrever! Já agora, alguma vez eu tive? Depois de parar para pensar não me veio nenhuma resposta à cabeça. Vais ver ando a apanhar sol a mais na moleirinha. Acho mesmo que está na hora de começar a usar protector. Quem sabe?!
Não que as ideias não apareçam. O problema é que surgem justamente quando estou ocupado. Quando tenho tempo das contar se foram assim num vento que se lhes deu. Um vento mais forte que a brisa que me trás a meresia!
Ontem eu tinha uma ideia de texto, que agora nem me lembro mais sobre o que era, nem que cor tinha nem como ele andava neste vai e vai!
Por aqui as coisas estão bem. Esta é uma semana corrida, com certeza a mais corrida que eu já vivi porque é aquela em que eu vivo. A semana passada já passou e já é mesmo história que não conta para esta estória. As caminhadas têm de ser feitas em passo de corrida, logo os meus pulmões vão querer sair das grades costeladas que lhe seguram, as estórias têm de ser contadas em rotações que já não se usam. Alguém agora ia pôr um cd a tocar numa rotação diferente? Nem o aparelho lhe ia deixar. Mas esta semana é assim. A próxima não sei porque ainda não cheguei que nem lá perto. Esta semana ainda vai a meio caminho. Mas já deu para ver que não tem sobrado tempo para nada, nem para namorar as vistas que se vêem aqui esparramadas na areia de muitas cores.
Estou num tremendo dilema.
Continuar ou não a contar as minhas estórias para aqueles que têm tido a pachorra sobre-humana de me ouvir lendo? O motivo: falta de tempo. Caminho o dia inteiro num vai e vem nesta beira-mar que me trepa pelas pernas nas ondas revoltosas deste zulmarinho que tem o seu início lá do outro lado onde ele começa e me trás a força para andar neste vai e vem, conto as estórias que mesmo que não aconteceram não deixam de ser verdadeiras, pelo que só me restam alguns minutos do dia, que ocupo a almoçar. Quem não é bom para comer não é bom para contar.
Por pouco não segui o caminho mais fácil. Falta de ideias. Tanto que o objectivo deste post é justamente actualizar o blog. Pois hoje não tenho absolutamente nenhuma ideia interessante para escrever! Já agora, alguma vez eu tive? Depois de parar para pensar não me veio nenhuma resposta à cabeça. Vais ver ando a apanhar sol a mais na moleirinha. Acho mesmo que está na hora de começar a usar protector. Quem sabe?!
Não que as ideias não apareçam. O problema é que surgem justamente quando estou ocupado. Quando tenho tempo das contar se foram assim num vento que se lhes deu. Um vento mais forte que a brisa que me trás a meresia!
Ontem eu tinha uma ideia de texto, que agora nem me lembro mais sobre o que era, nem que cor tinha nem como ele andava neste vai e vai!
Sanzalando Angola
22 de maio de 2006
Regresso ao meu zulmarinho
Durante três dias andei a caminhar noutras praias, noutros finais deste zulmarinho, bebendo umas e outras birras loiras estupidamente geladas. A vã peregrinação de me fazer esquecer deste finalizinho de zulmarinho.
Contei as minhas estórias a gente boa que desconhecia por completo na presença física de lhes ver os olhos. Abracei corpos que só conhecia na virtualidade do conhecimento das minhas estórias. Ouvi estórias das minhas estórias fazendo corar o narrador de babado que ficou.
As birras loiras e estupidamente geladas que são nas vezes maiores usadas como lubrificador de goelas foram aqui usadas como branqueador de cores rosadas.
Três dias diferentes, sítios diferentes. Gentes diferentes.
Hoje voltei ao final do zulmarinho que sempre lhe conheci e com saudades dos que me ouviram nestes 3 dias diferentes.
Olha só que o zulmarinho lá em cima estava assim como de tão contente de me ter visto que parecia queria saltar barreiras para me acariciar. E o perfume de mar? Há quanto tempo não sentia assim o perfume do finalizinho do zulmarinho que era que nem igual ao início dele mesmo. Mas a diferença estava se ele me acariciasse eu ficava assim que nem paralelepípedo de gelo. Mas valeu a maresia que entrou no corpo e me alegrou.
Hoje estou de volta ao meu canto semi-lunar onde calcorreio as areias de mil cores e já lhe conheço os segredos.
Contei as minhas estórias a gente boa que desconhecia por completo na presença física de lhes ver os olhos. Abracei corpos que só conhecia na virtualidade do conhecimento das minhas estórias. Ouvi estórias das minhas estórias fazendo corar o narrador de babado que ficou.
As birras loiras e estupidamente geladas que são nas vezes maiores usadas como lubrificador de goelas foram aqui usadas como branqueador de cores rosadas.
Três dias diferentes, sítios diferentes. Gentes diferentes.
Hoje voltei ao final do zulmarinho que sempre lhe conheci e com saudades dos que me ouviram nestes 3 dias diferentes.
Olha só que o zulmarinho lá em cima estava assim como de tão contente de me ter visto que parecia queria saltar barreiras para me acariciar. E o perfume de mar? Há quanto tempo não sentia assim o perfume do finalizinho do zulmarinho que era que nem igual ao início dele mesmo. Mas a diferença estava se ele me acariciasse eu ficava assim que nem paralelepípedo de gelo. Mas valeu a maresia que entrou no corpo e me alegrou.
Hoje estou de volta ao meu canto semi-lunar onde calcorreio as areias de mil cores e já lhe conheço os segredos.
Sanzalando Angola
19 de maio de 2006
Não me percas, AMOR
Ouves aí o marulhar? Senta só aqui um bocado comigo e me trás o teu calor. Senta aqui e me deixa sentir o antigamente da vida ou ouvir as velhas estórias. Senta aqui e olha comigo esse zulmarinho que tem o início dele lá do outro lado e chega aqui carregado do seu perfume. Anda e trás contigo as birra loiras estupidamente geladas para a gente navegar nos nossos mares, ao sabor da brisa da imaginação.
Sabes, eu hoje acordei com aquela sensação de vazio. De estar assim sem ninguém num mundo de gente. De um sentimento de solidão mais profundo que a profundidade desse zulmarinho salgado que tás a ver na tua frente. É daqueles casos em que se olha para o horizonte e se encontra resposta vazia no fim de onde a vista alcança.
As sobrancelhas franzem, a cara se fecha numa redoma de chumbo, impenetrável e invisível, as palavras não saem e a voz não se ouve. Resta um pensamento quase vazio e num olhar à beira do mar vês a alegria das águas na sua revolução se atirando na areia e se perdendo dentro dela.
Preciso rever alguns dos meus somatórios de tempo, modificar uns conceitos e preconceitos, seguir um rumo mesmo que no pólo norte eu não consiga ir mais a norte. Já agora me diz só o que faz a bússula lá no pólo norte?
Bom, deixa-me voltar à minha válvula de escape: afundar-me na caminhada nessa beira-mar em que eu caminho muitas vezes só com os olhos e os pensamentos.
Não me percas, por favor, não me percas e conta-me as tuas certezas e incertezas. Não deixes que se afaste de mim este lugar incerto e vago que substitui o meu corpo quando penso no teu, esse que está aí no início do zulmarinho, esse que transporta com cicatrizes, feridas por cicatrizar e que não vemos porque não queres mostrar ou porque não queremos ver. Não percas os meus olhos, ou a minha boca, ou as minhas formas. Não permitas que eu me desprenda dos teus cabelos, que o teu nome seja um silêncio triste na minha boca, que os meus dedos se esqueçam da medida do teu tamanho. Não me percas, por favor, não me percas de mim.
Sabes, eu hoje acordei com aquela sensação de vazio. De estar assim sem ninguém num mundo de gente. De um sentimento de solidão mais profundo que a profundidade desse zulmarinho salgado que tás a ver na tua frente. É daqueles casos em que se olha para o horizonte e se encontra resposta vazia no fim de onde a vista alcança.
As sobrancelhas franzem, a cara se fecha numa redoma de chumbo, impenetrável e invisível, as palavras não saem e a voz não se ouve. Resta um pensamento quase vazio e num olhar à beira do mar vês a alegria das águas na sua revolução se atirando na areia e se perdendo dentro dela.
Preciso rever alguns dos meus somatórios de tempo, modificar uns conceitos e preconceitos, seguir um rumo mesmo que no pólo norte eu não consiga ir mais a norte. Já agora me diz só o que faz a bússula lá no pólo norte?
Bom, deixa-me voltar à minha válvula de escape: afundar-me na caminhada nessa beira-mar em que eu caminho muitas vezes só com os olhos e os pensamentos.
Não me percas, por favor, não me percas e conta-me as tuas certezas e incertezas. Não deixes que se afaste de mim este lugar incerto e vago que substitui o meu corpo quando penso no teu, esse que está aí no início do zulmarinho, esse que transporta com cicatrizes, feridas por cicatrizar e que não vemos porque não queres mostrar ou porque não queremos ver. Não percas os meus olhos, ou a minha boca, ou as minhas formas. Não permitas que eu me desprenda dos teus cabelos, que o teu nome seja um silêncio triste na minha boca, que os meus dedos se esqueçam da medida do teu tamanho. Não me percas, por favor, não me percas de mim.
Sanzalando Angola
Prémio Camões 2006
José Luandino Vieira. Cidadão angolano pela sua participação no movimento de libertação nacional e contribuição no nascimento da República Popular de Angola. Infância, juventude e estudos primários e secundários em Luanda. Diversas profissões. Preso pela PIDE em 1959 (Processo dos 50). De novo preso (1961) e condenado a 14 anos de prisão e medidas de segurança. Transferido, em 1964, para o Campo de Concentração do Tarrafal, onde passou 8 anos, foi libertado em 1972, em regime de residência vigiada em Lisboa. Iniciou então a publicação da sua obra, na grande maioria escrita nas diversas prisões pode onde passou. Membro fundador da União dos Escritores Angolanos, exerceu a função de secretário-geral desde a sua fundação — 10-12-1975 — e em vários mandatos até 1992.
Sanzalando Angola
Sanzalando Angola
18 de maio de 2006
Acumulação de tempo
Dias que se seguem normais, pegadas que duram a eternidade dum intervalo de ondas, silêncios interrompidos em marulhares, cores modificadas no espraiar do zulmarinho. Os dias passam lentamente no ritmo marcado pela suavidade das suas 24 horas, que nos parecem por vezes curtas e outras confusas, gripando o cérebro mais pensativo e alertando o menos trabalhadeiro. Coisas de dias que só cada dia é responsável por si mesmo. Há dias que nos parecem desgarrados, outros tem que nos são consoladores. Neste ritmo marcado pelo caminhar à beira-mar. Dias que se acumulam em imagens e palavras que se perdem intricadas nas redes de sonhos, ilusões e realidades, e que nos recordamos assim mais ou menos num momento inesperado. Nessa acumulação se forma o meu passado e parte deste meu presente que é agora mesmo. Se separam sonhos, ilusões, tristezas e pesadelos numa salada que se chama vida, mistura de saudade e unificação de futuro, tempo inexistente, infinito que está ali onde nem a ponta do dedo chega mas que logo, mais logo se pode ultrapassar para chegar noutro infinito que se segue e assim sucessivamente. Tempo inexistentes mas cheio de sonhos e tristezas, de magias e tempestades e que num segundo passa a fazer parte da acumulação do passado.
Enquanto caminho vou sonhando a minha vida como se estivesse a ver um filme em cinescope. A acumulação do tempo, de sonhos, ideias esperanças, cicatrizes e lágrimas que sabem a zulmarinho, mas sorrio porque estou a recordar a minha vida. Esta!
E continuo a caminhada a olhar para lá da linha recta que é curva, para o meu infinito!
Sanzalando em AngolaEnquanto caminho vou sonhando a minha vida como se estivesse a ver um filme em cinescope. A acumulação do tempo, de sonhos, ideias esperanças, cicatrizes e lágrimas que sabem a zulmarinho, mas sorrio porque estou a recordar a minha vida. Esta!
E continuo a caminhada a olhar para lá da linha recta que é curva, para o meu infinito!
Carlos Carranca e Amigos
17 de maio de 2006
Sabe-se lá!
Cá vou eu na minha caminhada, contando-me estórias ao ritmo das ondas do zulmarinho. Velocidade vertiginosa de um mar calmo, fazendo a ligação perfeita com o início dele mesmo. Trazendo-me o perfume da terra, o calor das suas gentes, as mucandas das kiandas. Neste vai e vem, marcado pelos meus pés nesta areia de muitas cores, as semanas passam como o bater das asas de um beija-flor; questão de cagagésimos de segundo.
Enquanto a vida passa nessa louca vertigem de tempo, eu passo os dias a acordar nas madrugadas do dia; me ducho para espantar a única coisa que me consegue derrubar. O sono! Luto com meu guarda-roupas na possibilidade de um dia acertar e parecer um bem vestido, faço as demais actividades da manhã, comuns a qualquer ser humano, e sigo meu caminho. Ingrata rota da rotina, que me leva sempre ao mar sem caravela nem nau.
Passo pelas pontes que cortam os rios da minha rota, chego ao meu lado mais antigo, ao sonho e à imaginação, a minha arte suprema da capacidade de ser feliz. Deparo-me todos os dias com aquelas lindas ondas milenárias num seu ritmo incerto, batida arrítmica de uma kizomba que ninguém escreveu e faço um enorme esforço para que se tornem comuns aos meus olhos, mas cada uma tem a sua impressão digital, o seu quê de quem é diferente da anterior e outras tantas que se lhe antecederam. Passeio a vista em busca de uma novidade naquelas areias que viram o tempo passar. Velha nostalgia daquilo que não vivi.
Tenho os meus amigos. Hoje, diferentes daqueles moleques que costumavam correr e jogar à bola pelas ruas da cidade, jogar aos coubois, à macaca e ao garrafão. Hoje eles têm barba, falam de trabalho e de coisas de crescidos. Uns contabilizam as suas recentes conquistas quais galãs de cinema americano, outros fantasiam o desejo de serem pais a tempo inteiro quando o tempo já passou. Outros falam da vida que deviam ter vivido e que por causa de uma vírgula da vida não a conseguiram. Outros falam por falarem, de coisas nenhumas mas que nos prendem o ouvido. São os meus amigos. Eu observo-os! Eu vivo-os!
Enquanto o meu pensamento navega por mares tempesnáuticos, os olhos observam as batidas arrítmica das ondas se espraiando na areia, como que parecendo imitar o do meu coração quando se propõe mergulhar neste zulmarinho e atravessar todo o oceano assim como todo o tempo do mundo.
O amor atravessa o tempo.
A amizade é intemporal.
A beleza, imortal...
Que será de nós então?
Sabe-se lá.
Enquanto a vida passa nessa louca vertigem de tempo, eu passo os dias a acordar nas madrugadas do dia; me ducho para espantar a única coisa que me consegue derrubar. O sono! Luto com meu guarda-roupas na possibilidade de um dia acertar e parecer um bem vestido, faço as demais actividades da manhã, comuns a qualquer ser humano, e sigo meu caminho. Ingrata rota da rotina, que me leva sempre ao mar sem caravela nem nau.
Passo pelas pontes que cortam os rios da minha rota, chego ao meu lado mais antigo, ao sonho e à imaginação, a minha arte suprema da capacidade de ser feliz. Deparo-me todos os dias com aquelas lindas ondas milenárias num seu ritmo incerto, batida arrítmica de uma kizomba que ninguém escreveu e faço um enorme esforço para que se tornem comuns aos meus olhos, mas cada uma tem a sua impressão digital, o seu quê de quem é diferente da anterior e outras tantas que se lhe antecederam. Passeio a vista em busca de uma novidade naquelas areias que viram o tempo passar. Velha nostalgia daquilo que não vivi.
Tenho os meus amigos. Hoje, diferentes daqueles moleques que costumavam correr e jogar à bola pelas ruas da cidade, jogar aos coubois, à macaca e ao garrafão. Hoje eles têm barba, falam de trabalho e de coisas de crescidos. Uns contabilizam as suas recentes conquistas quais galãs de cinema americano, outros fantasiam o desejo de serem pais a tempo inteiro quando o tempo já passou. Outros falam da vida que deviam ter vivido e que por causa de uma vírgula da vida não a conseguiram. Outros falam por falarem, de coisas nenhumas mas que nos prendem o ouvido. São os meus amigos. Eu observo-os! Eu vivo-os!
Enquanto o meu pensamento navega por mares tempesnáuticos, os olhos observam as batidas arrítmica das ondas se espraiando na areia, como que parecendo imitar o do meu coração quando se propõe mergulhar neste zulmarinho e atravessar todo o oceano assim como todo o tempo do mundo.
O amor atravessa o tempo.
A amizade é intemporal.
A beleza, imortal...
Que será de nós então?
Sabe-se lá.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca e Amigos
16 de maio de 2006
Carta de amor à beira mar
Como é que eu vou adivinhar que existo se hoje, quando caminhava na areia que se chama à beira-mar eu me olhei no zulmarinho e ele estava tão transparente que eu não consegui nem ver o meu reflexo nele. Olha se não tem reflexo não pode ter flexo. Logo eu não existo. Mas se não existo como é que ficam meus pés marcados aqui na areia das mil cores?
Já estou a ver que hoje caminho sem sentido. Não, não desmaiei. Simplesmente os meus neurónios estão assim como que paralisados de transparência. Olho-me com olhos de ver ao perto e ao longe. Olho-me para dentro de mim. Existo? Claro que sim. Tenho sonhos? Claro que sim. E se olhares assim como que fixamente para lá da linha recta que é curva e que parece está a limitar essa quantidade de zulmarinho que a tua vista alcança, vais ver que se vê bem o meu sonho. O meu sonho não está à mão de semear, está a umas braçadas de mar.Porque me conheço como nunca poderei ser, como nunca quererei ser, o meu sonho se transformará em realidade e o meu riso voltará ao rosto de onde nunca devia de ter saído. Outros contos, outras léguas, outras milhas. Serei como a areia e o mar, a tua pele sincera debaixo do teu sol. Os teus beijos inocentes de um amante usado e experimentado. O teu sabor o teu odor. O néctar da verdade que exalavas por todos os cantos.
Já estou a ver que hoje caminho sem sentido. Não, não desmaiei. Simplesmente os meus neurónios estão assim como que paralisados de transparência. Olho-me com olhos de ver ao perto e ao longe. Olho-me para dentro de mim. Existo? Claro que sim. Tenho sonhos? Claro que sim. E se olhares assim como que fixamente para lá da linha recta que é curva e que parece está a limitar essa quantidade de zulmarinho que a tua vista alcança, vais ver que se vê bem o meu sonho. O meu sonho não está à mão de semear, está a umas braçadas de mar.Porque me conheço como nunca poderei ser, como nunca quererei ser, o meu sonho se transformará em realidade e o meu riso voltará ao rosto de onde nunca devia de ter saído. Outros contos, outras léguas, outras milhas. Serei como a areia e o mar, a tua pele sincera debaixo do teu sol. Os teus beijos inocentes de um amante usado e experimentado. O teu sabor o teu odor. O néctar da verdade que exalavas por todos os cantos.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca e Amigos
15 de maio de 2006
Vice-versa
Caminho num vice-versa. Hoje o zulmarinho começa do lado direito e quando eu voltar ele vai estar do lado esquerdo. Já sei que vais pensar que é por causa do coração e coisas de superstição. Mas não é. Hoje me apetece andar mesmo ao contrário nesta areia de mil cores que me liga ao zulmarinho que teima em estar ali no seu baloiçar de ir e vir e sem ondas para me salpicar como se fossem as lágrimas que eu deixo correr na cara como se não parasse de chorar. Mas os homens não choram e portanto é só umas gotas de zulmarinho que às vezes teimam em escorrer na cara. Nesta caminhada, feita com gosto e sorriso gravado na cara não vá alguém parar para pensar no que eu estou a pensar e depois vem dizer que o gajo é doido porque anda para aqui a inventar estórias de embalar e o que ele tem é nostalgia. Mas isso é doença que pega? Se não é não pode ter problema a não ser para mim e por isso há que estar na divisão dos mundos, lá naquela linha recta que é curva e num equilíbrio desequilibrado mais para um lado lá se vai andando no cá para lá e vice-versa.
Mas afinal para que servem os amigos? Os dos outros não sei, mas os meus servem para tanta coisa, algumas até inusitadas que não dá nem para imaginar. Parece mentira, mas é mesmo verdade verdadeira. Estou, neste exacto momento, nada mais do que a pensar nos meus amigos todos para tentar descobrir o que me virá resgatar desta terrível prisão em que se tornou este digníssimo e maravilhoso local no qual caminho ao ritmo das ondas do zulamrinho sereno. É tão cómico, mas ao mesmo tempo é tão absurdo que é melhor caminhar devagar. Olha só a situação em que me encontro: Mudei agora para o versa-vice e o mar está do lado esquerdo mas a paisagem olhando o zulmarinho é mesmo igual que nem no vice-versa e no lado direito o vazio que se estava a estender pelo areal se estendeu por completo. Se tirassem agora uma fotografia se viria a cor dourada enorme, um ponto de interrogação perdido nessa cor de ouro e depois o azul do zulmarinho nos seus minúsculos reflexos. Para ter uma ideia, imagina só se me dá um treco, que a idade não é para aqui chamada e os azares sempre estão à espera de quem não espera nem está desesperado. O que é que poderia acontecer? Ficar preso aqui no meia da liberdade total à espera que um amanhã alguém aparecesse e desse com o ponto de interrogação estendido no areal parecido com um croquete? Me deu que nem um arrepio só de pensar que estou engradeado no vazio, na imensidão de liberdade, só interrompido agora por um rasto de um avião que na altura que está nem imagina que eu estou aqui debaixo dele.Portanto é mesmo melhor chamar um amigo para estar aqui a me olhar enquanto eu caminho de lá para cá ou vice-versa
Mas afinal para que servem os amigos? Os dos outros não sei, mas os meus servem para tanta coisa, algumas até inusitadas que não dá nem para imaginar. Parece mentira, mas é mesmo verdade verdadeira. Estou, neste exacto momento, nada mais do que a pensar nos meus amigos todos para tentar descobrir o que me virá resgatar desta terrível prisão em que se tornou este digníssimo e maravilhoso local no qual caminho ao ritmo das ondas do zulamrinho sereno. É tão cómico, mas ao mesmo tempo é tão absurdo que é melhor caminhar devagar. Olha só a situação em que me encontro: Mudei agora para o versa-vice e o mar está do lado esquerdo mas a paisagem olhando o zulmarinho é mesmo igual que nem no vice-versa e no lado direito o vazio que se estava a estender pelo areal se estendeu por completo. Se tirassem agora uma fotografia se viria a cor dourada enorme, um ponto de interrogação perdido nessa cor de ouro e depois o azul do zulmarinho nos seus minúsculos reflexos. Para ter uma ideia, imagina só se me dá um treco, que a idade não é para aqui chamada e os azares sempre estão à espera de quem não espera nem está desesperado. O que é que poderia acontecer? Ficar preso aqui no meia da liberdade total à espera que um amanhã alguém aparecesse e desse com o ponto de interrogação estendido no areal parecido com um croquete? Me deu que nem um arrepio só de pensar que estou engradeado no vazio, na imensidão de liberdade, só interrompido agora por um rasto de um avião que na altura que está nem imagina que eu estou aqui debaixo dele.Portanto é mesmo melhor chamar um amigo para estar aqui a me olhar enquanto eu caminho de lá para cá ou vice-versa
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca e Amigos
14 de maio de 2006
Perguntas do vento
Andas triste?
Olho em volta e não está ninguém que nem pertinho de mim para me sussurrar está questão. Parece que é a brisa que sopra que me faz esta pergunta. Mas num automático que parece mais um reflexo respondi logo que não. Como ninguém fez a pergunta também ninguém ouviu a resposta e assim não passei por doido que fala sozinho.
Mas porque então gostas de caminhar na beira-mar desse zulmarinho que te trás a alegria de saber que do outro lado da linha recta que é curva está o chão que te viu cair de ti mesmo pela primeira vez e ao mesmo tempo te provoca a tristeza de teres esse sal todo a te separar dele? Me pareceu ouvir a mesma voz a me fazer esta pergunta mais longa que comboio carregado de ferro a subir a serra. Estava já que nem mais que prevenido pelo que não respondi logo.
Coloquei a minha cara de pensador e meti-me ao trabalho de pensar na pergunta. Gosto mesmo muito de andar para aqui e para ali ao lado desse azul salgado que me trás o perfume da terra molhada, porque na minha imaginação está a acabar de chover do lado de lá!
Tem gostos que a gente nem consegue de explicar e como é que eu vou explicar este gosto de me contar estórias ao longo desse zulmarinho?
E, ao ritmo dos meus passos curtos não cansativos, fui rabiscando na sebenta do pensamento as respostas que iam e vinham numa ordem de quem não tem ordem de grandeza.
Porque quebra a rotina, porque traz novidades à retina, porque me faz ver a vida de outra forma, me estimula a dar valor ao simples, ao complexo, ao igual, ao diferente.
Porque me apresenta novos parâmetros, novos ângulos, novas paisagens, me anima a pensar, agir e viver de forma diferente do meu quotidiano. Já viste que as ondas que se vão espraiar na areia nunca são iguais umas às outras? Já imaginaste a área livre que tens à tua frente quando te pões a olhar assim num perder de vista desse zulamrinho?
Porque conheço novas pessoas que mesmo que não fale com elas e de tanto nos cruzarmos nos silêncios que até parece que nos conhecemos de lugares comuns.
Porque parece que o marulhar me faz ouvir estórias, lendas e casos, tal é o silêncio em si mesmo embrulhado que me rodeia.
Porque parece que estou mais disposto a comprar lembranças, a tirar milhões de fotos de cada pequeno detalhe, mesmo que a máquina seja mesmo só os olhos que olham as areias de mil cores os as imagens que invento na película cerebolosa que está na caixa craniana
Porque toda música é mais suave e toda vida, por mais sofrida, parece que tem mais valor uma vez que me sinto um micróbio neste espaço de vão que não tem escada terminável, mesmo que caracoleie nas alturas não visíveis a olhos desnudados.
Porque a saudade custa a apartar num corpo só e o espaço para a estacionar aqui não tem nem um cadinho de falta.
Porque viver tudo a mil como se soubesse que em 24h por cada dia o mundo nunca me providenciará o tempo necessário para ir ver a vida que explode em cada pedaço de terra, em cada pedaço de céu, em cada pedaço da gente.
Porque aqui estou eu numa conversa comigo e num ápice sei onde me posso encontrar mesmo que esteja cosmonautando por éteres perdido de confusão e barulhos de civilização. Aqui sou primário no estar comigo.
Sanzalando em AngolaOlho em volta e não está ninguém que nem pertinho de mim para me sussurrar está questão. Parece que é a brisa que sopra que me faz esta pergunta. Mas num automático que parece mais um reflexo respondi logo que não. Como ninguém fez a pergunta também ninguém ouviu a resposta e assim não passei por doido que fala sozinho.
Mas porque então gostas de caminhar na beira-mar desse zulmarinho que te trás a alegria de saber que do outro lado da linha recta que é curva está o chão que te viu cair de ti mesmo pela primeira vez e ao mesmo tempo te provoca a tristeza de teres esse sal todo a te separar dele? Me pareceu ouvir a mesma voz a me fazer esta pergunta mais longa que comboio carregado de ferro a subir a serra. Estava já que nem mais que prevenido pelo que não respondi logo.
Coloquei a minha cara de pensador e meti-me ao trabalho de pensar na pergunta. Gosto mesmo muito de andar para aqui e para ali ao lado desse azul salgado que me trás o perfume da terra molhada, porque na minha imaginação está a acabar de chover do lado de lá!
Tem gostos que a gente nem consegue de explicar e como é que eu vou explicar este gosto de me contar estórias ao longo desse zulmarinho?
E, ao ritmo dos meus passos curtos não cansativos, fui rabiscando na sebenta do pensamento as respostas que iam e vinham numa ordem de quem não tem ordem de grandeza.
Porque quebra a rotina, porque traz novidades à retina, porque me faz ver a vida de outra forma, me estimula a dar valor ao simples, ao complexo, ao igual, ao diferente.
Porque me apresenta novos parâmetros, novos ângulos, novas paisagens, me anima a pensar, agir e viver de forma diferente do meu quotidiano. Já viste que as ondas que se vão espraiar na areia nunca são iguais umas às outras? Já imaginaste a área livre que tens à tua frente quando te pões a olhar assim num perder de vista desse zulamrinho?
Porque conheço novas pessoas que mesmo que não fale com elas e de tanto nos cruzarmos nos silêncios que até parece que nos conhecemos de lugares comuns.
Porque parece que o marulhar me faz ouvir estórias, lendas e casos, tal é o silêncio em si mesmo embrulhado que me rodeia.
Porque parece que estou mais disposto a comprar lembranças, a tirar milhões de fotos de cada pequeno detalhe, mesmo que a máquina seja mesmo só os olhos que olham as areias de mil cores os as imagens que invento na película cerebolosa que está na caixa craniana
Porque toda música é mais suave e toda vida, por mais sofrida, parece que tem mais valor uma vez que me sinto um micróbio neste espaço de vão que não tem escada terminável, mesmo que caracoleie nas alturas não visíveis a olhos desnudados.
Porque a saudade custa a apartar num corpo só e o espaço para a estacionar aqui não tem nem um cadinho de falta.
Porque viver tudo a mil como se soubesse que em 24h por cada dia o mundo nunca me providenciará o tempo necessário para ir ver a vida que explode em cada pedaço de terra, em cada pedaço de céu, em cada pedaço da gente.
Porque aqui estou eu numa conversa comigo e num ápice sei onde me posso encontrar mesmo que esteja cosmonautando por éteres perdido de confusão e barulhos de civilização. Aqui sou primário no estar comigo.
Carlos Carranca e Amigos
13 de maio de 2006
Hoje num tou nem a sentir a maresia
Hoje é Sábado e num posso nem sentir a maresia, quanto mais ver o zulmarinho na sua dança balouçante.
A verdade é que a primeira coisa que me passou pela cabeça quando percebi que tinha meia hora livre foi vir escrever um post (que por mais desinteressante que seja é uma óptima maneira de relaxar)
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca e Amigos
A verdade é que a primeira coisa que me passou pela cabeça quando percebi que tinha meia hora livre foi vir escrever um post (que por mais desinteressante que seja é uma óptima maneira de relaxar)
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca e Amigos
12 de maio de 2006
Pensar à beira-mar
Caminho ao longo da praia. Uma vez o zulmarinho está na minha esquerda. Na volta ele está à direita. Verdade verdadeira de La Palisse. E como ele já deveria ter pensado nisso eu mudei agulha na bússula do pensamento e rumei noutra direcção assistida pela minha capacidade de inverter a marcha num recuo a coisas positivas ou impensáveis, pensando eu. A maresia me entra nas narinas largas e penetram fundo e me pergunto se alguém já parou para pensar porque é que eu sou eu e não outra pessoa? Olho na areia e vejo muitos corpos lagartando ao sol e como eu tenho que vos contar estórias verdadeiras mesmo que não sejam reais eu me olho nelas e desato a pensar. Porque é que eu sou este, o que está aqui neste corpo que me transporta ao longo da beira-mar, e não aquele lá, ou aquele outro ali que estão ali estirados a fazer coisa nenhuma? Olha ali aquele deitado com uma estampa ao lado e eu aqui a te contar coisas que me passam na cabeça. Será mesmo que eu estou realmente aqui ou outra pessoa está a fazer exactamente isto que eu estou a fazer e eu penso que sou eu?
A partir daqui surgem outras questões como: o que será que aquela pessoa está a pensar neste momento mais exacto em que eu tento lhe adivinhar? Para onde irão aquelas pessoas que se dirigem para longe do zulmarinho?Eu conheço pessoas que moram longe de mim (a internet tem dessas coisas), nunca as vi pessoalmente e, às vezes, sem mais nem menos, pego-me a pensar no que será que fulaninho de tal está a fazer neste segundo.Pessoas diferentes, cabeças diferentes. Cada mente é uma realidade, cada individuo é um mundo e ao mesmo tempo não é nada comparado à imensidão de tudo que nos cerca. Olha só esse zulmarinho que é o mesmo que está lá e está aqui e a gente, sem ser na força do sonho, demora horas a lhe percorrer. A gente nunca vai saber com certeza absoluta se a vida de sicrano é melhor ou pior que a nossa. Cada vida em si é única e por mais que tenhamos outras encarnações para viver, esta aqui não pode ser desperdiçada. Eu sou eu mesmo. Pelo menos eu penso que eu sou eu e não outro a pensar que sou eu. E sou eu que tenho que fazer as minhas próprias escolhas. Mas tudo poderia ser mais fácil, é verdade, se as escolhas apenas deixassem consequências para quem as fez.
A partir daqui surgem outras questões como: o que será que aquela pessoa está a pensar neste momento mais exacto em que eu tento lhe adivinhar? Para onde irão aquelas pessoas que se dirigem para longe do zulmarinho?Eu conheço pessoas que moram longe de mim (a internet tem dessas coisas), nunca as vi pessoalmente e, às vezes, sem mais nem menos, pego-me a pensar no que será que fulaninho de tal está a fazer neste segundo.Pessoas diferentes, cabeças diferentes. Cada mente é uma realidade, cada individuo é um mundo e ao mesmo tempo não é nada comparado à imensidão de tudo que nos cerca. Olha só esse zulmarinho que é o mesmo que está lá e está aqui e a gente, sem ser na força do sonho, demora horas a lhe percorrer. A gente nunca vai saber com certeza absoluta se a vida de sicrano é melhor ou pior que a nossa. Cada vida em si é única e por mais que tenhamos outras encarnações para viver, esta aqui não pode ser desperdiçada. Eu sou eu mesmo. Pelo menos eu penso que eu sou eu e não outro a pensar que sou eu. E sou eu que tenho que fazer as minhas próprias escolhas. Mas tudo poderia ser mais fácil, é verdade, se as escolhas apenas deixassem consequências para quem as fez.
E como é que saiu tanta asneira e tanta confusão de dentro de uma cabeça só?
Acho mesmo esse sol anda a fazer que nem mais mal que bem na minha pobre cabeça.
Acho mesmo esse sol anda a fazer que nem mais mal que bem na minha pobre cabeça.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca e Amigos
11 de maio de 2006
Como gosto de caminhar à beira-mar
Como eu gosto de caminhar na borda desse zulmarinho que me atormenta nos momentos felizes em que me trás o perfume do lado de lá, daquele lado donde ele tem o seu início.
Hoje estranhei-me enquanto te estranhava. Esgravatei e deixei-me entrar dentro de mim na tentativa de me ver e de me reconhecer. Fechei a porta. Deixei de me ver como quem se vê num espelho passando a olhar para o dentro do quem eu sou. Olhava-me como quem vê um estranho, todos estes anos que nos vimos sem nos vermos. Dei comigo a falar-me. Nunca fui para mim aquilo que sou. Nunca me percebi.
De dentro de mim comecei a olhar-te, a ver-te num de dentro para fora.Nasci-me, porque te amei, porque te conheci e te vivi.
Sanzalando em AngolaHoje estranhei-me enquanto te estranhava. Esgravatei e deixei-me entrar dentro de mim na tentativa de me ver e de me reconhecer. Fechei a porta. Deixei de me ver como quem se vê num espelho passando a olhar para o dentro do quem eu sou. Olhava-me como quem vê um estranho, todos estes anos que nos vimos sem nos vermos. Dei comigo a falar-me. Nunca fui para mim aquilo que sou. Nunca me percebi.
De dentro de mim comecei a olhar-te, a ver-te num de dentro para fora.Nasci-me, porque te amei, porque te conheci e te vivi.
Carlos Carranca e Amigos
Uma amiga se junta a esta 'Minha' Sanzala
Um pouco atrasado, diga-se, venho aqui manifestar a minha alegria por ter a meu lado nos post deste blog uma amiga que connosco quer dividir a sua ARTE.
Bem hajas Arthemis, força aí, mermã, nesta coisa de sonharmos, de criarmos, de vermos as nossas ideias flutuarem num mar de sonhos
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca e Amigos
Bem hajas Arthemis, força aí, mermã, nesta coisa de sonharmos, de criarmos, de vermos as nossas ideias flutuarem num mar de sonhos
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca e Amigos
10 de maio de 2006
Antes agora que nunca
Ante agora que nunca disse eu no título. Mas arranquei sem saber que tecla ia carregar. Me lembrei então de ir prá cozinha. Ingredientes daqui, sacos dali, frascos dacolá e saiu um prato para o jantar. Parece mesmo prao de cozinha de elite. Pouquinho mas saiu bonito. Vais ver que emvez de estar aqui a contar estórias o meu lugar é mesmo na criação de alta cozinha? Tenho de treinar mesmo é desconsegir de utilizar toda a louça e acabar com tudo o que é panela. E agora tenho de lavar tudo e deixar udo nos lugares onde eu fui descobrir as coisas e que foi até a parte mais dificil. Hum, não me estou a ver nessa. Émesmo melhor ficar na frente do teclado e ver se vem alguma ideia para e escrever. É que ainda por cima daqui a pouco estou com fome outra vez. Ver o zulmarinho a andar para a frente e para trás dá uma fome...
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
9 de maio de 2006
Re-sonhar é preciso
Ainda do lado de cá da linha imaginária que faz criar ilusões e encantos, olhando para a linha recta que é curva, agachado para parecer que ela está mais perto, bebendo umas e outras na velocidade com que vou contando as estórias, que por eu as contar são verdadeiras, te ponho a recitar aqu o que te contei faz hoje um ano:
Sanzalando em AngolaComo é que é, mermão? Pagas umas quantas ou tenho de ficar a dever? Bem sabes,para alguns/umas é um dejá vu, para outros é um conto de engantar uma imaginação cansada.
mermão, que estar a qui a falar contigo, levar-te até ao outro lado da linha
recta que é curva, tem os seus gastos, mesmo que te leve apenas no sonho e te
faça criar um bichinho assim como que solitária que te vai levando a pensar,
pensar e um dias quando quem não está à espera tu estás lá a fazer o equilíbrio
bem em cima da linha recta que é curva a cheirar o início do zulmarinho que aqui
apenas trás o perfume que começa lá. Sabes, avilo, que parece que nasci para
fazer sonhar. Eram elas que sonhavam por mim. Péra, não descompenses. Eu queria
dizer outra coisa. Eu passo o tempo a sonhar com elas. As loiras lindas e
geladerrimas.
Carlos Carranca
8 de maio de 2006
Vagabundando
Trabalhar é bom. O mau é mesmo ter que trabalhar. Principalmente nestes dias que a gente tem preguiça até no sair da cama, mesmo quando o sono já se foi e se olha da janela e se vê assim o zulmarinho todo azul que parece continuar no céu, num tom mais claro, mas tal e qual lisinho na mesma.
O bom mesmo é ter dinheiro e tempo livre para gastá-los aos dois. Muito dinheiro! E trabalhar como hobby, para ir no dia que quiser, pelo tempo que quiser. Só mesmo se apetecer muito.
Mas não estou a protestar com o meu trabalho não. É que nem motivos para isso eu tenho. A falta de disposição nestes dias nublados, ainda que apenas na minha cabeça, é que me tortura de vez em quando.
Sem falar que ficar a andar de cá para lá e vice versa por aí, com partes das pernas semi-adormecidas é tão agradável como andar descalço na areia da praia ao meio-dia a pensar nas estórias para mais tarde contar.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
7 de maio de 2006
Hoje é do Dia da Mãe
É. Hoje que nem me apetece contar nenhuma estória. Hoje me apetece escrever uma carta à minha mãe. Eu sei que lhe dei dores de cabeça que até nem aspirina fazia efeito. Eu sei que lhe plantei uns cabelos brancos. Eu sei que lhe fiz correr lágrimas salgadas que se misturaram no zulmarinho. Eu sei que ficou muitas horas de sono a olhar no relógio. Eu sei tanta coisa que também sei que ela perdoou tudo e hoje me olha com um sorriso e ainda vai rezar no Deus dela por mim e coisas assim. Eu sei e porque é que sei? Porque lhe gosto muito. Mas não lhe vou escrever a carta. Vou-lhe dizer mesmo no ouvido dela.Te beijo mãe desde aqui do fim do zulmarinho.
Depois comecei a pensar e só me dava A mãe de Maximo Gorki e a Mãe Coragem de B. Brecht.
Dá-me às vezes cada coisa. Deveser por ser Domingo. Só pode!
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Depois comecei a pensar e só me dava A mãe de Maximo Gorki e a Mãe Coragem de B. Brecht.
Dá-me às vezes cada coisa. Deveser por ser Domingo. Só pode!
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
6 de maio de 2006
Imprevistos
A praia onde me encontro a contar estórias, aqui no fim do zulmarinho, onde que parece que tem menos sal, onde que a espuma parece menos assim com espuma de praia, tem a forma assim de um segmento de círculo. Já sei que vem aqui um matemático dizer que não é assim que se diz, um arquitecto dizer que não é assim que se descreve. Bem mas eu não sou nem um nem outro pelo que, mais garrafa menos garrafa, é assim que eu digo. Nessa sua forma de ser ela parece que está aqui para me enrolar e me deixar no seu centro. Me deixar aqui confinado na forma de contador de estórias mais ou menos verdadeiras mas sempre reais nem que sejam dentro da minha tola. Também que é aí o centro do mundo e seus arredores e eu não tenho dúvidas.
Mas nem tudo na vida sai como previsto. Isso é um facto insuflável, que tem outra palavra para dizer mas que até custa só de soletrar pelo que me fico por esta que é mais simples, assim como nada é por acaso. Tanto que, depois de me cansar de falar aconteceu alguma que não estava previsto e então resolveram criar a palavra imprevisto. Tem gente aqui que se prende a tantos detalhes que é capaz de dizer que tudo deu errado só por causa de um pequeno imprevisto. Quando no final tudo terminou bem.
Eu mesmo, apesar de na maiorias das vezes ser guiado por impulsos, que não telefónicos, gosto de planear tudo. Planeio até o que não está ao meu alcance, para saber o que fazer caso um dia consiga alcançar. Mas até os mais elaborados planos estão sujeitos à uma infinidade de variáveis que não temos controle nenhum. E isso assim mais que nem porquê, pode pôr tudo a perder. Por isso temos que estar preparados para tudo.
O que isto tem a ver com esta beira-mar? Nada. Mas por causa de outro imprevisto, tudo o que eu tenho no momento em que escrevo é um computador rápido, com bastante memória RAM que me dá acesso completo... Ao bloco de notas!
Mas nem tudo na vida sai como previsto. Isso é um facto insuflável, que tem outra palavra para dizer mas que até custa só de soletrar pelo que me fico por esta que é mais simples, assim como nada é por acaso. Tanto que, depois de me cansar de falar aconteceu alguma que não estava previsto e então resolveram criar a palavra imprevisto. Tem gente aqui que se prende a tantos detalhes que é capaz de dizer que tudo deu errado só por causa de um pequeno imprevisto. Quando no final tudo terminou bem.
Eu mesmo, apesar de na maiorias das vezes ser guiado por impulsos, que não telefónicos, gosto de planear tudo. Planeio até o que não está ao meu alcance, para saber o que fazer caso um dia consiga alcançar. Mas até os mais elaborados planos estão sujeitos à uma infinidade de variáveis que não temos controle nenhum. E isso assim mais que nem porquê, pode pôr tudo a perder. Por isso temos que estar preparados para tudo.
O que isto tem a ver com esta beira-mar? Nada. Mas por causa de outro imprevisto, tudo o que eu tenho no momento em que escrevo é um computador rápido, com bastante memória RAM que me dá acesso completo... Ao bloco de notas!
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
3 de maio de 2006
Verdade e mentira
Percorro a praia à espera que chegue alguém que queira ouvir as minhas estórias. Ninguém chega e dou assim comigo num pensamento de eterna dúvida. Me atiro ao mar ou rebolo na areia e me divirto?
Uma parte de mim gosta de sofrer. É essa parte quem mais conta as estórias que não tendo acontecido não deixam de ser verdadeiras. Essa parte de mim acredita que amores imperfeitos são as flores da estação. Ou de um apeadeiro entre duas estações.
Remexe feridas quase cicatrizadas, reama quem não merece amor, não ama como ela deveria ser amada e desenterra lembranças pelo simples prazer de sofrer duas vezes. Se amanhã fosse o dia dos namorados iria passá-lo desacompanhado, porque resolveria somente pensar nos amores eternos da juventude que não duram mais que o seu próprio tempo e num abrir e fechar de olhos se apagam tal e qual foram acesos. A mistura das duas partes de mim na sua luta constante. Racional e impetuoso. Faria uma breve análise dos factos e concluiria que se não pudesse passar o dia de amanhã com quem eu realmente sempre desejei, preferiria mesmo ficar só. Não para sempre, mas desta vez seria assim. Eu não tenho sorte no amor, então sigo esperançado jogando no euromilhões, pois não é possível que eu não tenha direito à minha quota de sorte no jogo.
A tal parte masoquista de mim hoje acordou deste jeito. Ouve repetidas vezes o mesmo CD, esse filho da mãe cujas músicas são como um bisturi cirúrgico penetrando no meu coração. Quem foi que deu ordem para eu arranjar um disco daquele tempo?
Eu como bolo quente, mesmo sabendo que vou ter dores de barriga. E ligo o meu pensamento para ela, sabendo mesmo que a seguir vou querer matar-me. Na verdade um bolo não faz tanto mal assim. Já pensar em ti traz consequências irremediáveis. Quase sempre. Hoje, por exemplo.
Continuo a passear na praia. Nem um segundo de vida passou e eu me divirto.
Uma parte de mim gosta de sofrer. É essa parte quem mais conta as estórias que não tendo acontecido não deixam de ser verdadeiras. Essa parte de mim acredita que amores imperfeitos são as flores da estação. Ou de um apeadeiro entre duas estações.
Remexe feridas quase cicatrizadas, reama quem não merece amor, não ama como ela deveria ser amada e desenterra lembranças pelo simples prazer de sofrer duas vezes. Se amanhã fosse o dia dos namorados iria passá-lo desacompanhado, porque resolveria somente pensar nos amores eternos da juventude que não duram mais que o seu próprio tempo e num abrir e fechar de olhos se apagam tal e qual foram acesos. A mistura das duas partes de mim na sua luta constante. Racional e impetuoso. Faria uma breve análise dos factos e concluiria que se não pudesse passar o dia de amanhã com quem eu realmente sempre desejei, preferiria mesmo ficar só. Não para sempre, mas desta vez seria assim. Eu não tenho sorte no amor, então sigo esperançado jogando no euromilhões, pois não é possível que eu não tenha direito à minha quota de sorte no jogo.
A tal parte masoquista de mim hoje acordou deste jeito. Ouve repetidas vezes o mesmo CD, esse filho da mãe cujas músicas são como um bisturi cirúrgico penetrando no meu coração. Quem foi que deu ordem para eu arranjar um disco daquele tempo?
Eu como bolo quente, mesmo sabendo que vou ter dores de barriga. E ligo o meu pensamento para ela, sabendo mesmo que a seguir vou querer matar-me. Na verdade um bolo não faz tanto mal assim. Já pensar em ti traz consequências irremediáveis. Quase sempre. Hoje, por exemplo.
Continuo a passear na praia. Nem um segundo de vida passou e eu me divirto.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
2 de maio de 2006
Papel em branco
Página em branco. Lápis novinho, acabado de ser comprado, assim como o bloco de notas. Estou de frente para o zulmarinho. Me deixo hipnotizar pela vai e vem das suas ondas. Olho a ver se delas sai alguma ideia. Silêncio só interrompido quando elas se espraiam na areia e marulham de reboliço. Eu continuo de página em branco. Silêncio barulhento que brota da ponta do lápis. Nem uma palavra. Nem um rabisco. Ainda bem que também não sei desenhar. Tal como a página, eu estou em branco. É mesmo melhor tirar uma férias na escrita, no rabisco, na tela em forma de letras. Acho que vos é mais saudável.
Eu ficarei aqui na beira-mar escutando as ondas a ver se vem alguma nova desde lá do início dele. Vais ver é o vento que não está de feição. É sueste. Afinal de que lado é mesmo o Sueste? Deve de ser do lado de fora de mim.
Página em branco e eu afónico. Contem-me estórias até que se passe o sueste de fora de mim!
Eu ficarei aqui na beira-mar escutando as ondas a ver se vem alguma nova desde lá do início dele. Vais ver é o vento que não está de feição. É sueste. Afinal de que lado é mesmo o Sueste? Deve de ser do lado de fora de mim.
Página em branco e eu afónico. Contem-me estórias até que se passe o sueste de fora de mim!
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
1 de maio de 2006
Des pensador
Caminho à beira mar. Cabeça fervilhando de ideias. Pesadelos me assaltam num desprevenido baixar de guarda duma caminhada despensada..
Desde pequeno que tenho uma obsessão. Nada mais nada menos que olhar o mundo através de desenhos característicos dos barrotes de madeira. E sempre me salta o pensamento para a pergunta: quem é que está preso, eu ou o mundo?
Sei que o mundo está cheio de gente sensível. Os que são sensíveis aos pós, às cores, às formas, às certezas, aos sonhos, à fantasia. Eu estou sensivelmente preso à fantasia dos sonhos imaginários. Logo, um dos presos sou eu.
Sei que o mundo está cheio de gente com complexos. Os que se complexam na bondade e sabedoria, no magro e gordo, alto e baixo, feio e bonito. Pela manhã, um destes adjectivos me salta ao pensamento. Logo, um dos presos sou eu.
Sanzalando em AngolaDesde pequeno que tenho uma obsessão. Nada mais nada menos que olhar o mundo através de desenhos característicos dos barrotes de madeira. E sempre me salta o pensamento para a pergunta: quem é que está preso, eu ou o mundo?
Sei que o mundo está cheio de gente sensível. Os que são sensíveis aos pós, às cores, às formas, às certezas, aos sonhos, à fantasia. Eu estou sensivelmente preso à fantasia dos sonhos imaginários. Logo, um dos presos sou eu.
Sei que o mundo está cheio de gente com complexos. Os que se complexam na bondade e sabedoria, no magro e gordo, alto e baixo, feio e bonito. Pela manhã, um destes adjectivos me salta ao pensamento. Logo, um dos presos sou eu.
Carlos Carranca
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