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30 de março de 2020

e deixei a chuva chegar

Deixei que o vento partisse e desse lugar à chuva. E não me importei que não aparecesse o primaveril sol. Há alturas que uma pessoa tem de abdicar de alguns privilégios. É o sol, é o zulmarinho, os abraços e o carinho, a doçura dum olhar, a vontade dum abraço, o correr e saltar nos caminhos longos, fazendo-os curto. Mas deixei isso tudo e deixei-me levar pela vontade enorme de me sentar a um canto e meditar. É tão bom eu me conhecer como faz tempo eu não sabia mais quem era de verdade. As crianças de hoje acho vão aprender mais depressa a se conhecer no todo, na integra. Há coisas que vão aprender mais depressa, bem mais depressa que as crianças do meu tempo. Vão aprender a fazer luto. O sentido e sem segundo sentido. 
No meu tempo de ser criança só nos morria um dia de cada vez e como logo nascia outro a gente até que nem notava. Agora, no tempo de agora se ouve tanto falecido que eles vão aprender a dor de perder mais intensa que a gente sentiu. 
Eu deixei que a chuva viesse e não me importei porque agora eu aprendi a me saber dizer não.


Sanzalando

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