Ouço o silêncio que de quando em vez é interrompido por uma moto que passa numa corrida contra o tempo. Aproveito este tempo para meditar ou para me despir em palavras que podem viajar para além de mim, que me acariciem a alma e perdurem para lá da minha existência. Tem dias que me sinto arte, palavras perfeitas, ideias concretas, sentimentos vivos.
Hoje, mais uma vez, resguardando o mundo num retiro voluntário, percebi que tenho o sagrado sentido do amor e amizade, o carinho nos olhos do que se cruzam, o sorriso de esperança nas caras de quem passa.
Hoje, mais um dia que passo a ver tabelas, réguas e escritos presentes, passados e futuros, encontro uma paz de quem passou por surto de cólera, ataques severos de paludismo desde tenra idade até até adulto jovem, convulsões e revoluções com 'supositórios' de vários calibres, sons de tantos tons, tuberculose e tantas gripes, desde as que 'voam' e das que 'influenciam', não pode ser agora 'derrotado' pelo desânimo.
Hoje, preparando o amanhã, sorrio escrevendo memórias alegres que me fizeram o que hoje consigo ser.
Hoje recordei o jingle da 5ª sinfonia de Beethoven e a frase : A CÓLERA MATA!
Hoje recordei o sabor amargo do quinino, as convulsões e delírios.
Hoje recordei o estar deitado debaixo da cama e tremer de medo não fosse um obus cair-me no tecto.
Hoje recordei os tantos lenços usados, os aspros tomados, os chás ingeridos, as mistelas caseiras e farmacológicas obrigado a ingerir.
Hoje recordo os longos meses retirado em casa a fazer a medicação contra o tal de bacilo que me queria fazer vacilar.
Hoje tenho esperança. Muita.
Sanzalando
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