E faz neve na Serra. Não na minha Serra. Na Serra de cá. Na minha deve que estar a chover em trovoada tropical. Podia levar-me e ir ver à minha janela especial, mas hoje não me apetece. Só quero imaginar a neve lá na Serra do outro. Brrr, que deve que estar frio. E eu aqui ao sol neste sul que não é o meu sul.
É que aqui, neste tempo de quarentena vagabundo os pensamentos e ninguém nem me vai dizer eu sou isto ou aquilo porque estou a fazer bem pela primeira vez, diria a minha mãe se estivesse aqui. Mas pela última vez, antes de mentalizar que nada pode ficar mais igual, vou tentar mais uma vez. Vou entregar palavras sem pensar, sem olhar, sem sentir com o coração. Palavras atordoadas que queiram ganhar vida própria, manias, sonhos, esforçadas e reforçadas. Vou só mesmo, pela última vez, desta vez, atirar palavras que não sejam para ti, palavras que não me mostrem, palavras que me não denunciem, palavras que atiro chorando.
Ué, não tem mais palavras assim. Todas estão a sair com alma. Própria ou alugada. Já as palavras se mudaram. Falto ainda eu.
Sanzalando
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