Mermão, gasóleo faz bué tempo que a gente não tem porque o depósito furou e como podes ver ele está ali fora para consertar. Na nova não tem? Não, respondeu o Ti, já com o pelo a dar sinal que eu é que tinha razão mas ele não a queria dar. Pois então só amanhã na bomba da Gráfica, que essa fecha às 7 da tarde e como já são 8 não há hipóteses. Então aqui se começou outra aventura.
Na terra onde bebi a primeira água, pois que eu fui amamentado algum tempo lá
nos lados do planalto, não tinha uma gota de gasóleo e ainda por cima os
telefones móveis não funcionavam? Não pode ser. Isto não é sonho, é pesadelo
mesmo. Entro na minha cidade quando é noite fechada, pouco lhe vejo, mesmo com
todas as luzes da rua acesas, porque a cabeça está entupida na falta de
combustível do Tico, o coração acelerado por poder respirar o ar da terra que
estava assim como congelada desde o tempo da minha saída penso eu armado em
Chico esperto com olhos no umbigo. Não tem gasóleo? Não tem telemóvel? Vais ver
que quando eu acordar eu tive mesmo foi pesadelo. Os meus conterras me vão bater
quando eu lhes contar isto. Vão dizer que eu sou um inventor de estórias, um
exagerado, mas eu lhes repito que é mesmo verdade. Foi assim o primeiro contacto
com a terra que me deu a primeira água e onde eu caí de mim a primeira vez.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca