"Fio": Estórias à beira-mar
carranca
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Uma estória verdadeira (41) Hoje, 22:36
Forum: Conversas de Café
Gargalharam e despercebi o porquê.
Queres que eu leve o Tico por uns quilómetros? Não. Vai vendo a paisagem, vai escrevendo no teu cérebro tudo o que vês e depois poderes falar. Reparo na passagem de um Kimbo, 50 cubatas que os meus olhos contam num descontar de coisas que podem ser fornos ou outras coisas parecidas, que tem um edifício de cimento, pintado de cor de rosa velho, mas em tinta que se nota é nova, e outro mais pequeno por trás, uns 10 metros na diagonal. Peço para parar e filmo. A casa maior é uma Escola do Ensino Básico com aparentemente duas salas. Aposta no ensino. Gostei deste registo. Reparo que a casa mais pequena tem escrito em cima ‘Casa do Professor’. Fico com atenção nos próximos kimbos. Se há dois assim mais ou menos perto um do outro, vai para cinco ou sete quilómetros, no meio tem edifícios iguais. Fiquei a gostar ainda mais. Nesta hora da manhã, sendo por aí umas nove eu vejo bué crianças que seguem ao longo da estrada de bata branca, um ou outro vão mesmo com roupa normal, caté camisa do F.Clube do Porto eu vi. Mas mesmo a maioria vai e bata. Vais ver aí no escondido da estrada vai ter mais edifícios destes. Pudesse nós parar e conversar e eu tinha feito, mas me disseram que o tempo não dava. Lá para a frente íamos demorar mais tempos e coisas e tal. Resignado concordei e seguimos sempre a olhar a seta do GPS que dizia agora que era para oeste. Se é que eu ainda sei os pontos cardeais. Vais ver a estrada não é sempre a direito e ainda vamos ter que andar para norte. Porque é mesmo que não fazem o sul sempre para sul? Já sei que é para eu me baralhar todo. Mas estes sítios são todos novos para mim. Cada curva, cada imbondeiro, cada kimbo. Tudo vai ficando mesmo na retaguarda do Tico. O pior é que não tem placa a dizer o nome das coisas e sítios por onde a gente passa. Como é que eu depois vou dizer que já estive ali? Não posso! Eu sei que escrevi tudo na cabeça mas acho mesmo que a emoção fez fazer da cabeça um vazio incompreensível. Mas que linda é esta ponte sobre o Rio Kuanza. Me parece nova em folha. Se paga portagem. Ponte memo que é bonita. Se esta ponte é nova como é mesmo que se passava no outro lado antes? Desconheço e esqueci de perguntar. Mas se é passado vai importar mais para quê? Se segue viagem. Desvio para Cabo Ledo. Mas a gente não desvia que o destino é sul e não beira-mar. Aí uê! Já tou a perceber porque disseram que viagem ia demorar mais que o tempo que eu tinha imaginado. Aqui a estrada começa a aparecer assim com uns buraquios que ficam muito juntos que fazem buraco que quando Tico lhe cai roda num faz um barulho que parece bate-chapas a trabalhar na oficina dele. Me dizem que aqui ainda está bom. Eu já acredito em tudo. Destino mesmo agora é Porto Amboim. Vais ver foi o Sr. Amboim que nos tempos de antigamente encostou a caravela aqui e lhe passou a dizer que o porto era dele. Também não fui procurar, imaginei eu mesmo que seja assim. Desconhecia totalmente esta terra. Quer dizer, sabia que existia e que ficava ali. Também nunca tinha imaginado fazer esta viagem assim por isso não fiz os trabalhos de casa. Tem um cidade de barro a cercar a cidade de cimento e asfalto. Quantas pessoas tem esta terra mesmo? Muitas, é só o que consegui ver e saber. Se entra na cidade. Se vai conhecer o Hospital Dr. Agostinho Neto. Pequeno e simpático. Médico, asiático de aspecto, não lhe perguntei origem porque não apeteceu. Visita rápida que há eu abastecer de gasóleo e continuar o rumo com destino ao sul que é essa a nossa rota. Visita rápida mesmo na cidade só para ficar com uma ideia. Se segue mais para sul. A estrada agora parece está mais picotada que estava à pouco. Em sítios mesmo que é melhor andar ao lado dela que nela. Lá dentro do Tico se dança sem música. O ritmo é comandado pelo saltitar de buraco em buraco.
Sanzalando em AngolaCarlos Carranca
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