A Minha Sanzala

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26 de janeiro de 2006

Uma estória verdadeira(47)




"Fio": Estórias à beira-mar

carranca
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Uma estória verdadeira (47) Hoje, 19:56
Forum: Conversas de Café
Bem, foi mesmo piada. A boa viagem recebida era o sinal que agora é que ia começar mesmo a viagem. Até aqui foi cruzeiro. Mermão diz agora é que é. E era mesmo. GPS marca para aí uns 60 km para ali e é Lucira. Em duas horas a gente faz isso. Pensei eu para comigo mesmo que sempre fui optimista até me provarem o contrário. Marcava só meio dia no relógio de um braço que não era o meu. Ai mãe, comecei eu a gritar mentalmente. O Tico ia de pedra em pedra como a anedota do elefante de nenúfar em nenúfar. Vai ser sempre assim, Ti? Como que a desejar que ele respondesse que não, mas a resposta veio pronta que sim. Eram 14 horas e se parou para almoçar mesmo encostado numa oliveira dessas do mato que não sei se dão azeitonas. Mas as folhas eram de oliveira que essas eu conheço, mas se dessem azeitona elas deviam mesmo de ser bravas para não dizer ruins que o tempo estava seco que nem bacalhau depois de muitos dias ao sol. A geleira a funcionar e a dar-nos bem geladinhas que acompanharam o nosso almoço. Sandes de qualquer coisa foi o prato do dia. Viagem é para continuar que no GPS a gente só andou mesmo menos de vinte quilómetros. Esse gajo está maluco pensei eu, fazendo as contas às curvas, pedras e saltos já dados. Algumas vezes a auto-estrada se bifurcava. Sim, auto-estrada porque tinha nalguns sítios uma faixa para as rodas da direita e outra para as rodas da esquerda. Noutros sítios a pedra não deixava ver o separador central, faz conta está cacimbo. A gente escolhia sempre só uma. Na minha opinião escolhemos sempre a errada porque era pior que a outra. Me disseram logo que não era assim, pois se eu não tinha andado na outra como é que eu ia saber? Mas ia dar sempre no mesmo. Só nos tinham avisado que curvas a noventa graus é que não, não porque ferviam a essa temperatura mas porque isso era sinal de desvio para outro sítio que não para onde a gente queria mesmo ir. Se a curva fosse de menos degraus a gente podia seguir que ia dar mais lá à frente no mesmo sítio. E foi esse o teorema adoptado. Mas lá ia a gente na velocidade estonteante de quase zero à hora, de pedra em pedra, de declive em declive. À direita montes de pedras ali à espera de alguém vai lhes apanhar e servir de brita para uma estrada como deve que ser, à esquerda um buraco de só de olhar já está mesmo que assustar. Olha ali uma cabra, gritou um de nós os três que já não lembro quem foi. E lá estava ela na sua elegância a nos tirar a mira como que assustada. Desatou a correr na sua elegância que lhe perdemos a vista num instante. Gente mesmo ninguém. Não vale pensar em avarias aqui que não vai dar azar. Aqui e ali uma carcaça do que foi um veículo motorizado com muitas rodas. Avariou ali e e ali ficou até virar ferrugem descarnada. Rede de telemóvel era igual que nem as companhias humanas que tínhamos. Quando terá sido mesmo que passou aqui alguém antes de nós? Não se vê poeira nem nos muitos quilómetros que a vista alcança. Nem à frente nem atrás. Noutros sítios escrito em pedrinhas nomes de gente que havia passado ali antes. Quando? Sei lá que assinam e não põem data como querem que eu saiba. Fazendo exame ao carbono? E quando é que eu ia chegar ao meu sul? Fui lendo, registando algures numa página do cérebro para recordar quando for velhinho porque agora eu não me lembro

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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