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20 de janeiro de 2006

Uma estória verdadeira(43)



"Fio": Estórias à beira-mar

carranca
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Uma estória verdadeira (43) Hoje, 19:25
Forum: Conversas de Café
Chegámos à Canjala. Me contaram a estória, as suas muitas estórias. Eu sabia outras estórias. Mermão que faz a trabalheira de conduzir o Tico nasceu por estas paragens. Lá ao fundo, estás a ver, né? Fiz a minha homenagem com um minuto de silêncio, um pensamento mais profundo no meu irmão de carteira de escola e outras carteiras da vida. Ele, lá onde ele que está, sabe de quem é mesmo que eu estou a falar.
Depois, de buraco em buraco lá seguimos com o destino traçado. Parámos ainda numa ponte para eu ver onde mesmo os carcamanos foram parados. Vi os restos mortais de uma ponte que lhe baptizei de heróica. Vi as esculturas feitas pelo tempo nas falésias que marginam este rio em curva. Há quantos anos anda este rio a escavar esta garganta, para eu poder parar aqui e lhe admirar e dizer mais uma vez que se calhar o Arquitecto existe mesmo e eu é que sou parvo em dizer que não? Água corre forte parece tem chovido bué nestas paragens, bom sinal para os campos que eu vejo que estão tratados. Se muda de condutor. Agora temos condutora. A cafeeira virou agora co-pilota e tem missão de nos levar no Lobito.
No marco deitado que diz que daqui a 100 quilómetros é o Lobito se pára para almoçar. São mesmo 13 horas e 45 minutos. Se come a comida feita pela mimada que ficou em Luanda e sem Internet. Bem feita para ela que teimou em não nos acompanhar. Se bebe uma ou duas cervejas bem geladinhas que a arca está ligada no isqueiro do Tico. Safari com todas as mordomias. Já bem comidos arrancamos com a finalidade de não mais parar. Co-pilota protesta porque se desvia de buraco mas parece fizeram um naquele instante porque caiu noutro. Vai ser assim um esse depois de outro e secessivamente assim até ao buraco final. Mas a alegria continua a comandar a viatura. Faltam pouco mais de 100 quilometros para chegar ao destino pré-destinado, que fica para lá desse Lobo pequenino. Feitas mil reviangas, andados quilómetros em contra-mão, umas vezes paralelos ao que foi estrada, lá seguimos no nosso rumo. Como o rádio não captava nenhuma estação de rádio, nem apeadeiro, eu propus-me cantar. Proposta de imediato recusada numa só voz de duas pessoas. Se começa a descer e alguém diz: Lobito. De facto era. A Restinga ali bem vista. Mas logo se denota que como nas outras cidades passadas, a cidade de barro cresceu que cercou por todos os lados a cidade excepto pelo lado do mar que continua lá no sítio dele. As salinas, o que outrora se chamou de salinas, estão agora secas e servem de cagatório público. Pelo menos vi várias pessoas naquela posição que não dá nem para desconfiar do que estão a fazer. Não se entra na cidade que a hora é já de quase noite. Foram cinco horas para fazer os cem que foram feitos. Mas aqui mesmo não se deve usar essa métrica do quilómetro para ver a distância. Acho mesmo melhor usar o buraco. Depois de 2000000 de buracos lá chegamos ao Lobito.

Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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