"Fio": Um café na Esplanada
carranca
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Uma estória verdadeira (31) Hoje, 19:42
Forum: Conversas de Café
Mas sair deste mar salgado é coisa que não apetece nem pensar. As pernas já não têm a força para segurar o corpo na areia e então parece bola de ‘bolingue’ a ir nos mecos que mais não são que as pernas dos que ainda se conseguem aguentar de pé e se lhes derruba como que uma facilidade de elefante em loja de cristal. Se resolve a questão com a caça sentada das quitetas que parece estão ali à espera de serem recolhidas para um saco de plástico desencantado não sei onde. Sentado umas vezes, outras mesmo deitado, rebolando involuntariamente na força espumosa destas ondas lá se segue a missão de arranjar um petisco. Camba mais novo é o rei da apanha. Também nome dele se parece com maresia. Vais ver ele tem faro para ver mesmo onde elas é que estão ou então muitas horas de treino neste desporto radical. Camba da barba cinza está ali, rebolando na areia que até parece croquete. Todos na árdua tarefa de fazer aperitivo. Três irmãos de outras eras juntos nas tarefas de outras eras. Foi o recuar do tempo num olhar de futuro. Esses mesmo três que se lembram logo de me recordar do biquini azul do toldo cor de laranja. Estes mesmo que até parece nem cresceram, ficando só com cara de avô só porque os relógios é que não quiseram parar e as barrigas cresceram de estarem sentados a contar estórias de engatar. Alguém diz que é hora de regressar ao ponto de partida na costa que fica no contra da contra-costa. Pesaroso lá acato a ordem e lentamente vou deixando aquelas ondas para trás. Minha alma fica para atrás agarrada a uma kianda. Lhe forço com a força que me resta e lá consigo descontrair nessa força que me empurra no sentido da ordem, outra na desordem. Ganha a primeira e seguindo o carreiro lá vou eu. Recuso olhar para trás. Aproveito para rever toda a paisagem e fazer um filme cerebral para sempre recordar. Parece mais longo o mesmo caminho de regresso. Chegados ao porto de abrigo, deixo o que havia levado vestido e trazido nos braços e sigo para dentro de um mesmo mar porém este cheio de calma e serenidade, onde as suas ondas não chegavam nem ao centímetro. A temperatura parecia maior. Entro nele e me sento como se estivesse numa vasilha de hidroterapia ou coisa assim como que parecida. Cambas se sentam em volta e em volta se iniciam conversas cruzadas, olhos do passado vendo coisas do futuro e vice versa. Não se chora o tempo, vive-se o tempo. Alguém que nem sei se fui eu ou outro diz que nós somos o somatório dos nossos passados. Aceno com a cabeça parecendo mais culto que a cultura que trago, já que dentro de mim só está mesmo a alegria de estar ali rodeado de amigos de outros e de novos tempos. Ali mesmo não interessa o nome dos rios que correm do sul para o norte ou antes pelo contrário. Ali não interessa se a serra é um conjunto de montes ou um instrumento de corte. Ali não há corte. Ali há o estar, o viver a vida do instante.
Sanzalando em AngolaCarlos Carranca
Carranca
ResponderEliminarAntes de escreveres o livro, responde-me uma coisa. Satisfazes-me a curiosidade e se calhar de muitos outros, aí do Algarve, amigos dos ciganos, que não do Zé Manel ou do Ricardo, ciganos como os de além mar. Há barcos de recreio em Angola? Não foram levados pelos ciganos?.
Um abração e até já!
FIFER
Então tu não estás a ver que os que aparecem na foto são só cenário. Eu aprendi a tirar fotografia lá na America onde nunca fui.
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