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17 de setembro de 2006

02 - Estórias no sofá - Uma morte anunciada - 4

A morte muda de voz e me pergunta se eu não me chamo Arnaldo. Lhe respondi que não. Meu nome é Serenando. Serenando desde que fui baptizado, pelo menos é assim que eu sempre me lembro de como me chamam. Arnaldo é o vizinho do lote 16.
Aí olho nos olhos da minha companheira de tantos anos já com um receio cerebral a ferver no emaranhado de ideias e revoluções convulsivas e, quando olho, num repente para a morte, lhe vejo uma cara de envergonhada e lhe ouço numa voz doce e meiga a me dizer para a gente esquecer de tudo o que aqui tinha acontecido, desculpando-se com a escuridão que a levou a bater na porta errada. A morte sai sorrateiramente do quarto e caminha para a cozinha onde se senta sobre a mesa, frente ao relógio de parede. Volta ao quarto no exacto momento que me vê a disparar uns quantos tiros no peito da minha companheira de tantos anos. Me vê a sair dali com a arma e se senta na minha cama, ao lado do corpo moribundo da minha companheira de tantos anos, e lhe diz, novamente com a voz cavernosamente rouca, que fora a única maneira que encontrou para a levar, pois com a vida saudável que ela levava nem daqui a 100 anos lhe conseguia. Quando acaba de lhe falar estas coisas ouve mais uns quantos tiros, vindos da casa ao lado. Levanta o dedo em riste e diz que o Arnaldo deve estar já pronto também, a tempo de os três apanharem o comboio das sete para o inferno.
Foi neste exacto momento que acordei ao som do despertador.
Sanzalando

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