recomeça o futuro sem esquecer o passado

Podcasts no Spotify

9 de setembro de 2006

Hoje falo de ti

Caminho isolado na areia das mil cores.
Neste mar que se transformou hoje num deserto de gente, deixando-me na solidão interior, cordão umbilical cortado, movimentos de entrar e sair apagados. Silêncios absolutos interrompidos apenas pela minha voz como que num suspiro.
Aqui passeio os meus falares, as imagens dos meus olhares, a voz surda da solidão, tendo-te sempre como companheira, ouvinte e dialogante silenciosa. Ouves-me e me respondes, como sempre com o teu olhar. Te chamo a minha sombra porque tu rodas sobre mim, acompanhas-me nesta caminhada em que às vezes parece uma escada onde mais um degrau foi subido, como tantos outros que foram depois descidos. Mas tu me acompanhas num sempre presente, transmitindo uma força ascendente impeditiva de desistir.
Te digo que não é possível vivermos num paraíso, mas podemos ser um oásis de paz no regaço de quem amo e de quem te tenho tantas vezes falado e tu me ouves com um olhar de sabedoria e compreensão.
Não podemos escolher tudo o que nos acontece, mas quase sempre podemos escolher o modo como reagimos àquilo que nos acontece. Podemos fugir à tristeza? Não. Podemos impedir todas as perdas? Não. Podemos prender a nós todos os que amamos? Não.
Mas podemos usar os momentos de dor e separação como razão para tornar ainda mais importantes os momentos nos quais estamos ao lado dos que amamos; podemos tornar nosso trabalho mais profundo, podemo-nos tornar pessoas diferentes daquilo que já somos. Podemos escolher nossas reacções e os nossos caminhos perante os obstáculos que obstaculam o nosso caminho. Podemos ser, hoje, melhores do que fomos ontem e conseguirmos recuperar a capacidade de sorrir. Podemos ser felizes mesmo quando a realidade é dura, a reacção, a resposta a ela pode-nos levar para frente, para novos horizontes e uma vida mais cheia, mais parecida com aquilo que é o sonho que nos guia ou podemos ser derrubados e desistir, cruzar os braços e deixarmo-nos levar como uma lata é levada na corrente deste zulmarinho que nos é testemunha dos sonhos e desejos.
Bebo uma birra geladinha para ter força vocal para te continuar a falar, todas as estórias que me chegam à boca, vindas desde o início do zulmarinho.

Sanzalando

2 comentários:

  1. Como um camba já referiu, tás caprichando, e tás fazendo muitos olhos arregalar! Continua, porque a tua conta de birras está paga, por muitos anos!

    ResponderEliminar
  2. Desistir é morrer.
    Devemos teimar nesta dificil arte de sobreviver!
    SJB

    ResponderEliminar