A Minha Sanzala

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2 de setembro de 2006

Intimidades (3)

Caminhamos à beira do zulmarinho, num caminho que nos leva a destinos distintos, uns em linha recta, outros com bué curvas. Se tu me segues, umas vezes ao lado, outras atrás, outras ainda vais na minha frente como que a me ensinar por onde ir, é porque gostas de me ouvir falar, de me ouvir barafustar, de escutares os gritos dos meus silêncios.
Estes caminhos, que nos levam aos nossos destinos, nunca são cruéis mas sempre justos, mesmo que em momento certo nos passe pela cabeça a injusteza e crueldade desse destino. Tu sabes que eu sei que onde estou hoje o devo aos meus erros e a meus acertos acertados. Hoje estou no destino justo porque não sou mais que a circunstância, a possibilidade, a decisão e indecisão. Hoje estou no que a vida me permitiu ser, depois de pesados e medidos todos esses erros e esses acertos. Não estou nem à frente nem atrás de uma parte reflexiva rápida, sabendo tu que eu te me apresentei desde que nos sabermos sermos gente. E desde essa altura que sabes dos meus amores e desamores, das minhas alegrias e meus desânimos.
Tu sabes e podes assegurar-me na recordação de uma tomada de consciência, desde a minha meninice e adolescência, os meus caminhos são espasmos visuais que só me fazem recordar coisas boas e outras que as não foram, porém nunca as posso dizer que foram más, cruéis, inapropriadas para e por mim.
A vantagem de me recordar só de pedaços desses caminhos se poderia dever a uma dislexia mental que me faz continuar a sentir que nunca sai dessa fase de menino ou adolescente. Tenho a vantagem de, escondendo-me nessa dislexia mental, saber que nunca a deixei de amar, de que ela, mesmo nos seus silêncios e nas suas ausências de mim, dando sentido a cada segundo da minha existência aqui ao teu lado, à tua frente ou atrás de ti, nesta minha infância de paixão por ela.
Tu sabes que neste caminhos caminhados à beira do zulmarinho, ao sabor da maresia, as estrelas me acompanham em cada hora do dia, zelam-me e me protegem uma sombra de escudo inviolável.
Os caminhos menos rectos, aparentemente trágicos, desgravados da minha memória, moldaram-se pelos os outros caminhos, talvez triangulares, quadriláteros, círculos árcticos ou anárquicos, numa pedalada de escadarias esbatidas e que servem só como pontos minúsculos de referência, pequenas fogueiras sinalizadoras mas não queimantes nem capazes de desfazer amores solidificados e calcificados em eternidade.
A verdade é que tu me continuas a acompanhar nesta cruzada de pensamentos e diálogos a uma voz, transpondo-me a certeza que o caminho escolhido é o mais recto, mesmo que não seja o mais curto ou fácil.
Agora, minha sombra de existência, vamos entrar no zulmarinho e deixar que o seu conjunto de lágrimas nos arrefeça o corpo e nos lave a alma.
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