A Minha Sanzala

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6 de setembro de 2006

Intimidades (7)


Hoje estou longe. Longe até de mim. Mas mesmo assim tu me segues. Em todo o lado me consegues encontrar, me fazes falar-te das coisas que eu sei que existem, que são verdadeiras mesmo que nunca tenham acontecido. Me obrigas a dar-te com as letras numa voz afinada por uma estupidamente gelada cerveja.
Mas para te dizer a verdade, a tua companhia me é mesmo muito boa, mesmo quando não estou nem em mim, mesmo quando te digo que não te estou para aturar e coisas que tal.
Se tu não me acompanhasses num constante presente como poderia eu falar da minha alma, a própria e da gémea? Na verdade eu te digo que contigo eu acabei por encontrar o melhor que há em mim que é ela, aquela que me persegue em cada segundo existente e também nos ausentes.
Tu sabes que a minha sede é mesmo de estar com ela, lá no outro lado da linha recta que é curva, e que não há nem birras geladas nem outras coisas belas que me façam esquecer ou ausentar-me dela.
Tu existes porque te fui buscar lá bem longe, mais para lá do sol posto, no intimo dos meus desejos. Tudo porque te queria falar das cores dos meus anseios, dos calores dos meus apetites, do entardecer, da minha solidão preenchida por ela, nas rimas de carinho, nas sombras do sol, no piscar das estrelas, na lua cheia ou vazia de coisas audíveis ou visíveis. Fui buscar-te para me acompanhares nas birras loiras estupidamente geladas e dizer-te os meus poemas que lhe fiz numa prosa desconexa de sons e imagens.
E no meio disto tudo ficaste a saber mais de mim que eu mesmo sei, de que o nome dela derrama em mim um misto de melodia e melodrama, a sua imagem é-me como se fosse uma constante primavera dentro do meu cérebro contornado por um corpo já cansado de esperar a esperança.
Tu sabes que me falta a coragem para chegar mesmo nela e lhe dizer todas as coisas que tu sabes que eu lhe havia de dizer. Sabes que não é medo, sabes que não é aventura. É mesmo a capacidade de viver a minha procura que eu procuro.
As tantas coisas que tu já me ouviste falar que eu mesmo já não sei se me ouves por ouvir, se é porque tens um amor que nem o meu. Se calhar te apetece dizer-me que no me ouvires sentes o perfume desse amor que trazes escondido, que os meus gestos te fazem lembrar as curvas desse amor calado, que o meu olhar te faz viver na primavera desse amor sentido numa outra dimensão.
Tu sabes que eu queria sempre viver nela com ela, se calhar como tu gastarias de viver esse teu amor num sonho interminável.
Sanzalando

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