A Minha Sanzala

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18 de setembro de 2006

03 - Estórias no Sofá - Criação do Amor

Jeremias cresceu criando um mundo. Um mundo que não era este que eu uso e abuso. Era um mundo que só existia mesmo na cabeça dele.
Os dias foram passando e ele lá ia inventando coisas novas para pôr no seu mundo. Esse mundo foi crescendo segundo as coisas que ele criava.
Jeremias criava inventando coisas novas e o seu mundo foi crescendo nesse ritmo.
Olhava as coisas sem nenhuma curiosidade, vivia a vida sem vontade e o nosso mundo era apenas o espaço onde ele descansava os pés.
Quando ele pensou em criar as coisas para não pisar no outro mundo, que é o nosso mundo, pensou em asas e sapatos. Mas isso não tinha graça, existia neste mundo. Queria algo tão grande, tão forte, que lhe fizesse levitar.
Um dia ele inventou o amor e nem pensava em amar.
Nunca pensou em ter o coração a bater mais forte, nem em contar coisas novas para os amigos, nem se quer em dormir abraçado.
Queria mesmo era só não pisar no mundo e até voar, mas sem asas.
Quando ele inventou o amor era um dia comum, desses que não entram para história e nem são comemorados em qualquer roda de amigos e também não era feriado desses que a gente nem faz ideia porquê que é feriado. Se chovia, não se sabe, mas que não fazia sol isso era quase certo. Para Jeremias não havia sol. No seu mundo o futuro e o passado conversavam animadamente, pois nada impedia que eles fossem amigos.
Quando ele inventou o amor, nem percebeu o que havia criado, nem onde se tinha metido.
O futuro zangou-se com o passado e nunca mais se falaram. O presente virou mensageiro, mas se falasse mais de um do que de outro, havia briga da grossa.
No seu mundo estavam todos os corações carregados de poetas sedentos por ter o que escrever.
Quando ele ficou sem palavras, percebeu o que tinha criado, no que se tinha metido.
Nome para esta sua criação ainda não tinha e a lua cheia rapidamente gritou alto e bom-tom a palavra Amor.
Quando ele percebeu o amor, seus pés já não pisavam o mundo, o seu coração já não batia em compasso ritmado e cadência certa, as palavras lhe faltavam na voz e sobravam nas mãos. Os poetas comemoraram e foram atrás de rimas com amor.
Quando ele sentiu uma falta e a uma lágrima se segui outra, gritou: Dor.
Mas não rimava. Doía, mas não rimava. Saudade rimava. Mas Jeremias não gostava. Poetas iam gritando palavras para definir o amor, ele ia recolhendo as lágrimas para sentir o amor, a lua era cortejada para exibir o amor.
Quando ele inventou o riso dela e lhe viu um olhar meio de lado, sorriu: Rima!
E o amor passou a rimar perfeitamente com aquele riso

Sanzalando

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