Era a casa de Jacinto. A noite tinha caído faz pouco tempo, no bairro da periferia onde vivia Jacinto. Era numa noite destas como outra qualquer, num sítio destes como podia ser num outro sítio qualquer. Depois do jantar, Jacinto num gesto carregado de vício, apalpou o bolso da camisa, revirou os bolsos das calças e procurou em todos os cantos da sala, onde assistia ao fim das notícias e vazio encontrou o maço de cigarros que tanto procurava. Virou-se para a mulher e lhe disse numa mistura de satisfação e despreocupação que ia sair para comprar os cigarros que se tinham acabado.
Na verdade verdadeira é que não voltou mais. A tabacaria era ao virar da esquina e o bar uns quinhentos metros rua abaixo, se é que uma rua plana pode ter alto e baixo.
As horas foram passando na sua imperturbável cadência.
A esposa do Jacinto, noite cerrada, cansada de lhe esperar o procurou no bar, que a tabacaria fazia horas que estava fechada, no bairro todo, nas redondezas do bairro periférico. Nada de Jacinto. Ninguém sabia e ninguém sequer lhe tinha posto o olho em cima. Aqui o Jacinto nunca vem de dia quanto mais vir de noite, foi o que lhe disseram. Resolveu ir na esquadra da polícia. Nada e não tinham tomado conta de nenhuma ocorrência nesta noite de calma nos bairros periféricos. Da polícia alguém tem a brilhante ideia de telefonar para os hospitais, para todos os bares que pudessem estar abertos àquela hora tardia da noite, todos lugares possíveis e imaginários foram procurados via telefone.
Nada, nem rasto nem pegada.
Por vários meses e nada, a mulher de Jacinto lhe procurou.
Deve ter levantado voo porque não havia um só olho que o tivesse visto. Foi dado como morto, mesmo sem funeral com corpo a enterrar.
A mulher e os seus dois filhos se fizeram à vida como puderam, sem ele. A mulher começou a trabalhar e com dificuldade lá foi criando os dois filhos pequenos que iam crescendo órfãos de pai.
Passaram-se dois natais e mais uns quantos dias que já ninguém contou depois de um luto cerrado e eis que ele aparece, com cara de um quase falecido, fato novo porém carregado de nódoas e amarrotado como uma folha de papel usada e deixada num lixo qualquer. Muito magro que mais parecia uma radiografia do que o Jacinto de outrora, de olhos cavados mostrando noites mal dormidas e com uma tosse seca, persistente e irritante.
Sanzalando
Na verdade verdadeira é que não voltou mais. A tabacaria era ao virar da esquina e o bar uns quinhentos metros rua abaixo, se é que uma rua plana pode ter alto e baixo.
As horas foram passando na sua imperturbável cadência.
A esposa do Jacinto, noite cerrada, cansada de lhe esperar o procurou no bar, que a tabacaria fazia horas que estava fechada, no bairro todo, nas redondezas do bairro periférico. Nada de Jacinto. Ninguém sabia e ninguém sequer lhe tinha posto o olho em cima. Aqui o Jacinto nunca vem de dia quanto mais vir de noite, foi o que lhe disseram. Resolveu ir na esquadra da polícia. Nada e não tinham tomado conta de nenhuma ocorrência nesta noite de calma nos bairros periféricos. Da polícia alguém tem a brilhante ideia de telefonar para os hospitais, para todos os bares que pudessem estar abertos àquela hora tardia da noite, todos lugares possíveis e imaginários foram procurados via telefone.
Nada, nem rasto nem pegada.
Por vários meses e nada, a mulher de Jacinto lhe procurou.
Deve ter levantado voo porque não havia um só olho que o tivesse visto. Foi dado como morto, mesmo sem funeral com corpo a enterrar.
A mulher e os seus dois filhos se fizeram à vida como puderam, sem ele. A mulher começou a trabalhar e com dificuldade lá foi criando os dois filhos pequenos que iam crescendo órfãos de pai.
Passaram-se dois natais e mais uns quantos dias que já ninguém contou depois de um luto cerrado e eis que ele aparece, com cara de um quase falecido, fato novo porém carregado de nódoas e amarrotado como uma folha de papel usada e deixada num lixo qualquer. Muito magro que mais parecia uma radiografia do que o Jacinto de outrora, de olhos cavados mostrando noites mal dormidas e com uma tosse seca, persistente e irritante.
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