A Minha Sanzala

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26 de setembro de 2006

06 - Estórias no Sofá - Num banco de Jardim - 1 de 2

Humberto se sentou num banco de jardim que fica assim mais ou menos que perto da casa dele. Humberto hoje não tem a cara de quem a gente está habituado a lhe ver. Me sentei ao lado dele no banco verde do jardim.
Lhe disse olá mostrando todos os meus dentes, mostrando na voz uma alegria que nem eu mesmo sabia que tinha.
Humberto, sem dizer ao menos um olá, me disse que precisa dar um rumo na vida. Sair por aí chutando latas vazias, ver o pôr do sol, ver o nascer do sol, tomar banho de chuva, brincar com as cores do arco íris, cantar uma canção, pular os muros dos vizinhos e sentir o cheiro de terra, regressar à vida.
Lhe perguntei, mais não seja para ele não se sentir ali sozinho, mesmo estando eu a seu lado, se ele precisava encontrar o verdadeiro sentido da vida.
E continuei a falar coisas que me vinham à cabeça assim num repente que nem tinha tempo de pensar nelas. Precisas daquilo que te fará correr mais forte, aquilo pelo qual o teu coração irá disparar.
Me olhou nos olhos e disparou que precisa sentir o vento num dia quente, sentir e não ter medo de dizer o amor, ser amado e gritar ao mundo sem receios.
Aí foi minha vez de baixar a cabeça e assim numa surdina lhe disse que o que ele precisa é mesmo fazer uma longa viagem.
Lhe interrompi antes mesmo dele começar a falar, que essa viagem não é para o estrangeiro, não é para outra cidade. É bem mais perto que isso, porém muito longe, tanto assim que pouca gente já fez essa viagem.
Nos seus olhos lhe vi admiração e interrogação, ao mesmo tempo que parece ter pensado que eu, Antenor da Silva, me tinha cacimbado duma vez só.
É, disse eu antes que ele me mandasse dar uma volta, precisas viajar dentro de ti, conhecer o teu coração esse mesmo.
Me perguntou como é que ia mesmo para dentro dele se já lhe custava estar assim fora dele.
Precisas ter a cabeça leve, saberes escorregar docemente pelas coisas boas da vida sem ter a preocupação quando é que ela vai ficar amarga se é que alguma vez vai ficar, parar de tremer na alma, aprender a sentir, rematei eu logo em prontidão, lhe fui falando mostrando que estava tão lúcido quanto ele mesmo

Sanzalando

2 comentários:

  1. Olá Carlos

    truz...truz...posso entrar na sanzala?
    Cá estou eu, começo por agradecer a tua visita ao meu kalinka e, as tuas simpáticas palavras. Aceitando o convite cá estou.

    Gostei da história do Humberto... .
    Ah...como ele estava certo, dar um rumo na vida. Sair por aí chutando latas vazias, ver o pôr do sol, ver o nascer do sol, tomar banho de chuva, brincar com as cores do arco íris, cantar uma canção, pular os muros dos vizinhos e sentir o cheiro de terra, regressar à vida.

    Pois, tal como o Humberto também eu estou a precisar de fazer essa viagem...mas, erradamente, peguei em mim e fui para Marrocos...não deu certo, não era isso que eu precisava.
    É bem mais perto que isso, porém muito longe, tanto assim que pouca gente já fez essa viagem.

    Preciso de viajar dentro de MIM.

    Obrigado por me teres ajudado a «ver» o que estou a precisar.
    Beijokas moçambicanas.

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