Me contam e eu vos conto. Desnecessito lhe acrescentar pitada.
Esses olhos negros como a noite onde o luar passeia, contam fábulas quando os animais falavam, poemas que falam dos segredos das noites misteriosas, de luas lindas e de céu estrelado, praias de areia fina, de perfumes embriagadores das flores, do perpassar do vento que faz baloiçar os bambús e as copas dos densos palmeirais...era uma vez lá no reino do Obô, numa dia de festa:
O rei Leão mandou avisar todos os animais que a partir daquele dia ninguém poderia mais comer as mangas do seu quintal, a não ser ele.
O macaco não gostou nada da ordem e resolveu pregar-lhe uma partida.
Fingindo-se muito aflito, aproximou-se do muro do quintal e começou a berrar:
Acudam, acudam, acudammmmmmm...
Vieram os guardas e perguntaram:
O que tu queres macaco? Não sabe que o Rei está a dormir?
O macaco respondeu:
Tenho uma coisa muito importante a dizer ao Rei se ele me quizer ouvir.
Um dos guardas muito zangado respondeu-lhe:
Claro que o Rei não há-de querer ouvir-te, pisga-te e não voltes a incomodar-nos.
O macaco insistiu:
Nesse caso, peço-vos que me amarrem com todas as vossas forças contra uma árvore, porque vem aí garroa, que não vai deixar nada no lugar.
Os guardas impressionados foram contar ao Rei e este prontificou-se logo a falar com o macaco.
É verdade o que dizes?
O macaco respondeu:
Se não for verdade, manda-me arrancar os olhos e cortar a língua.
O leão convencido, mandou que o amarrassem, a ele primeiro, à mais robusta árvore. Os guardas por sua vez pediram uns aos outros para se amarrarem mutuamente.
O macaco fingia estar aflito e perguntava:
E a mim quem me amarra?
Cala-te bicho insignificante respondiam
O macaco logo que apanhou todos bem amarrados, trepou para a mangueira e encheu-se de mangas até não poder mais. Só então o rei percebeu a esperteza do macaco e jurou vingar-se.
Um dia, o leão fez uma grande festa e convidou todos os animais, na esperança de apanhar o macaco.
Este, foi ter com a galinha de angola e pediu-lhe as penas, foi ter com o faisão e pediu-lhe o carapuço, que enfiou na cabeça.
Quando chegou à festa, o rei muito intrigado perguntou:
E tu quem és?
Sou o filho do Obô,
O rei sentiu-se muito honrado com tal presença que o tratou com todas as atenções.
No fim da festa deram-lhe uma bela cama para descansar. O macaco tirou o carapuço e adormeceu profundamente de tão estafado que estava. A leoa preocupada com o ilustre convidado foi verificar se estava tudo ao seu gosto e qual não foi o seu espanto quando reconheceu o sr. macaco.
Foi logo avisar os guardas, cercaram a casa, o macaco acordou com tanto barulho e pensou:
Que hipóteses tenho de escapar? Tenho que pensar numa saída e bem rápido.
Ouvia os cães a labrar e lembrou-se que na sua fuga iria ser perseguido por eles.
Encheu um saco com ossos, saltou a janela e à medida que corria que nem louco ia atirando os ossos aos cães.
Mas infelizmente havia um que não desitiu e continuou a correr atrás do macaco. Cansado e sem forças, tropeçou numas raízes que escondiam uma toca e meteu-se lá dentro.
O cão, raivoso, começou a cavar e apanhou o rabo do macaco, mas o sabichão logo se pôs a berrar:
Olha o grande parvalhão, agarra uma raiz e pensa que me apanhou.
O cão larga o rabo do macaco e vai-se embora.
Sanzalando com MC