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13 de outubro de 2006

10 - Estórias no Sofá - A carta - 1 de 3

Faz sol. É o começo do tempo quente. Também chove a chuva que lhe chamam de tropical. Porque molha e aquece, só pode ser. Não, é mesmo porque estamos nos trópicos. Eu me mantenho nos tópicos, mesmo que esteja num Polo. Outros nos utópicos. Mas o que conta é a tropicalidade.
Hoje resolvi fazer arrumações. Casa arrumada tem outro aspecto. Aproveito para encher o meu tempo. Porque se encontra sempre o que não se procura quando se fazem arrumações. Encontrei uma caixa que fora outrora de sapatos, tendo agora uma função diferente. Segredos e contas pagas e outros papeis que podem ser precisos. Alguns há anos que ali estão pacientemente esperando serem úteis em vão.
Abri a caixa donde entre muitos papéis encontrei uma carta. Esperadamente uma carta por abrir.
Que diabo faz aqui esta carta, pensei dentro de mim. Porque é que eu não rasguei esta carta?
Quem é que se dá ao trabalho de escrever uma carta, ir ao correio, colar um selo e depois ir metê-la no marco, se sabe bem que o outro não a vai ler?
Mas será possível que ela não tinha compreendido o que se estava a passar? Eu decidi nunca mais ouvi-la. Eu disse-lhe e acho que de forma bem clara.
Ela também não teve um período que nem me queria ver, desviando-se e cortando qualquer conversa? É evidente que eu nesses dias me degradei. Foi-se o apetite, foi-se a vontade de existir. Ultrapassei e não quero voltar a acorrentar-me e um dia voltar ao mesmo. Acabou é porque está acabado.
Disse-lhe tudo, num texto semi-decorado, com improviso disfarçado, por vezes com palavras a se enrolarem na boca, parecia tinha eu vertido uma tantas garrafas de qualquer coisa.
Parece ela não entendeu. Talvez a entoação não tenha sido a mais correcta. Talvez o conteúdo tenha sido adulterado nalgum embargo linguístico.
Li as primeiras cartas que recebi. Li e rasguei-as. Esta foi atirada para dentro da caixa que só se abre para guardar para a eternidade algum papel, algum recado, contas pagas e coisas que não vão ser precisas mais mas que a gente guarda por hábito ou porque é conveniente.
Porque abri eu agora esta maldita caixa se não tenho nada para lá dentro colocar. Re-caixei a carta e ganhei tempo para pensar o que fazer com ela.

Sanzalando

1 comentário:

  1. Viva Carlos:

    Com que então de férias heinn!! :-)
    Espero que tudo corra pelo melhor.
    ... mas é o que eu digo, lá mais para a frente tens que fazer um apanhado destes teus artigos e publicares um livro, "mai" nada.

    Um abraço,

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