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16 de outubro de 2006

11 - Estórias no Sofá - O rubor da Mentira - 1 de 2

Descalcei-me, tirei as meias, dobrei as calças até meio da perna e enterrei os pés na areia ainda húmida da maré-cheia da hora do almoço.Senti os grãos de areia abraçarem-me os pés. A sensação entre os dedos era relaxante enquanto olhava o mar azul cinzento e chão de um dia de Outono, momento de praia-mar e pequeníssimas ondas num bailado repetitivo lambiam a areia, onde bandos de gaivotas esperavam pela noite. É ainda muito cedo, pensei. Faltava uma boa hora para se ouvir o cair do crepúsculo para as abraçar e as levar numa migração para outro porto de abrigo.
O céu carregado de nuvens denunciava que a noite não seria serena nem ia havia lugar para luar.
Indolentemente embriagado pelo cheiro a maresia e com o som cadenciado das pequenas ondas, via-a ao longe e fixei-a enquanto caminhava à beira da praia. Não mais a perdi de vista. O mar, a brisa, o refugio da solidão passaram para um plano inclinado de importância.
À medida que se aproximava admirei-lhe a forma esguia, o cabelo negro solto à brisa e o vestido, na minha opinião, leve de mais para esta época. Vinha descalça, num ritmo de ninfa, com uma toalha azul pendendo da mão, num ar de desleixo ou de descontracção absoluta.Virou-se repentinamente e caminhou na minha direcção.
Num choque de prazer, olhei-a com inconsciente e estéril pensamento. Que quereria aquela insólita e linda sereia de mim. Parou quando chegou perto de mim e depois de uns instantes cumprimentou.
- Olá, boa tarde.Respondi-lhe, dizendo que a tarde não esteve grande coisa até este momento, mas que tudo me indicava que ia melhorar.
Ela sorriu, com inteligência nada disse, estendeu simplesmente a toalha uns três passos à minha frente e sentou-se, admirando o mar. Bebia todo o mar naquela pose.Aproximei-me e sentei-me a seu lado, guardando uma distância educada, mas não conservadora, já que, tinha sido ela que convidativamente se aproximara.
Puxei de um cigarro, com a secreta esperança de que um novelo de fumo suavizasse ou amenizasse uma conversa pacífica que eu adivinhava ia haver.
Acendi-o. O clic-clac clássico do zippo de estimação, pareceu interessá-la.
Perguntei-lhe se queria um cigarro.
Estendeu-me a mão. Passei-lhe o maço donde tirou um voltando a estendê-la pelo zippo, que me apressei a colocar na frágil mão que senti quente e macia. Acariciou-o como uma apreciadora, enquanto lhe admirava a finura de dedos. Acendeu-o, protegendo a chama do pouco vento com uma delicada mão em concha e após uma forte puxada, perguntou-me o que fazia ali.


Sanzalando

3 comentários:

  1. "Sonhos que completam vazios, oceanos de recordações, sem dúvida, JC, nasceste bafejado por esse daimon, privilégio de alguns somente. Permite-nos, mermão sonhar o teu sonho e sentir as estórias repletas de misturas de afectos, que sem tanto o homem não vive."

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  2. Viva Carlos:

    Passei por aqui para lêr as tuas novas, sempre interessantes, e dizer-te que és uma visita obrigatória.

    Um abraço,

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  3. P'ra te dizer que gostei muito desta escrita. Mas muito mesmo.
    Outro ;-*

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