Hoje viajo sem destino, sem ponto planificado anteriormente. Já não viajo para, viajo a.
- Mãe, quero ir para a casa do avô! Era o tempo do cacimbo, era o tempo de ir ao planalto viver a vida do cieiro e outras coisas mais.
- Como é que queres ir? Pergunta sacramental. Sabes que estou a trabalhar e não posso ir assim.
- Vou de comboio, mãe. Tem tanta gente que vai que eu não vou sozinho. Dizia logo eu como que a ensinar o abc de mãe.
Lá conseguia levar a minha avante e um dia às tantas da noite me metiam no comboio, mala castanha de imitar cabedal, trouxa de pano com farnel, algum conhecido, mesmo que só de vista na carruagem, e era a aventura no seu início.
Como se fosse dia escolho lugar ao pé da janela. Mais não via que o meu reflexo. Imaginava a vista, a longa planície a ser desventrada pelo monstro negro fumegante e mais as suas tantas carruagens de primeira, segunda e terceira classes e mais uns tantos vagões de carga. Eu estou do lado de fora a ver-me a fazer a viagem. Uma ponte que se passa. O barulho dos rodados é diferente, a velocidade é diferente. Se ele não cruza nenhuma estrada porque apita ele. Vais ver é só para marcar o seu território, é o seu egoísmo a dizer que ele vai ali.
Na primeira hora já mais de metade do farnel tinha ido.
Eu continuo de fora a ver-me viajar no velho comboio a vapor. Sulca a planície. Pára quando tem de parar. Pára para deixar passar outro que vem em sentido contrário, pára para deixar ou receber alguém, ou carga. Pára porque tem de parar. É noite e eu não consigo ver porque é que ele tem de parar.
Sentado na janela, vendo o meu reflexo sigo viagem até ao meu destino.
Agora, no presente, me vejo subindo num vagão novo, logo à entrada me pedem o bilhete, picam-no e com um sorriso de plástico me devolvem, sento-me no lugar marcado, pode ser perto da janela, pode se no meio do corredor, já não vejo as cabines de 2ª classe para seis pessoas, sou um número da companhia dos caminhos de ferro
Como eu gostaria que viajar de comboio agora fosse uma alegria como nos tempos de criança. Como são tão contraditórios os sentimentos que levo dentro de mim e os que a memória me transmite.
Sanzalando
- Mãe, quero ir para a casa do avô! Era o tempo do cacimbo, era o tempo de ir ao planalto viver a vida do cieiro e outras coisas mais.
- Como é que queres ir? Pergunta sacramental. Sabes que estou a trabalhar e não posso ir assim.
- Vou de comboio, mãe. Tem tanta gente que vai que eu não vou sozinho. Dizia logo eu como que a ensinar o abc de mãe.
Lá conseguia levar a minha avante e um dia às tantas da noite me metiam no comboio, mala castanha de imitar cabedal, trouxa de pano com farnel, algum conhecido, mesmo que só de vista na carruagem, e era a aventura no seu início.
Como se fosse dia escolho lugar ao pé da janela. Mais não via que o meu reflexo. Imaginava a vista, a longa planície a ser desventrada pelo monstro negro fumegante e mais as suas tantas carruagens de primeira, segunda e terceira classes e mais uns tantos vagões de carga. Eu estou do lado de fora a ver-me a fazer a viagem. Uma ponte que se passa. O barulho dos rodados é diferente, a velocidade é diferente. Se ele não cruza nenhuma estrada porque apita ele. Vais ver é só para marcar o seu território, é o seu egoísmo a dizer que ele vai ali.
Na primeira hora já mais de metade do farnel tinha ido.
Eu continuo de fora a ver-me viajar no velho comboio a vapor. Sulca a planície. Pára quando tem de parar. Pára para deixar passar outro que vem em sentido contrário, pára para deixar ou receber alguém, ou carga. Pára porque tem de parar. É noite e eu não consigo ver porque é que ele tem de parar.
Sentado na janela, vendo o meu reflexo sigo viagem até ao meu destino.
Agora, no presente, me vejo subindo num vagão novo, logo à entrada me pedem o bilhete, picam-no e com um sorriso de plástico me devolvem, sento-me no lugar marcado, pode ser perto da janela, pode se no meio do corredor, já não vejo as cabines de 2ª classe para seis pessoas, sou um número da companhia dos caminhos de ferro
Como eu gostaria que viajar de comboio agora fosse uma alegria como nos tempos de criança. Como são tão contraditórios os sentimentos que levo dentro de mim e os que a memória me transmite.
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ResponderEliminarViva:
ResponderEliminarÉ isso, recordações... a vida é feita delas.
Um abraço,
NB: Introduzi, por engano pois pretendia que estivesse em 'draft', um post que está em estudo para colocação posterior. Agradeço o comentário que fizeste que gostarei de ver noutra oportunidade. Obrigado.
Tambem gostei, porque estou inteiramente de acordo como era diferente o que sentíamos qdo faziamos aquela viagem...
ResponderEliminarEstou em dia com a leitura.
Abraços
Walter