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25 de outubro de 2006

13 - Estórias no Sofá - Descoberto depois de morto - 2 de 4

Sai daquela barafunda, eu que andava fazia pouco mais de meio ano, naquela carreira, e apanhei um táxi que me levou ao meu trabalho, no centro do meio da cidade. Atrasado tive que dar as explicações e com não havia comprovativos dos acontecimentos, alguns se riram, outros fizeram só mesmo aquela cara que a gente sabe estão a nos chamar de mentirosos.
Amanhã de certeza vem no Jornal e eu quero ver quem é que me vai pedir desculpa, disse eu já contrariado e exaltado.
Passei o dia a matutar no assunto. Como pode andar alguém 40 anos assim num diariamente e ninguém conhecer mais que um bom dia? Afinal de contas ele já fazia parte do autocarro, ele já era parte da carreira.
Ao fim do dia, o mesmo autocarro, as mesmas pessoas com a falta de Justino. O silêncio era fúnebre e ninguém se sentou na cadeira em que ele se sentava nas todas as viagens de uma vida. Respeito ou medo de algum contágio? Não sei, não perguntei, mas na verdade também ali não me sentei. Nunca ouvi tão bem o barulho do motor a gasóleo daquele autocarro. O sofrimento dele nas subidas, o alívio nas descidas, o chiar dos travões. Aquele autocarro afinal tinha vida própria e só hoje, no silêncio fúnebre duma viagem, lhe tomo conhecimento. Nenhum comentário, nenhuma palavra sobra a viagem da manhã.
Na manhã seguinte, antes de apanhar o habitual autocarro, comprei o jornal. Não fora o único. Todos dentro do autocarro ou o tinham aberto ou o tinham debaixo do braço. Logo que me sentei o abri nas últimas páginas, nas folhas de necrologia à procura dalguma notícia referente ao passado dia de ontem. Aqui nada.
Alguém me sussurra ao ouvido, aparentado medo de quebrar o voto de silêncio que ninguém fez mas todos cumprem:
- Na página 3!
Lá estava.
Título bem grande a dizer Passageiro Morre a Caminho do Trabalho. Olho de soslaio para a cadeira de Justino e não estava nem Justino e ninguém lhe ficara com a cadeira.
Quero ver a cara deles no trabalho quando eu lhes mostrar isto.
Sanzalando

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