Aceite o desafio do Geração Rasca iniciei um processo maníaco-depressivo de selecção de seis em cada tema. Tirava, repunha e nunca mais acertava no seis. Cheguei aqui e disse-me, fica assim e depois tomo Kompensan. A ordem é arbitrária, todos levam ao que percebi um ponto pela nomeação, pelo que optei por me manter num desalinhado, tal como está, vai. Não é por desrespeito, mas porque iria fazer alterações, tirar um para pôr outro e nunca mais isto seguia no ‘correio’.
A quem aqui não está o meu pedido de desculpa, mas a culpa é do regulamento (havia de ser minha, não?)
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30 de novembro de 2006
Filosofia da Sex ta-feira
Sinto como que um peso na cabeça. As ideias não flúem, amontoam-se como um coágulo de sangue cada vez mais negro no seu vermelho.
Se eu conseguisse pensar claramente, desprender-me nesta cabeça de algum peso morto, tudo passaria a ter sentido e todos os argumentos pareceriam coerentes.
Se eu pudesse filtrar este acumulado de ideias, esta saturação de palavras que se sobrepõem na voracidade de sair eu estaria liberto das minhas grilhetas.
Mas afinal de contas, quanto pesa o vazio?
Um dos piores cansaços é o resultado de não fazer nada.
Para quem sente a falta de ter tempo livre, porque tem todo o tempo do mundo; para quem procura uma actividade que lhe agite a vida, basicamente porque pensa demais, que é algo que faz mal à estabilidade mental; para quem se sente ensimesmado com interrupções no seu fluxo de pensamento, saído num espaço oco e fora do tempo instantâneo, vivendo momentos de nada; para quem vive como borbulha claustrofóbica na sombra do seu eclipse, dou o meu conselho: Leia-me e leve depois o corpo a divertir-se, na contrariedade das opções obscuras entre pensamento e desejo.
Pois é, mais um dia que deu a preguiça de escrever uma estória, divagando-me aqui num enfileirar de palavras.
Admiro a paciência de quem me lê. Nem eu me consigo!
Se eu conseguisse pensar claramente, desprender-me nesta cabeça de algum peso morto, tudo passaria a ter sentido e todos os argumentos pareceriam coerentes.
Se eu pudesse filtrar este acumulado de ideias, esta saturação de palavras que se sobrepõem na voracidade de sair eu estaria liberto das minhas grilhetas.
Mas afinal de contas, quanto pesa o vazio?
Um dos piores cansaços é o resultado de não fazer nada.
Para quem sente a falta de ter tempo livre, porque tem todo o tempo do mundo; para quem procura uma actividade que lhe agite a vida, basicamente porque pensa demais, que é algo que faz mal à estabilidade mental; para quem se sente ensimesmado com interrupções no seu fluxo de pensamento, saído num espaço oco e fora do tempo instantâneo, vivendo momentos de nada; para quem vive como borbulha claustrofóbica na sombra do seu eclipse, dou o meu conselho: Leia-me e leve depois o corpo a divertir-se, na contrariedade das opções obscuras entre pensamento e desejo.
Pois é, mais um dia que deu a preguiça de escrever uma estória, divagando-me aqui num enfileirar de palavras.
Admiro a paciência de quem me lê. Nem eu me consigo!
Sanzalando
29 de novembro de 2006
Atirando-me ideias
Hoje encontro-me num mar aberto. No meio de um oceano, sem água sem comida, naufragado num oceano azul obsceno. Já não tenho forças para me mover. Nem forças para falar. Hoje encontro-me moribundo. Um moribundo de mim. A fraqueza do corpo rouba a memória a um náufrago. Resta-me um desejo enorme de sobreviver. Sinto a madeira dos destroços da minha nau rasgarem-me a pele.
Eu assim, moribundamente furioso e, o mar no seu azul obsceno, ondula com tranquilidade.
Tudo parece girar em velocidade inconstante e indefinida que escapa aos meus olhos. Mesmo assim não tenho medo do futuro, ainda consigo trazer comigo uma boa dose de ingenuidade e optimismo.
Na verdade eu não tenho medo. Estou moribundamente furioso, mas comigo mesmo. Eu sei que não tenho medo de portas abertas nem das que estão fechadas. Muito receio tenho das que estão entreabertas. Aquelas que parece que se esqueceram de abrir ou não se lembraram de fechar. E aqui, no meio deste meu naufrágio não tenho portas. Porque haveria de ter medo então? Sei que na pornografia desta ondulação serena há de aparecer uma onda que me arrastará a uma praia onde, estendido ma areia, apanharei um bom banho de sol, ao abrir os olhos verei coqueiros carregados, vegetação luxuriante, fontes eternas.
Eu assim, moribundamente furioso e, o mar no seu azul obsceno, ondula com tranquilidade.
Tudo parece girar em velocidade inconstante e indefinida que escapa aos meus olhos. Mesmo assim não tenho medo do futuro, ainda consigo trazer comigo uma boa dose de ingenuidade e optimismo.
Na verdade eu não tenho medo. Estou moribundamente furioso, mas comigo mesmo. Eu sei que não tenho medo de portas abertas nem das que estão fechadas. Muito receio tenho das que estão entreabertas. Aquelas que parece que se esqueceram de abrir ou não se lembraram de fechar. E aqui, no meio deste meu naufrágio não tenho portas. Porque haveria de ter medo então? Sei que na pornografia desta ondulação serena há de aparecer uma onda que me arrastará a uma praia onde, estendido ma areia, apanharei um bom banho de sol, ao abrir os olhos verei coqueiros carregados, vegetação luxuriante, fontes eternas.
Na verdade vou fazer mais como então?
Sanzalando
28 de novembro de 2006
Hoje não me apeteceu mais que isto
Há momentos em que me sinto como se estivesse numa Montanha Russa. É um ascender de forma lenta, um subir pouco a pouco, depois, num repente, é a descida vertiginosa, simultaneamente com a subida da adrenalina. É a plenitude que se repete no tempo, numa vida que nada tem de parque de diversões.
Enquanto estou neste sobe e desce desta Montanha Russa sinto-me na felicidade suprema, como uma criança que se diverte sem pensar no amanhã, esse futuro incógnito. São momentos de puro prazer, autênticos.
Porque é que eu não tenho uma Montanha Russa?
Sanzalando
Enquanto estou neste sobe e desce desta Montanha Russa sinto-me na felicidade suprema, como uma criança que se diverte sem pensar no amanhã, esse futuro incógnito. São momentos de puro prazer, autênticos.
Porque é que eu não tenho uma Montanha Russa?
Sanzalando
27 de novembro de 2006
20 - Estórias no Sofá - A vida à beira da morte - 1 de 1
Jacinto sente uma perigosa atracção pelas situações extremas. Assim como se a vida se convertesse num jogo em que a vitória consiste em atingir os limites de ter tudo sobre o controlo. Imagina que a vida é como derrapar um carro numa curva com a estrada molhada. Busca em todos os seus actos o limite da vida, própria ou alheia, recebendo como recompensa a satisfação de ter controlado a situação.
Tem dias em que os limites são a própria moral.
Estava um dia na casa de um amigo. Amigo de muitos anos. Não se lembra o que nesse dia fazia. Estava lá, isso é que é relevante e estava sentado num banco alto com um martelo na mão. Conversavam sobre algo que pelos vistos não era importante. Conversa de amigos são como as cerejas. Assuntos uns atrás dos outros. O amigo de Jacinto saltou do banco e foi apanhar algo que estava no chão. A sua cabeça ficou à mão de semear de Jacinto. Por uns instantes, breves, Jacinto se deu conta do que estava a vida à beira da morte. Pensou que naquele instante tinha o controlo da vida do amigo nas suas mãos. Ele podia decidir se ele vivia ou não. Um único golpe e era ponto final na vida do amigo. E não era difícil. Estava ali a cabeça mesmo a jeito e Jacinto tinha na mão um martelo. Faria? Era capaz? Porém não o fez. Pensou que tinha que comprovar algo ainda antes do golpe final.
Jacinto, levanta o martelo no mais que pode e num gesto rápido acerta no meio das costas de um amigo de tantos anos. Ele respondeu com um grito, gemido de dor, estendendo-se ao comprido no chão.
Acho mesmo que não teve tempo para saber o que é que estava a acontecer. Atordoado, volta-se para Jacinto como a perguntar o que é que se tinha passado. Ele jamais desconfiaria que Jacinto, amigo de tantos anos, lhe tivesse feito algum mal.
Olhos nos olhos e estava Jacinto de braço levantado pronto para o golpe final. Jacinto viu uma cara de terror. Martelo erguido, pronto para numa fracção ínfima de tempo descer até à calote craniana que lhe espera ali, imóvel no chão. Num ápice viajou até ao bordo do abismo, teatro da vida.
Jacinto tudo isto imaginou enquanto o amigo apanhava alguma coisa que deixara cair no chão. A rapidez do pensamento mostrava-lhe o quão perto estava a vida da morte. Seria ele capaz de o fazer? Se ele o pensou é porque era capaz. Ele sentia que se fosse necessário ele o teria feito. Seria atingir o limite. Pensava-o e sentia-o. Recordou-se dos tempos em que a honra era discutida em duelo, em que morriam homens todos os dias.
Estamos habituados a ver a morte de longe e não como uma parte integrante do quotidiano. A verdade é que ela está sempre próxima. Jacinto sabe-a. Teve a vida do amigo na ponta do seu braço.
Tem dias em que os limites são a própria moral.
Estava um dia na casa de um amigo. Amigo de muitos anos. Não se lembra o que nesse dia fazia. Estava lá, isso é que é relevante e estava sentado num banco alto com um martelo na mão. Conversavam sobre algo que pelos vistos não era importante. Conversa de amigos são como as cerejas. Assuntos uns atrás dos outros. O amigo de Jacinto saltou do banco e foi apanhar algo que estava no chão. A sua cabeça ficou à mão de semear de Jacinto. Por uns instantes, breves, Jacinto se deu conta do que estava a vida à beira da morte. Pensou que naquele instante tinha o controlo da vida do amigo nas suas mãos. Ele podia decidir se ele vivia ou não. Um único golpe e era ponto final na vida do amigo. E não era difícil. Estava ali a cabeça mesmo a jeito e Jacinto tinha na mão um martelo. Faria? Era capaz? Porém não o fez. Pensou que tinha que comprovar algo ainda antes do golpe final.
Jacinto, levanta o martelo no mais que pode e num gesto rápido acerta no meio das costas de um amigo de tantos anos. Ele respondeu com um grito, gemido de dor, estendendo-se ao comprido no chão.
Acho mesmo que não teve tempo para saber o que é que estava a acontecer. Atordoado, volta-se para Jacinto como a perguntar o que é que se tinha passado. Ele jamais desconfiaria que Jacinto, amigo de tantos anos, lhe tivesse feito algum mal.
Olhos nos olhos e estava Jacinto de braço levantado pronto para o golpe final. Jacinto viu uma cara de terror. Martelo erguido, pronto para numa fracção ínfima de tempo descer até à calote craniana que lhe espera ali, imóvel no chão. Num ápice viajou até ao bordo do abismo, teatro da vida.
Jacinto tudo isto imaginou enquanto o amigo apanhava alguma coisa que deixara cair no chão. A rapidez do pensamento mostrava-lhe o quão perto estava a vida da morte. Seria ele capaz de o fazer? Se ele o pensou é porque era capaz. Ele sentia que se fosse necessário ele o teria feito. Seria atingir o limite. Pensava-o e sentia-o. Recordou-se dos tempos em que a honra era discutida em duelo, em que morriam homens todos os dias.
Estamos habituados a ver a morte de longe e não como uma parte integrante do quotidiano. A verdade é que ela está sempre próxima. Jacinto sabe-a. Teve a vida do amigo na ponta do seu braço.
Sanzalando
26 de novembro de 2006
a14 - Estórias no Sofá - Sun Simão e sua amiga
Te conto com a voz original, nem vírgula, nem ponto mais ou menos lhe coloquei.
Aqui ninguém diz a ninguém:
"Vê lá se cresces, se és ajustado, compensado."
Nesta terra tendo em conta a sua longa idade, transmuta toda a gente, salvo demolidores de sonhos, ganha-se anos de idade e muitos anos de conhecimento, é como ter sempre coração de criança e não há manhã nenhuma que se acorde mal disposta.
Criança tem a capacidade rara de encantar-se consigo própria e com os outros, com a natureza que a envolve, sem o saber. E, assim, começamos a entender a importância milenar das histórias, a "história" das histórias.
Lá para os lados da praia das conchas, houve uma grande seca. Nos campos não havia nem um cacho de bananas. San lagaia andava muito magra, suas costelas pareciam que iam saltar, e sem gosto nenhum na vida. Girava de roça em roça, à procura de qualquer coisa para comer, mas nada havia.
Certo dia, já farta de andar, foi parar a um riacho, a ver se por acaso encontraria por lá algum caranguejo distraído. Deu logo de focinho com sun macaco, que estava muito leve-leve a gozar a sombra de coqueiro.
A lagaia arregalou os olhos. É que amigo macaco estava gordo, bonito, tinha mesmo ar de quem tinha comida para encher a pança. E san lagaia disse:
- Tardê sun Simão! Tu tá gordo, bonito!
- Leve-leve, san lagaia: o suficiente para livrar este tempo de carência…
- Não amigo Simão: você está bem alimentado. Veja como estou. As minhas costelas parecem cordas de violão, inté dá pra tocar puita.
Simão era muito esperto e sabia que a lagaia queria conversa e saber onde é que ele comia. Fingiu não entender e tentou desviar a conversa.
- San lagaia, há muito tempo que eu não a via…Lembraste da última festa que fomos lá prós lados da montanha? Havia fartura de tudo, ai que saudade!!!!
Mas san lagaia não desgrudava os olhos de Simão, aquele olho tristinho, cheia de fome.
Simão ficou com dor dela
- Eu digo onde é que ando a comer, mas tu tens que me jurar que hás-de fazer o que faço quando contentar o estômago.
A lagaia jurou tudo quanto o Simão quis. E Simão disse que costumava comer numa mangueira que ficava lá na roça de água grande.
Mas recomendou:
- Quando tu tiveres agarrada no tronco da mangueira, diz: "mangueirinha, tique, tique" – e a mangueira sobe; quando tu estiveres farta e quiseres descer, tu dizes: - "mangueirinha, toque, toque" – e ela desce.
A mangueira subiu muito alto e a lagaia comeu, comeu, até ficar farta.
Lembrou-se de que já podia descer, mas pensou na sua cabeça:
"-Ainda não comi para mim, quanto mais para o meu pai, para a minha mãe…"
Continuou a comer, até novamente reparou que era tempo de descer.
Mas disse:
"-Ainda não comi para os meus avós…"
E continuou a comer. Quando já não tinha mais parentes, resolveu descer.
Mas, com a overdose de mangas, esqueceu-se do que é que devia dizer para a mangueira descer: se"tique, tique, se "toque, toque" e disse à toa:
- Mangueirinha, tique-tique!
E a mangueira toca de subir.
Mas a lagaia era muito teimosa e continuou com a mesma lenga-lenga.
Quando deu conta, estava no céu.
Quando S. Pedro viu a lagaia, disse:
- Que cá vens fazer, lagaia?
Logo a lagaia inventou uma grande mentira, contando os dramas da escassez e dizendo que estava em jejum porque tinha visto uma pele de borrego a ficar ao sol.
Arreganhou a dentatura e S. Pedro reparou que os seus dentes estavam todos sujos de restos de manga.
Tu és uma mentirosa, lagaia!
Mas S. Pedro, na sua bondade, teve pena da lagia e disse-lhe:
- Vou-te mandar novamente para baixo. Mas antes tens que ir lavar esta pele, para eu te mandar fazer um tambor. Quando voltares podes ganhar a vida tocando.
Lá foi a lagaia lavar a pele, mas esfomeada como era, acabou por comer a pele dizendo que a ribeira muito brava, e ela muito fraquinha, a correnteza levou.
Bem, S. Pedro com a sua infinita paciência lá lhe arranjou outra pele e deu-lhe a mesma ordem.
Lá se fez o tamborzinho, S. Pedro amarrou uma corda no tambor e lá foi descendo san lagaia. No entanto, S. Pedro combinou com a lagaia que só tocasse o tamborzinho quando chegasse para ele largar a corda.
Quando a lagia chegou a meio encontrou uma quitandeira que lhe pediu para tocar.
- Se tocares o teu tamborzinho dou-te todas estas sucarinhas.
A lagaia que era muito gulosa, pensou se eu tocar muito baixinho o S. Pedro não vai ouvir e essas sucarinhas estão a rir para mim!!!
Combinado amiga, passa para cá as sucarinhas que eu vou tocar um pouco para ti, mas muito baixinho para sair um som bem docinho como tu!!!!
Quando S. Pedro ouve o tambor larga a corda que a lagaia estatela-se no chão, mas pouco antes disso viu o seu amigo Simão, e gritou-lhe:
- Chê, amigo Simão! Tu não disse que eu sou um grande artista?
eheheheheheheheheh
"Vê lá se cresces, se és ajustado, compensado."
Nesta terra tendo em conta a sua longa idade, transmuta toda a gente, salvo demolidores de sonhos, ganha-se anos de idade e muitos anos de conhecimento, é como ter sempre coração de criança e não há manhã nenhuma que se acorde mal disposta.
Criança tem a capacidade rara de encantar-se consigo própria e com os outros, com a natureza que a envolve, sem o saber. E, assim, começamos a entender a importância milenar das histórias, a "história" das histórias.
Lá para os lados da praia das conchas, houve uma grande seca. Nos campos não havia nem um cacho de bananas. San lagaia andava muito magra, suas costelas pareciam que iam saltar, e sem gosto nenhum na vida. Girava de roça em roça, à procura de qualquer coisa para comer, mas nada havia.
Certo dia, já farta de andar, foi parar a um riacho, a ver se por acaso encontraria por lá algum caranguejo distraído. Deu logo de focinho com sun macaco, que estava muito leve-leve a gozar a sombra de coqueiro.
A lagaia arregalou os olhos. É que amigo macaco estava gordo, bonito, tinha mesmo ar de quem tinha comida para encher a pança. E san lagaia disse:
- Tardê sun Simão! Tu tá gordo, bonito!
- Leve-leve, san lagaia: o suficiente para livrar este tempo de carência…
- Não amigo Simão: você está bem alimentado. Veja como estou. As minhas costelas parecem cordas de violão, inté dá pra tocar puita.
Simão era muito esperto e sabia que a lagaia queria conversa e saber onde é que ele comia. Fingiu não entender e tentou desviar a conversa.
- San lagaia, há muito tempo que eu não a via…Lembraste da última festa que fomos lá prós lados da montanha? Havia fartura de tudo, ai que saudade!!!!
Mas san lagaia não desgrudava os olhos de Simão, aquele olho tristinho, cheia de fome.
Simão ficou com dor dela
- Eu digo onde é que ando a comer, mas tu tens que me jurar que hás-de fazer o que faço quando contentar o estômago.
A lagaia jurou tudo quanto o Simão quis. E Simão disse que costumava comer numa mangueira que ficava lá na roça de água grande.
Mas recomendou:
- Quando tu tiveres agarrada no tronco da mangueira, diz: "mangueirinha, tique, tique" – e a mangueira sobe; quando tu estiveres farta e quiseres descer, tu dizes: - "mangueirinha, toque, toque" – e ela desce.
A mangueira subiu muito alto e a lagaia comeu, comeu, até ficar farta.
Lembrou-se de que já podia descer, mas pensou na sua cabeça:
"-Ainda não comi para mim, quanto mais para o meu pai, para a minha mãe…"
Continuou a comer, até novamente reparou que era tempo de descer.
Mas disse:
"-Ainda não comi para os meus avós…"
E continuou a comer. Quando já não tinha mais parentes, resolveu descer.
Mas, com a overdose de mangas, esqueceu-se do que é que devia dizer para a mangueira descer: se"tique, tique, se "toque, toque" e disse à toa:
- Mangueirinha, tique-tique!
E a mangueira toca de subir.
Mas a lagaia era muito teimosa e continuou com a mesma lenga-lenga.
Quando deu conta, estava no céu.
Quando S. Pedro viu a lagaia, disse:
- Que cá vens fazer, lagaia?
Logo a lagaia inventou uma grande mentira, contando os dramas da escassez e dizendo que estava em jejum porque tinha visto uma pele de borrego a ficar ao sol.
Arreganhou a dentatura e S. Pedro reparou que os seus dentes estavam todos sujos de restos de manga.
Tu és uma mentirosa, lagaia!
Mas S. Pedro, na sua bondade, teve pena da lagia e disse-lhe:
- Vou-te mandar novamente para baixo. Mas antes tens que ir lavar esta pele, para eu te mandar fazer um tambor. Quando voltares podes ganhar a vida tocando.
Lá foi a lagaia lavar a pele, mas esfomeada como era, acabou por comer a pele dizendo que a ribeira muito brava, e ela muito fraquinha, a correnteza levou.
Bem, S. Pedro com a sua infinita paciência lá lhe arranjou outra pele e deu-lhe a mesma ordem.
Lá se fez o tamborzinho, S. Pedro amarrou uma corda no tambor e lá foi descendo san lagaia. No entanto, S. Pedro combinou com a lagaia que só tocasse o tamborzinho quando chegasse para ele largar a corda.
Quando a lagia chegou a meio encontrou uma quitandeira que lhe pediu para tocar.
- Se tocares o teu tamborzinho dou-te todas estas sucarinhas.
A lagaia que era muito gulosa, pensou se eu tocar muito baixinho o S. Pedro não vai ouvir e essas sucarinhas estão a rir para mim!!!
Combinado amiga, passa para cá as sucarinhas que eu vou tocar um pouco para ti, mas muito baixinho para sair um som bem docinho como tu!!!!
Quando S. Pedro ouve o tambor larga a corda que a lagaia estatela-se no chão, mas pouco antes disso viu o seu amigo Simão, e gritou-lhe:
- Chê, amigo Simão! Tu não disse que eu sou um grande artista?
eheheheheheheheheh
Sanzalando com MC
25 de novembro de 2006
a13 - Estórias no Sofá - A árvore do perfume
Me contaram e como não sou nem egoista nem acrescentador aqui está ela tal qual
Naquela manhã o senhor vento passou muito devagarinho e disse:
- Vai haver novidade! Vai haver novidade! – Porque o senhor vento anda por toda a parte e sabe tudo.
As flores do ylang-ylang abanaram as pétalas amarelas, cheias de curiosidade, e perguntaram:
- O que é? O que é?
E o senhor vento, muito baixinho, respondeu:
- Vocês vão ver!
E, como estava uma linda manhã, com o céu azul e uma luz dourada, o senhor vento continuou a passear devagarinho por entre os ylang-ylang deixando no ar aquele perfume perturbante.
O ossôbo, que tinha o ninho no ramo mais alto, pôs-se a voar para trás e para diante e a chilrear:
- Vocês já sabem?
E todas as flores de ylang-ylang perguntaram:
- O que foi?
Mas o ossôbo estava tão contente que não fazia mais nada senão voar para trás e para diante e chilrear.
Toda a manhã as florzinhas amarelas perguntaram umas às outras:
- O que será?
Até que, por volta do meio-dia, a senhora formiga saiu da casa grande, parou na soleira da porta, ergueu-se nas patinhas traseiras e disse:
- Estou contente! Muito contente!
- Porquê? O que aconteceu? Qual a novidade? – Perguntaram as flores de ylang-ylang. E foi então que elas souberam, pela senhora formiga, que a casa grande estava em festa porque tinha nascido um menino.
Quando a porta se abriu e apareceu sunguê, todas as flores, o senhor vento, o ossôbo e as formigas se voltaram para ele, E sunguê disse:
- Sanguê e eu estamos muito felizes. Porque temos um filho.
Foi uma alegria naquele quintal, cada qual à sua maneira e na sua voz gritaram:
Viva! Viva!
Sunguê compreendeu-os a todos e disse:
Bendito seja tudo o que os meus olhos vêem e os meus ouvidos ouvem!
Depois, sunguê foi buscar a sua catana e uma plantinha que estava guardada lá perto da capoeira. E mesmo ao lado da casa pôs-se a abrir um buraco para plantar o ylang-ylang.
O menino Henda era muito alegre e risonho; cada dia crescia um bocadinho e aprendia uma coisa nova.
A árvore do menino Henda parecia-se com ele: lindo, alegrava tudo à sua volta. E foi subindo, subindo, enchendo-se de ramos e cobrindo-se cada vez mais de folhos.
Passaram anos e Henda já não era um menino, era rapaz; passaram mais anos e o rapaz tornou-se num homem. E, da mesma maneira, a arvorezinha, que sunguê plantara ao lado da casa no dia em que Henda nascera, deixou de ser tão fininha, que um pássaro a vergava se poisava nela, e tornou-se tão alta e tão grossa que nem o senhor vento lhe movia o tronco; só lhe agitava as flores amarelas.
Um dia Henda anunciou que também queria uma casa e uma companheira.
Começaram a construir a casa.
Quando terminaram, Henda pegou num machado e cortou a grande árvore que tinha sido plantada no dia em que nasceu. E a árvore deixou-se cortar com alegria, porque sabia o que a esperava: o seu tronco foi serrado em tábuas para construir os móveis para os noivos.
Uma linda manhã, tão linda como aquela em que nascera Henda, casou com a menina Hânia, bonita como uma flor ylang-ylang.
-As florzinhas amarelas, o senhor vento, o ossôbo, a senhora formiga, disseram entre si:
- Temos festa! Que sejam felizes os noivos! – E olharam para o sítio, ao lado da casa grande, onde, durante vinte anos, a árvore crescera e se fizera forte.
- Faz-nos falta a nossa companheira! – Disseram as florzinhas
- Cada qual tem de cumprir o seu dever! – Respondeu o senhor vento.
- O dever daquela árvore era seguir o nosso amigo Henda que hoje casou. Ela está feliz porque cumpriu o seu dever.
- A casa de Henda não é longe, podemos vê-la daqui – disse o ossôbo.
- E vou jurar que, para o ano, o noivo será pai e plantará uma nova árvore.
E a senhora formiga, que estava mortinha por se meter na conversa, acrescentou:
- E nós veremos nascer a árvore nova, e seremos todos felizes.
Então soprou uma doce brisa que murmurava:
Não lhe dizemos adeus, dizemos até mais ver.
Quando a brisa rala pelo yalng-ylang todo o quintal se embriaga com aquele doce perfume.
Naquela manhã o senhor vento passou muito devagarinho e disse:
- Vai haver novidade! Vai haver novidade! – Porque o senhor vento anda por toda a parte e sabe tudo.
As flores do ylang-ylang abanaram as pétalas amarelas, cheias de curiosidade, e perguntaram:
- O que é? O que é?
E o senhor vento, muito baixinho, respondeu:
- Vocês vão ver!
E, como estava uma linda manhã, com o céu azul e uma luz dourada, o senhor vento continuou a passear devagarinho por entre os ylang-ylang deixando no ar aquele perfume perturbante.
O ossôbo, que tinha o ninho no ramo mais alto, pôs-se a voar para trás e para diante e a chilrear:
- Vocês já sabem?
E todas as flores de ylang-ylang perguntaram:
- O que foi?
Mas o ossôbo estava tão contente que não fazia mais nada senão voar para trás e para diante e chilrear.
Toda a manhã as florzinhas amarelas perguntaram umas às outras:
- O que será?
Até que, por volta do meio-dia, a senhora formiga saiu da casa grande, parou na soleira da porta, ergueu-se nas patinhas traseiras e disse:
- Estou contente! Muito contente!
- Porquê? O que aconteceu? Qual a novidade? – Perguntaram as flores de ylang-ylang. E foi então que elas souberam, pela senhora formiga, que a casa grande estava em festa porque tinha nascido um menino.
Quando a porta se abriu e apareceu sunguê, todas as flores, o senhor vento, o ossôbo e as formigas se voltaram para ele, E sunguê disse:
- Sanguê e eu estamos muito felizes. Porque temos um filho.
Foi uma alegria naquele quintal, cada qual à sua maneira e na sua voz gritaram:
Viva! Viva!
Sunguê compreendeu-os a todos e disse:
Bendito seja tudo o que os meus olhos vêem e os meus ouvidos ouvem!
Depois, sunguê foi buscar a sua catana e uma plantinha que estava guardada lá perto da capoeira. E mesmo ao lado da casa pôs-se a abrir um buraco para plantar o ylang-ylang.
O menino Henda era muito alegre e risonho; cada dia crescia um bocadinho e aprendia uma coisa nova.
A árvore do menino Henda parecia-se com ele: lindo, alegrava tudo à sua volta. E foi subindo, subindo, enchendo-se de ramos e cobrindo-se cada vez mais de folhos.
Passaram anos e Henda já não era um menino, era rapaz; passaram mais anos e o rapaz tornou-se num homem. E, da mesma maneira, a arvorezinha, que sunguê plantara ao lado da casa no dia em que Henda nascera, deixou de ser tão fininha, que um pássaro a vergava se poisava nela, e tornou-se tão alta e tão grossa que nem o senhor vento lhe movia o tronco; só lhe agitava as flores amarelas.
Um dia Henda anunciou que também queria uma casa e uma companheira.
Começaram a construir a casa.
Quando terminaram, Henda pegou num machado e cortou a grande árvore que tinha sido plantada no dia em que nasceu. E a árvore deixou-se cortar com alegria, porque sabia o que a esperava: o seu tronco foi serrado em tábuas para construir os móveis para os noivos.
Uma linda manhã, tão linda como aquela em que nascera Henda, casou com a menina Hânia, bonita como uma flor ylang-ylang.
-As florzinhas amarelas, o senhor vento, o ossôbo, a senhora formiga, disseram entre si:
- Temos festa! Que sejam felizes os noivos! – E olharam para o sítio, ao lado da casa grande, onde, durante vinte anos, a árvore crescera e se fizera forte.
- Faz-nos falta a nossa companheira! – Disseram as florzinhas
- Cada qual tem de cumprir o seu dever! – Respondeu o senhor vento.
- O dever daquela árvore era seguir o nosso amigo Henda que hoje casou. Ela está feliz porque cumpriu o seu dever.
- A casa de Henda não é longe, podemos vê-la daqui – disse o ossôbo.
- E vou jurar que, para o ano, o noivo será pai e plantará uma nova árvore.
E a senhora formiga, que estava mortinha por se meter na conversa, acrescentou:
- E nós veremos nascer a árvore nova, e seremos todos felizes.
Então soprou uma doce brisa que murmurava:
Não lhe dizemos adeus, dizemos até mais ver.
Quando a brisa rala pelo yalng-ylang todo o quintal se embriaga com aquele doce perfume.
Sanzalando com MC
24 de novembro de 2006
19 - Estórias no Sofá - Estória entre pontos - 1 de 1
.
As minhas forças contrárias se resolvem enfrentar debaixo dum chuveiro. Canto e ponto final. Me olham os três pontos mais conhecidos por reticências. Na verdade o ponto final nunca deu assim muita bola nas reticências. Sempre lhes tratou como pontinhos indecisos, terminais mas não querendo interferir.
Por sua vez, as reticências seguem a sua vidinha tranquila sempre tocando em novos portos e novos caminhos.
Mas hoje parece há um stop nessa tranquilidade com pontos argumentativos. O assunto merecia sair da marginalidade. Falar de amor não sei mesmo se tem ponto final ou reticências.
Gritava em altos berros o ponto final, tentando sobressair do barulho do chuveiro:
- O amor não é ressuscitável, por isso é definitivo e ponto final!
As reticências, num tom mais suave se fizeram ouvir:
- Isso não se aplica ao que não morreu. Tu sempre ignoras a existência da minha linha argumentativa e arbitrariamente encerras o assunto. Mas sabes tão bem como eu que ele está sempre de volta. Não morre. Hiberna e pode voltar transbordando as margens do racional
- Deixa de retóricas e metáforas. A porta nunca fica entreaberta. disse o ponto final no seu ar arrogantemente definitivo
- Então explica lá aquela vontade que fica de transpor a linha da amizade, o entrar nas linhas e perder-se nas entrelinhas? Ostensivamente ignoras esta indefinição?
- Ouve lá, toda a amizade entre homem e mulher remexe com a libido. Isto está na Bíblia e vem desde os tempos de Adão e Eva. Quando acaba acaba e ponto final.
- Não uses argumentos tangenciais. Há muito que venho a acumular palavras não ditas, sentidos que não se expressam, sentimentos que se escondem. E de tanto guardá-los, um dia implodirão. Melhor é então criar um espaço antes de ti e tratá-los com a atenção que merecem.
- Aí é que está o problema. A tua existência é que faz tudo ficar complicado. Tu vais dando azo à imaginação e esperanças ao coração e depois lá vêm as lágrimas e desilusões. Fica sabendo que quando eu apareço nalgum assunto é tua obrigação respeitar-me ad infinitum. Calares-te, engolires em seco e morrer se preciso for. Mas que não fiques aí atormentando como se eu fosse um irresponsável. Mais, não estou com paciência de comer mais letras não ditas, sentimentos vagamente deixados ao acaso. Não quero outra indigestão!
- Pois então, encerremos por aqui assunto. Não aceito ordens de um ponto tão prepotente. Continuo na marginalidade, mas fica sabendo que recuso a aceitar que tu tens sempre razão. E por não aceitar, vou já avisando que neste assunto estou pronto a interferir. Não vou abrir mão do amor. Não pelo objecto dele, mas por ele e pela magia que ele coloca na vida. E em amor não se aceita ponto final.
Batendo com a porta as reticências deixaram de boca aberta o ponto final.
Por sua vez, as reticências seguem a sua vidinha tranquila sempre tocando em novos portos e novos caminhos.
Mas hoje parece há um stop nessa tranquilidade com pontos argumentativos. O assunto merecia sair da marginalidade. Falar de amor não sei mesmo se tem ponto final ou reticências.
Gritava em altos berros o ponto final, tentando sobressair do barulho do chuveiro:
- O amor não é ressuscitável, por isso é definitivo e ponto final!
As reticências, num tom mais suave se fizeram ouvir:
- Isso não se aplica ao que não morreu. Tu sempre ignoras a existência da minha linha argumentativa e arbitrariamente encerras o assunto. Mas sabes tão bem como eu que ele está sempre de volta. Não morre. Hiberna e pode voltar transbordando as margens do racional
- Deixa de retóricas e metáforas. A porta nunca fica entreaberta. disse o ponto final no seu ar arrogantemente definitivo
- Então explica lá aquela vontade que fica de transpor a linha da amizade, o entrar nas linhas e perder-se nas entrelinhas? Ostensivamente ignoras esta indefinição?
- Ouve lá, toda a amizade entre homem e mulher remexe com a libido. Isto está na Bíblia e vem desde os tempos de Adão e Eva. Quando acaba acaba e ponto final.
- Não uses argumentos tangenciais. Há muito que venho a acumular palavras não ditas, sentidos que não se expressam, sentimentos que se escondem. E de tanto guardá-los, um dia implodirão. Melhor é então criar um espaço antes de ti e tratá-los com a atenção que merecem.
- Aí é que está o problema. A tua existência é que faz tudo ficar complicado. Tu vais dando azo à imaginação e esperanças ao coração e depois lá vêm as lágrimas e desilusões. Fica sabendo que quando eu apareço nalgum assunto é tua obrigação respeitar-me ad infinitum. Calares-te, engolires em seco e morrer se preciso for. Mas que não fiques aí atormentando como se eu fosse um irresponsável. Mais, não estou com paciência de comer mais letras não ditas, sentimentos vagamente deixados ao acaso. Não quero outra indigestão!
- Pois então, encerremos por aqui assunto. Não aceito ordens de um ponto tão prepotente. Continuo na marginalidade, mas fica sabendo que recuso a aceitar que tu tens sempre razão. E por não aceitar, vou já avisando que neste assunto estou pronto a interferir. Não vou abrir mão do amor. Não pelo objecto dele, mas por ele e pela magia que ele coloca na vida. E em amor não se aceita ponto final.
Batendo com a porta as reticências deixaram de boca aberta o ponto final.
...
Sanzalando
23 de novembro de 2006
18 - Estórias no Sofá - Na senda de JB - 2 de 2
Com o passar dos dias, Antero começou a apurar o seu sentido de segurança. A sua causa, a que ele não sabia que tinha, lhe estava a sair do controlo do reduzido número dos fabricantes do pasquim stencilizado, que ele sabia era agora mesmo só ele. Mudou de carro. Deixou de ter o verde alface e arranjou um mais velho cor de amarelo inveja. Eu nem mesmo sei porque é que os fabricantes de carros põem essas cores nos carros.
Mas com menos ou mais sobressaltos os dias de Antero lá iam correndo, sempre no mesmo horário, sempre no mesmo padrão, mesmo que algumas manhãs ele apresentava uma olheiras que até um cego quase lhe via.
Mas um dia a coisa mudou. Há sempre um dia que a coisa muda. Ele olha no retrovisor do seu amarelinho e vê uma mota que não lhe descola. Além de não descolar ainda lhe abria o braço direito. Antero empanicou e assim num repentemente atirou o pé direito no travão que o amarelo quase seguia em frente deixando as rodas lá atrás. Claro que o motoqueiro nem teve tempo de pôr a mão direita no guiador antes da mota bater no amarelinho. Sem olhar mais para trás, Antero meteu a primeira e seguiu o seu caminho. Acho que nem teve tempo para respirar, entre o travar e voltar a arrancar. Mas Antero aprendeu uma novidade, que é conduzir com um olho na estrada e outro no retrovisor.
Num cruzamento mais à frente ele vê que está outra mota, parecida com a primeira, a lhe esticar o braço direito e pelo que lhe pareceu até nomes na avó dele lhe disseram. Com o treino de há cinco minutos, Antero idealizou uma nova investida do motoqueiro, que devia ser colega ainda do outro e se vinha vingar ou acabar o trabalho. Esse candongueiro está mesmo a jeito, pensou ele com os seus calores e tremores. Faz um zigue zague que a motou se enfaixou logo no zigue que nem teve tempo de fazer o zague. Desta vez nem fez uma amolgadela no amarelinho. Antero se sorriu de ter conseguido sair-se bem de um segundo ataque.
Outro candongueiro lhe chama. Gesticula parece vai ter um ataque. Antero, que ainda não tinha saído do pânico anterior se afunda mais nele e atira o carro para a contramão.
O candongueiro nem viu como é que bateu no carro que lhe ia na frente.
Para tranquilidade de Antero ele se resolve a meter por ruas que não conhecia. Atraveza um descampado onde os miúdos jogam à bola. Ele não lhes estragou o jogo, mas um cão foi à vida porque não teve velocidade nem reflexos para fugir do amarelinho.
As crianças começam a gritar.
- Olha a
Antero já estava longe que nem ouviu o final da frase gritada pelas crianças que tinham estado a jogar à bola. Acho mesmo que foi a vez que o amarelinho andou mais depressa na vida dele. Ainda por cima não era hoje que ele ia chegar atrasado no serviço, coisa que nunca lhe tinha acontecido. Nem nos dias quentes. Não era por aí que os chefes lhe haviam de pegar.
- Vou fazer mais como? dizia ele como que a ver se arranjava uma solução para resolver o problema do tempo.
Corre a cidade no desespero do pára arranca, de quem está habituado a chegar muito mais cedo. Mas com tanta aventura de filme policial, não admira que as ruas e avenidas já estejam esgotadas.
Chegado, estacionou o carro com ajuda de umas pancadas nos carros da frente e de trás.
Consegue chegar antes do chefe. Para Antero isso era sagrado.
Quando sai do carro, o chefe que estacionara um pouco mais à frente lhe chama.
- Ó Antero!
Lhe olhou nos olhos e começou logo a lhe justificar este meu atraso.
- Mas ó Antero, eu queria dizer-lhe…
Nem teve tempo porque Antero já lhe estava a puxar o braço como que a lhe querer chamar para um canto mais sem gente.
- Bolas, Antero, eu só lhe quero dizer que a porta do lado direito do seu carro está a arrastar no chão!
Mas com menos ou mais sobressaltos os dias de Antero lá iam correndo, sempre no mesmo horário, sempre no mesmo padrão, mesmo que algumas manhãs ele apresentava uma olheiras que até um cego quase lhe via.
Mas um dia a coisa mudou. Há sempre um dia que a coisa muda. Ele olha no retrovisor do seu amarelinho e vê uma mota que não lhe descola. Além de não descolar ainda lhe abria o braço direito. Antero empanicou e assim num repentemente atirou o pé direito no travão que o amarelo quase seguia em frente deixando as rodas lá atrás. Claro que o motoqueiro nem teve tempo de pôr a mão direita no guiador antes da mota bater no amarelinho. Sem olhar mais para trás, Antero meteu a primeira e seguiu o seu caminho. Acho que nem teve tempo para respirar, entre o travar e voltar a arrancar. Mas Antero aprendeu uma novidade, que é conduzir com um olho na estrada e outro no retrovisor.
Num cruzamento mais à frente ele vê que está outra mota, parecida com a primeira, a lhe esticar o braço direito e pelo que lhe pareceu até nomes na avó dele lhe disseram. Com o treino de há cinco minutos, Antero idealizou uma nova investida do motoqueiro, que devia ser colega ainda do outro e se vinha vingar ou acabar o trabalho. Esse candongueiro está mesmo a jeito, pensou ele com os seus calores e tremores. Faz um zigue zague que a motou se enfaixou logo no zigue que nem teve tempo de fazer o zague. Desta vez nem fez uma amolgadela no amarelinho. Antero se sorriu de ter conseguido sair-se bem de um segundo ataque.
Outro candongueiro lhe chama. Gesticula parece vai ter um ataque. Antero, que ainda não tinha saído do pânico anterior se afunda mais nele e atira o carro para a contramão.
O candongueiro nem viu como é que bateu no carro que lhe ia na frente.
Para tranquilidade de Antero ele se resolve a meter por ruas que não conhecia. Atraveza um descampado onde os miúdos jogam à bola. Ele não lhes estragou o jogo, mas um cão foi à vida porque não teve velocidade nem reflexos para fugir do amarelinho.
As crianças começam a gritar.
- Olha a
Antero já estava longe que nem ouviu o final da frase gritada pelas crianças que tinham estado a jogar à bola. Acho mesmo que foi a vez que o amarelinho andou mais depressa na vida dele. Ainda por cima não era hoje que ele ia chegar atrasado no serviço, coisa que nunca lhe tinha acontecido. Nem nos dias quentes. Não era por aí que os chefes lhe haviam de pegar.
- Vou fazer mais como? dizia ele como que a ver se arranjava uma solução para resolver o problema do tempo.
Corre a cidade no desespero do pára arranca, de quem está habituado a chegar muito mais cedo. Mas com tanta aventura de filme policial, não admira que as ruas e avenidas já estejam esgotadas.
Chegado, estacionou o carro com ajuda de umas pancadas nos carros da frente e de trás.
Consegue chegar antes do chefe. Para Antero isso era sagrado.
Quando sai do carro, o chefe que estacionara um pouco mais à frente lhe chama.
- Ó Antero!
Lhe olhou nos olhos e começou logo a lhe justificar este meu atraso.
- Mas ó Antero, eu queria dizer-lhe…
Nem teve tempo porque Antero já lhe estava a puxar o braço como que a lhe querer chamar para um canto mais sem gente.
- Bolas, Antero, eu só lhe quero dizer que a porta do lado direito do seu carro está a arrastar no chão!
Sanzalando
22 de novembro de 2006
18 - Estórias no Sofá - Na senda de JB - 1 de 2
Ser pretensiosamente famoso tem suas vantagens e desvantagens.
Antero trabalhava no centro da cidade grande e sempre foi um exemplar funcionário. Mesmo nos dias mais quentes de outras eras lá estava ele pontualmente no seu local de trabalho. Depois dalguns camaradas descobrirem que atrás daquele rosto tranquilo do senhor Antero, morava o Velho que escrevia no jornal clandestino feito num velho stencil, se lhe acabou o sossego.
- Senhor Antero, o senhor é mesmo o Velho? lhe passaram a perguntar muitas vezes.
- Limite-se a cumprir seu trabalho. Tenho 40 anos e velho é quem você sabe que eu estou a pensar! respondia ele com a irritação na flor da pele, vendo-se-lhe todas as veias a marcarem o território num relevo sob a pele.
- É ele mesmo! diziam de seguida, como que a lhe irritar ainda mais, como que a pôr gasolina na fogueira.
O mujimbo se espalhou por todo prédio e alguns arredores que ele até hoje ainda não sabe quem foi o corno que descobriu isso e pior quem podia ter desconfiado deste sempre pacato homem que ninguém lhe conhecia vício ou degrau descido ou subido na vida sem ter uma mão a segurar no corrimão.
Mas conversas mesmo longe de Antero ele era o tema. Não podia ser, diziam uns. Sabes que em cara de santo não lhe vês a alma, diziam outros.
Dentro da cabeça de senhor Antero ferviam pensamentos escaldantes, deprimentes, ofegantes, insultuosos. O que fervia mesmo era o medo. Se ali já sabiam, ou desconfiavam, de certeza que os OUTROS já tinham pastas e pastas sobre ele. Tá aqui e já se está a imaginar a viajar dentro de uma carrinha fechada para algures onde ninguém mais ia saber onde ele ia estar. Se é que estaria. Ele fazia o filme. Realizava e produzia, escrevia e actuava. Era o filme de uma pessoa só.
Mas na fachada ele continuava o senhor Antero. Quando lhe provocavam lá vinham as veias como a lhe saltar da cara, mas assim num repente voltava ao normal e até que parecia era surdo.
Na sua secretária, a meio de todas as manhãs chegavam muitas cartas. Umas lhe insultando, outras poucas, a lhe dizer para seguir em frente nas denúncias que fazia no stencilizado pasquim.
Assim, o anteriormente conhecido pacato senhor Antero, passou a ser conhecido e olhado com outros olhos. Quando estava no meio de gente que era a favor da causa dele, mesmo ele não sabendo que tinha uma causa, lhe olhavam com olhos de respeito e até tinha mulher que lhe passou a olhar quando antes nem lhe viam que ele estava ali. Mas no reverso do outro lado da moeda, lhe queriam linchar, mas para a sua sorte nunca passavam das palavras. Logo ele pensava que era bom ter aprendido a ser surdo., mesmo que as veias da cara lhe dissessem que ele mentia nessa surdez.
Nunca tinha sabido de política. Se havia política com toda a certeza lhe escondiam. Todos sabiam que ele ia dizer que não. Mas criticar o que ele achava que estava mal, isso ele era homem para criticar. Gostava de escrever e aproveitou a boleia de um amigo, que desaparecera no meio dos anos quentes, e faziam um jornal que era distribuído no silêncio da madrugada por algumas casas e escritórios da grande cidade, onde estivesse alguém que eles sabiam iam ler. Se havia esquema e eles tomavam conhecimento, Antero usando a sua prosa de Velho denunciava o esquema. E um dia, na casa esquemática, lá aparecia uma cópia do stencilizado pasquim. Claro que não tinha dia certo de sair. Mas que saía eles sabiam que ia sair. Quando o amigo se evaporou, ele manteve os nomes e duplicou o trabalho.
Antero trabalhava no centro da cidade grande e sempre foi um exemplar funcionário. Mesmo nos dias mais quentes de outras eras lá estava ele pontualmente no seu local de trabalho. Depois dalguns camaradas descobrirem que atrás daquele rosto tranquilo do senhor Antero, morava o Velho que escrevia no jornal clandestino feito num velho stencil, se lhe acabou o sossego.
- Senhor Antero, o senhor é mesmo o Velho? lhe passaram a perguntar muitas vezes.
- Limite-se a cumprir seu trabalho. Tenho 40 anos e velho é quem você sabe que eu estou a pensar! respondia ele com a irritação na flor da pele, vendo-se-lhe todas as veias a marcarem o território num relevo sob a pele.
- É ele mesmo! diziam de seguida, como que a lhe irritar ainda mais, como que a pôr gasolina na fogueira.
O mujimbo se espalhou por todo prédio e alguns arredores que ele até hoje ainda não sabe quem foi o corno que descobriu isso e pior quem podia ter desconfiado deste sempre pacato homem que ninguém lhe conhecia vício ou degrau descido ou subido na vida sem ter uma mão a segurar no corrimão.
Mas conversas mesmo longe de Antero ele era o tema. Não podia ser, diziam uns. Sabes que em cara de santo não lhe vês a alma, diziam outros.
Dentro da cabeça de senhor Antero ferviam pensamentos escaldantes, deprimentes, ofegantes, insultuosos. O que fervia mesmo era o medo. Se ali já sabiam, ou desconfiavam, de certeza que os OUTROS já tinham pastas e pastas sobre ele. Tá aqui e já se está a imaginar a viajar dentro de uma carrinha fechada para algures onde ninguém mais ia saber onde ele ia estar. Se é que estaria. Ele fazia o filme. Realizava e produzia, escrevia e actuava. Era o filme de uma pessoa só.
Mas na fachada ele continuava o senhor Antero. Quando lhe provocavam lá vinham as veias como a lhe saltar da cara, mas assim num repente voltava ao normal e até que parecia era surdo.
Na sua secretária, a meio de todas as manhãs chegavam muitas cartas. Umas lhe insultando, outras poucas, a lhe dizer para seguir em frente nas denúncias que fazia no stencilizado pasquim.
Assim, o anteriormente conhecido pacato senhor Antero, passou a ser conhecido e olhado com outros olhos. Quando estava no meio de gente que era a favor da causa dele, mesmo ele não sabendo que tinha uma causa, lhe olhavam com olhos de respeito e até tinha mulher que lhe passou a olhar quando antes nem lhe viam que ele estava ali. Mas no reverso do outro lado da moeda, lhe queriam linchar, mas para a sua sorte nunca passavam das palavras. Logo ele pensava que era bom ter aprendido a ser surdo., mesmo que as veias da cara lhe dissessem que ele mentia nessa surdez.
Nunca tinha sabido de política. Se havia política com toda a certeza lhe escondiam. Todos sabiam que ele ia dizer que não. Mas criticar o que ele achava que estava mal, isso ele era homem para criticar. Gostava de escrever e aproveitou a boleia de um amigo, que desaparecera no meio dos anos quentes, e faziam um jornal que era distribuído no silêncio da madrugada por algumas casas e escritórios da grande cidade, onde estivesse alguém que eles sabiam iam ler. Se havia esquema e eles tomavam conhecimento, Antero usando a sua prosa de Velho denunciava o esquema. E um dia, na casa esquemática, lá aparecia uma cópia do stencilizado pasquim. Claro que não tinha dia certo de sair. Mas que saía eles sabiam que ia sair. Quando o amigo se evaporou, ele manteve os nomes e duplicou o trabalho.
Sanzalando
21 de novembro de 2006
20 de novembro de 2006
Era para ser uma estória, saiu um sentimento
Ela me espera em alguma parte. Mesmo que não me espere eu penso nela como que com os cabelos ao vento, sorriso contagiante, calor que nos mima num mimar de carinho. Penso-lhe com desejo. Se eu não lhe puder tocar sei que serei descoracizado ou, na pior da coisas, ficarei vegetando com um coração calcificado, sem rosto, sem sentimento, sem mímica.
Se eu não lhe puder tocar ficarei com a eterna dúvida de passar ao lado da felicidade.
Olho-a desde aqui com olhos de ver ao longe e lhe quero com coração de sentir ao perto.
Olho-a com o meu silêncio quando lhe queria ouvir num ruído que só ela o sabe fazer.
Pretensiosa necessidade de lhe tocar e sentir-lhe sem nunca mais a deixar.
Apetece-me perguntar-lhe o que ele sente por se sentir assim tão desejada. Mas lhe perguntarei um dia que queria fosse agora.
Quem me dera poder dar o salto no abismo e segurar-me no teu colo, no teu corpo e deixar-me ficar assim a sentir-te como se só minha tu fosses. Um momento maravilhosamente íntimo.
Já sei, sou um pecador.
Só não sei se me perdoarás e me deixarás ser de novo eternamente teu.
Se eu não lhe puder tocar ficarei com a eterna dúvida de passar ao lado da felicidade.
Olho-a desde aqui com olhos de ver ao longe e lhe quero com coração de sentir ao perto.
Olho-a com o meu silêncio quando lhe queria ouvir num ruído que só ela o sabe fazer.
Pretensiosa necessidade de lhe tocar e sentir-lhe sem nunca mais a deixar.
Apetece-me perguntar-lhe o que ele sente por se sentir assim tão desejada. Mas lhe perguntarei um dia que queria fosse agora.
Quem me dera poder dar o salto no abismo e segurar-me no teu colo, no teu corpo e deixar-me ficar assim a sentir-te como se só minha tu fosses. Um momento maravilhosamente íntimo.
Já sei, sou um pecador.
Só não sei se me perdoarás e me deixarás ser de novo eternamente teu.
Sanzalando
19 de novembro de 2006
a11 - Estórias no Sofá - Saída do paraíso
Me contaram e eu não sou de guardar no baú por isso vos deixo nas mesmas palavras:
No princípio do mundo, nada crescia. Mas existiam pessoas, montanhas, árvores, animais, rios, mares, tudo. Frutos e sementes de todas as espécies. Nada nascia nem desaparecia. Não caía uma folha, não se abria um fruto, não nascia uma criança.
Nem as pessoas, vendo-se umas às outras, procuravam saber para o que existiam. Não pensavam e se elas não pensavam também não falavam.
Diz-se que no luchan apareceu pronto com todas as coisas que o mundo ainda hoje tem. O princípio das pessoas, dos animais, das plantas e das coisas apareceram prontas. No luchan também foi assim, apareceu cheiinhos daquilo que precisa de existir: sunguês, sanguês, ôbô, lagaia, galinha, cão, porco, rio, fruteira, coco, ar e luz.
Pois, no princípio de tudo, o que é que acontecia no auchan? Nada, absolutamente nada. Tudo existia, mesmo as pessoas. As pessoas eram já crescidas e nunca tinham sido crianças. Nem iam envelhecer, não havia Sana nem Sun. Não se sabia o que era nascer. Pessoas, animais, plantas nada propriamente tinha nascido. Existiam.
As pessoas não sabiam que relação tinham umas com as outras nem quem eram, nem para o que servia tudo o que as rodeava. Nem se era bom ou não o estar assim num tempo parado. Não estavam a dormir, mas também não estavam acordadas. Porque o não sabiam.
Mas a Lua passava e continuava a passar lá longe, por cima do luchan. Passou, passou, até que as pessoas sentiram e perceberam que a lua dizia coisas e fazia sinais que nunca eram os mesmos.
- O que é aquilo?
Foi a primeira frase que disseram, a primeira pergunta que puderam fazer. Todas as pessoas a fizeram. Começaram, então, a ser capazes de perguntar e de responder.
Perceberam que a Lua, de cada vez que passava, era diferente. Umas vezes, mostrava caras; outra, rios, montanhas, flores, mãos, frutos, gestos. E começaram a copiar e a imaginar e a aproveitar tudo o que as rodeava e comeram os frutos e serviam-nos umas às outras. Com isso, nasceu o tempo e a vida e entenderam o movimento.
Saíam do paraíso.
As pessoas já envelheciam e, por outro lado, nasciam crianças. As sanguês e os Sunguês notaram as suas diferenças e souberam que isso era bom.
Nascia o amor. E riam!!!!!
Sanzalando com MC
18 de novembro de 2006
Confissão de um sábado
Vocês não sabem, mas eu não entendo nada de blogs, de Internet e coisas semelhantes. O computador pouco mais era que um lindo electrodoméstico que deve combinar com a decoração do escritório e sempre dá um ar de gente interessada quando alguém nos visita. Por isso contratei um personal blogger para me ajudar a fazer um blog, já que a moda estava nesta sigla, e acrescentei que queria coisa com qualidade.
Ele é um amigo de longa data, ele navega desde os primórdios e é afamado neste mundo virtual. Já o conheci com vários nomes, nicknames propriamente ditos, sendo que o último foi M@squenervos. Dizia ele que era porque a velocidade dos down e uploads era muito baixa, sendo a ligação por dial-up. Estrangeirices que um leigo como eu ficou na mesma mas não era por isso que eu me iria aborrecer e dei um ar que o estava a entender perfeitamente. Eu tinha comprado a Internet num supermercado, como podia ter comprado um quilo de açúcar ou de outra coisa qualquer. Ia lá agora saber se era isto ou aquilo. É a Internet e ponto final.
Pois bem, assim sendo escrevi-lhe um e-mail e pedi-lhe um blog. Na volta do e-mail ele me pede um nome.
Um nome, um nome, um nome... Sei lá! Respondo que não sei de nome nenhum, porque na minha sanzala ninguém ia mesmo ver. É para eu escrever e depois eu me ler. Porque raio havia de ter um nome?
Ele, então, fez-me um blog e, para inaugurar, posta o e-mail que lhe escrevi e mais umas quantas linhas, tendo sido esse o primeiro post do meu desejado blog.
Ele é um amigo de longa data, ele navega desde os primórdios e é afamado neste mundo virtual. Já o conheci com vários nomes, nicknames propriamente ditos, sendo que o último foi M@squenervos. Dizia ele que era porque a velocidade dos down e uploads era muito baixa, sendo a ligação por dial-up. Estrangeirices que um leigo como eu ficou na mesma mas não era por isso que eu me iria aborrecer e dei um ar que o estava a entender perfeitamente. Eu tinha comprado a Internet num supermercado, como podia ter comprado um quilo de açúcar ou de outra coisa qualquer. Ia lá agora saber se era isto ou aquilo. É a Internet e ponto final.
Pois bem, assim sendo escrevi-lhe um e-mail e pedi-lhe um blog. Na volta do e-mail ele me pede um nome.
Um nome, um nome, um nome... Sei lá! Respondo que não sei de nome nenhum, porque na minha sanzala ninguém ia mesmo ver. É para eu escrever e depois eu me ler. Porque raio havia de ter um nome?
Ele, então, fez-me um blog e, para inaugurar, posta o e-mail que lhe escrevi e mais umas quantas linhas, tendo sido esse o primeiro post do meu desejado blog.
Manda-me um e-mail com a descrição de todos os passos (que até parecia um manual de micro-ondas com receitas e tudo), com o usarname, password e todas as voltinhas que eu tinha que dar.
Uns dias depois, um comentário no meu blog! Onde eu ainda não tinha postado nada meu. Só lá estava o meu e-mail e parte do manual de instruções que ele me mandou.
Paquito, um espanhol!!! de 17 anos!!! (saio das reticências para me afundar nos pontos de exclamação) tinha descoberto o que havia de ser o meu retiro ermitórico e me escreve dizendo que a net não foi inventada pela Nasa, mas sim pela Arpa (Advanced Research Projects Agency, do Departamento de Defesa dos EUA). Mais um que me falava coisas que me faziam sentir um ignorante decorativo.
Nem vou tentar imaginar como ou porquê o espanhol Paquito de 17 anos leu o meu recém-nascido blog. Mas fiz logo ali um juramento solene de como me propunha a publicar textos na criação da Arpa:
"Juro (com a mão direita em riste e digitando só com a esquerda – sem sacrifícios já que os meus dedos ainda hoje só martelam à vez) não publicar informações das quais não esteja absolutamente, ou pelo menos, convictamente certo. Juro não publicar fotos do meu cão, do meu filho, de mulheres dos outros, bem como resistir à tentação de publicar as minhas próprias. Juro não escrever poemas rimados em ão, em ar, er, ir, or ou ur. Melhor, juro não escrever poemas. Juro não atormentar os meus amigos e não dizer aos inimigos onde estou. E juro, por fim, sair por aí, do meu jeito (também ia fazer mais como), para ver se digo coisas pouco óbvias e pouco já ditas."
Olhem no que deu.Uns dias depois, um comentário no meu blog! Onde eu ainda não tinha postado nada meu. Só lá estava o meu e-mail e parte do manual de instruções que ele me mandou.
Paquito, um espanhol!!! de 17 anos!!! (saio das reticências para me afundar nos pontos de exclamação) tinha descoberto o que havia de ser o meu retiro ermitórico e me escreve dizendo que a net não foi inventada pela Nasa, mas sim pela Arpa (Advanced Research Projects Agency, do Departamento de Defesa dos EUA). Mais um que me falava coisas que me faziam sentir um ignorante decorativo.
Nem vou tentar imaginar como ou porquê o espanhol Paquito de 17 anos leu o meu recém-nascido blog. Mas fiz logo ali um juramento solene de como me propunha a publicar textos na criação da Arpa:
"Juro (com a mão direita em riste e digitando só com a esquerda – sem sacrifícios já que os meus dedos ainda hoje só martelam à vez) não publicar informações das quais não esteja absolutamente, ou pelo menos, convictamente certo. Juro não publicar fotos do meu cão, do meu filho, de mulheres dos outros, bem como resistir à tentação de publicar as minhas próprias. Juro não escrever poemas rimados em ão, em ar, er, ir, or ou ur. Melhor, juro não escrever poemas. Juro não atormentar os meus amigos e não dizer aos inimigos onde estou. E juro, por fim, sair por aí, do meu jeito (também ia fazer mais como), para ver se digo coisas pouco óbvias e pouco já ditas."
Ou não!
Sanzalando
17 de novembro de 2006
a10 - Estórias no Sofá - Sunguê e seus pensamentos
Me contaram e eu te conto num recontar sem acrescentar:
Lá para os lados da montanha morava sunguê Tóti, dono de uma grande cabaça. Recebendo generosas esmolas, pôde encher aquela cabaça com farinha. Pendurou-a, então, acima de sua esteira, e gostava de ficar deitado, contemplando o seu tesouro e sonhando com uma imensidão de coisas. Uma noite, já deitado, sunguê começou a pensar:
- Já tenho a cabaça cheia de farinha. Se viesse uma carestia, eu conseguiria por ela uma boa quantia, com a qual poderia comprar um par de cabras. Como as cabras têm filhotes de seis em seis meses, quase sempre, em pouco tempo estaria formando um grande rebanho. Vendendo as cabras, poderia comprar muitas vacas; com as vacas compraria, éguas. As éguas teriam cavalos e eu venderia, tendo um bom lucro. Com o lucro mandaria construir uma bela casa. Então, sem dúvida alguma, uma moça linda encantar-se-á de mim, e, eu aceitarei casar com ela, é claro se for rica e educada.
Terei filhos e quando eles crescerem saltarão para os meus joelhos para brincarem.
Eu fingirei que estou zangado por perturbarem o meu sossego e direi à mãe.
- Segura esses meninos
Como ela estará muito ocupada com as tarefas domésticas, não me ouvirá. Então, eu me levantarei e…
Tão mergulhado estava sunguê em seus pensamentos, que, desses, sem o perceber, passou à acção, de forma que, ao erguer a perna para o imaginário pontapé, atirando com a cabaça contra a parede partindo-a ao meio, recebendo em plena cara toda a farinha.
Quem emprenha um projecto irrealizável e impossível, pode ficar branco em sua cama.
eheheheheheheheh
Sanzalando com MC
16 de novembro de 2006
17 - Estórias no Sofá - Conversa de cabelos prateados - 2 de 2
Mas onde é que eu ia? Ah!
Dizia eu que era uma época difícil. Tinham que se contentar em estacionar o carro, muitas vezes emprestado, ou tirado na surdina da noite ao pai, um ao lado do outro, às vezes chegando à dúzia, e se divertir como se de uma corrida se tratasse. Inevitável era todo o exercício contorcionista e ao mesmo tempo saber o que acontecia no carro do lado. Uma nova posição, uma garota mais bonita ou um com o periscópio maior que o do namorado, eram os motivos da curiosidade. Isso quando, por acaso, não estacionavam ao lado de um amigo ou de um primo. Coisa comum.
Na verdade não viam muita coisa, mas pelo periscópio você deduz quem está ao lado.
Outra coisa que eles não olhavam é quem era a moça que o carro ao lado estava levando para a prática desportiva. Se fosse bonitinha e quisesse ir, já estava de bom tamanho. O passado na menina era o que menos interessava. Sabes como é, né?
Passado de mulher e cozinha de um restaurante são duas coisas que se olhar podes acabar por não comer. O melhor era esquecer algum possível problema.
Por não terem também sido inventadas as sex-shops, os desportos dentro do carro eram menos electrónicos e mais aeróbicos. Tas a ver!A falta de informação também ajudava. Como ninguém sabia que existia esse tal de Ponto G, ninguém o procurava. Era um stress a menos. Os homens não se sentiam diminuídos por não achar a tal região e as mulheres não precisavam fingir que eles conseguiram. Ou seja, era uma ralação, digo relação, mais verdadeira.Hoje, como numa forma de dizer esses todos problemas acabaram-se. Os motéis abundam em cada cidade ou vila, as miúdas de utilidade pública são mais acessíveis, aumentando os riscos da sua inexistência por decreto, as namoradas são mais liberais, os pais têm TV por cabo para assistir e não se preocupam tanto em vigiar as filhas e não há mais espaço para um comportamento tão rigoroso.
E logo hoje que os carros são mais espaçosos tornou-se perigoso este desporto, por causa dos assaltos. Tudo isto somado temos um comportamento bem diferente dos jovens de hoje.
É melhor agora ou era melhor antes? Acho que não há resposta certa para essa pergunta. Ambos foram momentos que, se foram bem vividos, deixaram sentimentos bons e momentos inesquecíveis.
E viver com alegria sempre deve ser o nosso objectivo na vida.
Acho que hoje já bebemos um pouco a mais pelo que é melhor cada um dar de frosques e um outro dia a gente volta a uma outra conversa redonda, num outro lugar, eu, Manuel Gil, Joaquim e João.
Dizia eu que era uma época difícil. Tinham que se contentar em estacionar o carro, muitas vezes emprestado, ou tirado na surdina da noite ao pai, um ao lado do outro, às vezes chegando à dúzia, e se divertir como se de uma corrida se tratasse. Inevitável era todo o exercício contorcionista e ao mesmo tempo saber o que acontecia no carro do lado. Uma nova posição, uma garota mais bonita ou um com o periscópio maior que o do namorado, eram os motivos da curiosidade. Isso quando, por acaso, não estacionavam ao lado de um amigo ou de um primo. Coisa comum.
Na verdade não viam muita coisa, mas pelo periscópio você deduz quem está ao lado.
Outra coisa que eles não olhavam é quem era a moça que o carro ao lado estava levando para a prática desportiva. Se fosse bonitinha e quisesse ir, já estava de bom tamanho. O passado na menina era o que menos interessava. Sabes como é, né?
Passado de mulher e cozinha de um restaurante são duas coisas que se olhar podes acabar por não comer. O melhor era esquecer algum possível problema.
Por não terem também sido inventadas as sex-shops, os desportos dentro do carro eram menos electrónicos e mais aeróbicos. Tas a ver!A falta de informação também ajudava. Como ninguém sabia que existia esse tal de Ponto G, ninguém o procurava. Era um stress a menos. Os homens não se sentiam diminuídos por não achar a tal região e as mulheres não precisavam fingir que eles conseguiram. Ou seja, era uma ralação, digo relação, mais verdadeira.Hoje, como numa forma de dizer esses todos problemas acabaram-se. Os motéis abundam em cada cidade ou vila, as miúdas de utilidade pública são mais acessíveis, aumentando os riscos da sua inexistência por decreto, as namoradas são mais liberais, os pais têm TV por cabo para assistir e não se preocupam tanto em vigiar as filhas e não há mais espaço para um comportamento tão rigoroso.
E logo hoje que os carros são mais espaçosos tornou-se perigoso este desporto, por causa dos assaltos. Tudo isto somado temos um comportamento bem diferente dos jovens de hoje.
É melhor agora ou era melhor antes? Acho que não há resposta certa para essa pergunta. Ambos foram momentos que, se foram bem vividos, deixaram sentimentos bons e momentos inesquecíveis.
E viver com alegria sempre deve ser o nosso objectivo na vida.
Acho que hoje já bebemos um pouco a mais pelo que é melhor cada um dar de frosques e um outro dia a gente volta a uma outra conversa redonda, num outro lugar, eu, Manuel Gil, Joaquim e João.
Sanzalando
15 de novembro de 2006
17 - Estórias no Sofá - Conversa de cabelos prateados - 1 de 2
Sentado no sofá converso com Joaquim e João. Se não estivéssemos na forma de um rectângulo eu diria que se tinha formado uma conversa redonda. Resolvemos ir recuando no tempo, vertendo um ou outro copo de vinho tinto, saltando à vara sobre assuntos até que encalhámos num que durou mais tempo e que eu aqui faço uma espécie de acta, não me lembrando quem disse o quê, nem quem falou de quê.
Havia um tempo que não era como é o tempo de hoje. Esse tempo não faz tanto tempo assim e se calhar alguém que me ouve viveu nesse tempo. Bem, pelo menos eu não vivi, mas me contaram e eu acredito.
Não falo das épocas antigas onde o marido mal podia ver a mulher nua mesmo depois de casada, porque esse tempo eu desconheço de todo. Devia ser uma época em que se fazia um furo no lençol para que o casal casado pudesse fazer aquilo. Ressalvo que falo de casal casado porque se não fosse casado, nem pensar, mesmo eu não acreditando se me contassem. Não falo dessa época.
Falo dos anos 60 e 70 onde os namorados praticavam um desporto muito popular. O casal de namorados estacionava os carros, da época, numa praia, numa rua sem fim ou num planalto descampado, recatado. Não estejam a pensar que era assim uma moleza levar a namorada. Poucas eram as que eram assim fáceis. Iam sim, mas depois de muito tempo de namoro. Nas prim4eiras idas eram apenas trocados uns beijinhos, os apalpões, uma mão naquilo, aquilo na mão. Época difícil.
Muitas coisas atrapalhavam e tornavam o problema maior. Estes namoros de amores no carro eram necessários uma vez que os motéis, acho eu, ainda não tinham sido inventados e, se por acaso existissem, não havia massa para lá gastar.
Alem do mais eu acho insuportável entrar numa bicha para comer, isso tanto vale para um restaurante como para um motel ou similar. Claro que os que entram nestas bichas vão-se aquecendo primeiro no carro. Alguns mais afoitos até desistem de entrar pois já concluíram o serviço dentro do veículo.
Mas onde é que eu ia? Ah!
Havia um tempo que não era como é o tempo de hoje. Esse tempo não faz tanto tempo assim e se calhar alguém que me ouve viveu nesse tempo. Bem, pelo menos eu não vivi, mas me contaram e eu acredito.
Não falo das épocas antigas onde o marido mal podia ver a mulher nua mesmo depois de casada, porque esse tempo eu desconheço de todo. Devia ser uma época em que se fazia um furo no lençol para que o casal casado pudesse fazer aquilo. Ressalvo que falo de casal casado porque se não fosse casado, nem pensar, mesmo eu não acreditando se me contassem. Não falo dessa época.
Falo dos anos 60 e 70 onde os namorados praticavam um desporto muito popular. O casal de namorados estacionava os carros, da época, numa praia, numa rua sem fim ou num planalto descampado, recatado. Não estejam a pensar que era assim uma moleza levar a namorada. Poucas eram as que eram assim fáceis. Iam sim, mas depois de muito tempo de namoro. Nas prim4eiras idas eram apenas trocados uns beijinhos, os apalpões, uma mão naquilo, aquilo na mão. Época difícil.
Muitas coisas atrapalhavam e tornavam o problema maior. Estes namoros de amores no carro eram necessários uma vez que os motéis, acho eu, ainda não tinham sido inventados e, se por acaso existissem, não havia massa para lá gastar.
Alem do mais eu acho insuportável entrar numa bicha para comer, isso tanto vale para um restaurante como para um motel ou similar. Claro que os que entram nestas bichas vão-se aquecendo primeiro no carro. Alguns mais afoitos até desistem de entrar pois já concluíram o serviço dentro do veículo.
Mas onde é que eu ia? Ah!
Sanzalando
14 de novembro de 2006
Divirtam-se
QUEM COMEMORA O ANIVERSÁRIO NO MESMO DIA QUE TU???
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