A Minha Sanzala

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21 de novembro de 2006

a12 - Estórias no Sofá - A Catana


Me contaram e eu reconto. Tem slide show que lhe falta o calor, o perfume e a quentura de sentir no peito.

Era uma vez, lá para os lados do mato de quitxibá, um camponês tinha uma filha e casou-a com um rapaz da sua terra. No dia da boda, estando à mesa os noivos, os pais e as mães deles e muitos convidados, disse o camponês para a mulher:
- Sanguê, vai à adega buscar mais vinho, pois quero fartar os nossos convidados. Foi a mulher à quitanda e ia-se passando muito tempo sem que ela voltasse. Então, o camponês levantou-se da mesa e foi ver se tinha sucedido alguma coisa à mulher. Chegado à quitanda viu a mulher parada a olhar para uma catana que estava pendurada no tecto e perguntou-lhe:
- Sanguê, que estás tu aí a fazer?
Respondeu-lhe ela:
- Olha, Sunguê, estava a lembrar-me de que quando a nossa filha tiver pequenos, se eles para aqui vierem brincar, lhes pode cair aquela catana na cabeça e matá-los!
- Dizes bem, Sanguê; ai se tal sucedia! E ficou também a olhar para a Catana. Vendo a noiva que o pai e a mãe não vinham, foi ter com eles à adega e perguntando-lhes o que estavam fazendo ali.
Então, eles responderam:
- Olha, filha, estávamo-nos lembrando que tu tendo filhos, se eles vierem brincar para aqui, lhes pode cair aquela catana na cabeça e matá-los.
- É verdade, Sanguê, que isso pode acontecer.
E lá ficou também a olhar para a catana. Pouco a pouco, todos os convidados foram para a quitanda olhar para a catana.
Restava só o noivo, que foi o último, mas ao ver a doidice daquela gente, fugiu em busca duma terra onde não houvesse gente tão doida.
Ao chegar a uma terra, viu muita gente a fugir, uns subindo nas árvores, outros fechando portas e janelas; parecia o fim do mundo. O rapaz perguntou, então, o que era a causa de tantos medos que iam naquela terra; e responderam-lhe que andava lá um bicho que comia gente e que ninguém se atrevia a matá-lo. O rapaz ao ver o bicho, soltou uma gargalhada, pois a causa do terror daquela gente não era mais do que um peru e ofereceu-se para o matar, sob a condição de lhe pagarem. Morto o peru, recebeu o rapaz umas valentes moedas e partiu para outra terra.
Ali andavam muitas mulheres e crianças com joeiras ao sol. Ele, então, perguntou o que andavam fazendo e responderam-lhe que andavam a apanhar o sol para o levarem para casa, pois não era verão nem Inverno e ele andava desaparecido. O rapaz respondeu-lhes que eles não nunca seriam capazes de apanhar o sol, mas que se lhe pagassem, ele era capaz de lho pôr dentro das casas. Assim foi, o rapaz chegou às casas, tirou uma telha dos telhados e logo eles viram o sol dentro das suas casas.
Partiu para outra terra, já muito admirado do que tinha visto, quando se lhe depara uma mulher que estava enfeitando uma porca com muitas missangas e colares de flores, e perguntou-lhe:
- Para onde levas esse animal todo enfeitado?
- Sabes rapaz, sou viúva e o meu homem fazia hoje anos e, por isso, quero ver se encontro um portador para o paraíso.
Respondeu o rapaz:
- Hoje é o teu dia de sorte, é mesmo para aí que vou. A mulher surpreendida com a feliz coincidência entregou-lhe a porca e mais umas moedas para a ajuda do transporte.
O rapaz já não cabia em si de contente com tantas moedas que levava e, convencido de que no mundo já não havia gente de juízo, resolveu voltar à casa da sua noiva. No caminho, porém, deteve-se, por causa de tanto grito. Aproximou-se do local da berraria e deparou-se com um molho de homens deitados na estrada, uns por cima dos outros como se fosse um novelo de lã bem desarrumado.
- O que está a acontecer?
Eles responderam:
- Estamos aqui há três dias sem nos podermos levantar, pois não sabemos quais são as pernas de cada um.
Respondeu-lhes o rapaz que ia já fazer com que eles se levantassem, mas que teriam que pagar pelo serviço.
O rapaz pegou num pau e começou a bater nas pernas dos homens e eles puseram-se a gritar:
- Ai, ai as minhas pernas! E começaram-se a levantar-se.
O rapaz finalmente chegou à terra da noiva, pagou uma boa quantia para tirarem a catana do tecto da venda; e
Eheheheheheheheheheheh
o final todos vocês já sabem

Hoje escrevo com imagens. Uma maneira diferente de dizer o que me vai na alma.


Sanzalando com MC

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