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12 de novembro de 2006

16 - Estórias no Sofá - Melhor que isto só dois disto - 2 de 2

Alguns anos mais tarde, ouvi dizer que Gabriel tinha sido assaltado por três ladrões armados. Enquanto ele tentava abrir o cofre, a sua mão, tremendo de nervoso, errou na combinação, os ladrões entraram em pânico, atiraram contra ele e fugiram. Por sorte, as armas de fogo fazem barulho e Gabriel foi encontrado relativamente rápido e foi lavado ao Serviço de Urgência. Depois de 8 horas de cirurgia, e algumas semanas de tratamento nos Cuidados Intensivos, Gabriel teve alta do hospital, com alguns fragmentos de balas no seu corpo, como medalhas, carimbos de um passaporte, recordações indeléveis, que por estarem onde estavam não era aconselhado ir lá removê-los.
Encontrei-me com o Gabriel nos exactos seis meses depois do acidente sobressalto. Quando perguntei:
- Como vais?
ele respondeu:
- Melhor do que isto, só dois disto! Queres ver as minhas cicatrizes?
Mantinha ele aquele sorriso dele.
Enquanto eu olhava para as cicatrizes, perguntei o que lhe passou pela mente, quando os ladrões o assaltaram:
- A primeira coisa que veio à minha cabeça foi que deveria ter trancado a porta. Então, depois, quando estava estendido no chão e sentir o calor de sangue escorrer no chão, lembrei-me que tinha duas escolhas. Eu podia escolher viver ou podia escolher morrer. Eu escolhi viver.
eu perguntei:
- Não tiveste medo? Não desmaiaste de susto, de dor ou outra coisa qualquer?
Gabriel respondeu:
- Os bombeiros eram óptimos. Eles disseram todo o tempo que tudo ia dar certo, que iria correr bem. Mas, quando me levaram para a sala de emergência, eu vi as expressões no rosto dos médicos e enfermeiras, e aí eu fiquei com medo. Em cada olhar, eu lia é um homem morto. Eu sabia que tinha que fazer alguma coisa.
- Que fizeste tu? Não vais dizer que contaste uma anedota?
- Bem, estava lá uma enfermeira grande e forte, fazendo perguntas, até que me perguntou se eu era alérgico a alguma coisa... Sim, respondi eu. Os médicos e enfermeiras pararam imediatamente, esperando pela minha resposta. Respirei fundo e respondi: Sou alérgico às balas! Enquanto eles sorriam, eu disse-me que estou a escolher viver. Operem-me como se eu estivesse bem vivo, não como meio morto, lhes disse de seguida.
Demos um abraço, trocamos números de telefone e cada um de nós seguiu o seu caminho. Eu mais pesado, pois carreguei-me de esperança e de nova atitude.

Sanzalando

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