A Minha Sanzala

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7 de novembro de 2006

15 - Estórias no Sofá - Desejo de ser artista - 2 de 3

O difícil mesmo era livrar-se da compulsão de ser feliz. Anos e anos juntando recortes de jornais com uma breve referência ao seu trabalho, porque o dele numa foi falado nem uma linha. Peças diversas para instalações artísticas. Sucatas para enormes oficinas de criatividade com crianças, jovens e adultos. Todos os sonhos sonhados na tertúlia das horas que não tinham pressa de passar. Vidros e latas pululantes de ideias. Partes diversas de exposições e experiências de beleza para erguer. Engenhocas. Invenções. O que poderia parecer uma obsessão de guardar o passado era a crença no futuro. A possibilidade de fazer arte. Dela viver. Um sonho a dois que se foi modificado para um sonho individual e que passava a ser um pesadelo martelado num pensamento constante.
Pensava num pensamento feito ladainha que agora, para tudo, o destino é o lixo, o pó ou alguma incineradora. Assim, então, será, dizia-se para se convencer. As caixas e os sacos pretos são sepulcros dos sonhos paridos mas que acabaram por não crescer. Ela era agora o carro fúnebre de serviço às caixas de aplausos, de sorrisos, de criatividade, de prazer. Para longe iria aquele cortejo de arte por fazer. O conhecimento serve a sobrevivência e a arte a vida, pensava ela enquanto mais um saco ou caixa ia para o contentor de lixo do bairro.

Sanzalando

2 comentários:

  1. Receber sua visita é sempre um prazer, venha sempre!
    Ando em falta com os amigos virtuais, muita militância e luta pelo pão de cada dia.
    abraços

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