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18 de junho de 2013

ao meu pai

Me sento aqui pertinho do zulmarinho a olhar para dentro. Está frio de vento norte e a maresia sopra ao contrário. No olhar para dentro me lembrei que tem 52 anos feitos hoje que não te ouço dizer palavra. De verdade mesmo verdadeira é que não lembro mais como é que era a tua voz, como era a tua figura e qual figura eu fiz. Sei mesmo é de ouvir contar, porque só sei de mim que era Domingo perto do almoço quando o Dr. Carneiro foi na casa da gente dizer qualquer coisa que a mãe gritou e hoje ainda não consigo ainda esquecer o grito dela e o seu carro preto a sair paralelo à linha do comboio. Desqueci tudo tanto para trás como para a frente e acho só acordei anos mais tarde. 
Desculpa só se tem momentos que te pareço fraco, mas tem vezes que eu precisava de ti, meu pai, me dissesses as horas, me apontasses o norte ou simplesmente me passasses a mão pelo cabelo. 
Desculpa pai se tem alturas que parece eu não sou teu filho, como tantas estórias tuas que me contaram.  Acredito que também tinhas defeitos mas só me contaram as tuas coisas boas. Me contaram que andavas sempre de gravata, no bolso diga-se, porque não tinha nenhuma lei a dizer que ela era para ser usada no pescoço. Me contaram que ficavas doente quando qualquer Benfica perdia e não saias nem de casa. Me contaram tantas coisas bonitas e não tenho a tua mão para segurar a minha loucura de ser actual, de não ter a tua mão para escrever as minhas palavras e o teu talento para soletrar as notícias que eu gostava de dar ao mundo.
Um abraço, meu pai!


Sanzalando

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