Nem sol, nem frio, nem vento nem luz de dia claro. Caminho na areia, paralelo ao zulmarinho, como quem passeia para lado nenhum vendo coisa alguma. Não é hoje que vou dar uma coloração à minha pele que vai continuar pardacente como quem fica fechado num bunker de realidades, enterrado num profundo fundo falso de imaginações.
De verdade não é fácil falar comigo, não é só abrir a boca e deixar sair as palavras que são corpos de letras sentidas e sofridas numa alma depenada por ventos e tempestades tantas vezes imaginadas e não realizadas. Traduzir o que sinto. Tantas vezes os sentimentos são um batido de bagunça, uma salada de legumes e tubérculos cozidos e crus que a memória tempera com azeite e sal. Pôr isto em corpo de palavra. Ainda fosse um desenho teria a forma de lágrima ou de piscar de olhos ou de olhos de enganar. Fosse um xingar e teria uns asteriscos e rabiscos associados a um pi que não valeria 3,14. Fossem de amor e seriam corações flutuantes ao vento da aragem provocada pelo sorriso de gente feliz.
De verdade, as minhas palavras são desenhos animados, às vezes drama, outras comédia outras sem senso. Umas suicidas e outras sem tinta, tantas são as palavras com que converso comigo. Num texto normal as minhas palavras valeriam um zero quadrado, na minha boca valem o que eu lhes dou de valor, umas vezes com amor, outras vezes apenas com memória e outras ainda apenas palavras.
As minhas palavras às vezes são surdas ou com sentimentos inventados por quem as ouve por de trás do biombo onde me escondo quando caminho na solidão. Outras vezes têm tanto sentimento que até passam bassúlas entre elas e tropeçam em rasteiras que nem sei o que ia a dizer.
As minhas palavras valem apenas o valor que lhas dou.
Sanzalando
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