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9 de setembro de 2013

Ódio

E foi então que apareceu o Ódio, como se fosse uma flor libertando odores na noite que nasceu. A porta range, o relógio se atrasa e as roupas frias dum inverno passado são penduradas no cabide de Presunção e mostradas na praça pública como se nunca tivessem sido usadas. Tudo parece fazer um esforço para não arder, para que as gotas de orvalho, que ainda estão fora de tempo, não congelem em minúsculas lágrimas choradas duma qualquer face cinzenta na vida. 
Eu, Zé Ninguém, tenho-o quanto baste para me cobrir nos dias de sol e proteger no rigoroso inverno da Solidão.
Para alguns o Ódio ilumina, lhes energiza o dia e lhes faz sorrir como se fosse canto de passarinho no beiral duma janela. Me disseram que o Ódio não é como o carteiro. Ela nunca toca antes de entrar e se sai vai doer à volta. Meu Ódio é de estimação, não é esse vulgar que tenta romper a Neblina, que faz tudo para rasgar a Nostalgia e ainda pontapeia o Remorso.
O meu Ódio é como o amanhecer, silencioso, mesmo que rasga a aurora, solitário mesmo que no meio duma multidão apetece estrangular a Solidão e abra a cortina do palco como se fosse sufocar o espectáculo da vida.
Todo o Ódio é desprezível, fatigante, inútil que até seca a garganta e tolda os pensamentos em caimbras de raciocínio.
Meu Ódio virou rotina que fica na retina apenas para olhar e saborear frio em jeito de vingança, não fosse eu Zé, de apelido Ninguém.



Sanzalando

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