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19 de setembro de 2013

Paraíso

Eu queria afogar-me. Queria deixar de ser o Zé Ninguém, aquele que não se irrita, que não sente nem magoa, que não sabe o que é tristeza, alegria, amor ou ódio. Eu Zé de nome e Ninguém de apelido, estou cansado de tocar as estrelas no céu e cintilar como elas nas noites sem lua, de abraçar a Nostalgia e cobrir-me de Neblina. 
Eu queria voar e não consigo, eu queria morar no céu mas sem ter que morrer, sem ter que perder as coisas reais que toco com as minhas mãos, sem ter que calar as palavras que soletro a rir ou a chorar. Queria ser Alguém, pelo menos uns breves instantes, sentir o prazer da carne sem ter que entrar no paraíso, se é que ele é distante daqui.
Zé de nome, apelido Ninguém, não quero esconder os meus sonhos em valas comuns, eu quero andar a pé, ser livre, ir embora ou voltar sem ter que pensar em gente morta de Saudade ou de Alegria. Não quero esconder a minha cara porque o tempo não está de feição, porque os poetas perderam as rimas e os outros me dizem eu falo para velho sofrido.
Eu, Ninguém de apelido e Zé de nome, deixo fugir-me dos interiores que consomem a minha cabeça, que pesa nos meus ombros, que esforçam minhas vértebras e arqueiam minhas pernas.
Eu Zé, de apelido Ninguém, carregado de Solidão porém Feliz, declaro guerra às páginas deserticas da tristeza, aos livros nunca abertos, à disenteria mental dos que sabem tudo.
Eu apelo à beleza carnal de falas absurdas, promessas de luas e céus infinitos que terminam num piscar de olhos.
Zé de nome e Ninguém de apelido, declaro-me antisocial embora não exista na sociedade em geral. 
Será que é hoje emigro para África, terra dos desconhecidos carregados de esperança? É, vou saber onde fica mesmo o paraíso, não tarda.



Sanzalando

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