Pensando que tinha me livrado da Raiva, pequeno roedor que corrói a alma e que leva ao emaranhado de pensamentos irracionais e a actos irreflectidos destravados, meio passo a caminho do Ódio, fazes com que eu me afogasse no inesquecível e partisse em direcção à mentira numa mágoa de lágrimas de mar morto. Pensando ter-me livrado da Raiva, encontro degraus de mágoa, frios eternos, ásperos e secos e se cruzo com o teu sorriso, julgado por ti inesquecível, sinto uma dor no coração, mais forte que o Remorso que é no estômago, e lá vêem mais lágrimas dando vida ao mar morto. Esta dor, dizem é Ciume e eu já chorei um quadribilião de vezes e em nenhum momento tive capacidade para travar os pensamentos e juntar os pequenos pedaços de mim e atirar-te à cara como se fosses um alvo fácil, um corrimão de escada que eu pudesse segurar e apertar com as minhas mãos como se fosses um pescoço fragilizado de ruindade. Já sei, vais dar-me uma aula e dizer que não é Raiva mas sim Rejeição a dor que sinto bem no coração.
Afinal de contas eu, Zé, de apelido Ninguém, acho nem isso tenho porque já o deixei escapar, faz tempo que a neve derreteu nos trópicos e eu não estou doente, nem mental nem fisicamente.
Raiva e Rejeição até que faziam um casal jeitoso, ambos começados por R e se calhar do mesmo signo, seriam leais, sofreriam de amor e não teriam lembranças de esperanças vazias e de Saudade travestida de Nostalgia em panos de Neblina.
E eu sem rasto, sem pegadas para seguir deixo escapar algumas palavras que não caíram no lixo, que não foram atropeladas pelo Ódio nem escurecidas pela Raiva.
Eu, Zé, de apelido Ninguém, acho maltratas quem te gosta e não sabes que o Amor não é um jogo para se jogar sem medo de perder, não te falo as palavras cheias, recheadas de lições e em cama de cultura
porque eu não sinto saudade das lágrimas que chorei, dos sorrisos que sorri nem dos Ódios que possa vir a sentir.
Eu mesmo, antes de adormecer vou pensar em acordar sem ter conhecido todos os erres que fazem doer e pensar nas coisas que acontecem sem ter alguma vez pensado nelas e que me mudaram para sempre.
Sanzalando
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