A Minha Sanzala

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24 de outubro de 2004

Um café na Esplanada (68)

04-09-2004 00:20

citação:
Dei-te a solidão do dia inteiro
Na praia deserta, brincando com a areia,
No silêncio que apenas quebrava a maré cheia
A gritar o seu eterno insulto,
Longamente esperei que o teu vulto
Rompesse o nevoeiro

Ouço-te cantarolar com voz meiga, doce e atrevo a dizer-me também triste.
Aproveito para beber uma especial gelada, e daqui da esplanada vou-te admirando. Ver-te caminhar sobre a água em passos de dança perfeitos. De tão leves não vislumbro as marcas deixadas na superficie aquosa deste mar, que está sereno. Talvez hoje esteja mais salgado do que é habito. Completando o cenário lá está a lua cheia exactamente por trás de ti. Vejo o teu corpo, adivinho a gravidez desejada. Não distingo o teu rosto na perfeição, não sei se choras se sorris. Danças e sei que não é para mim.
Bebo e penso como seria a vida se não houvesse quem utiliza o corpo na perfeição da sensibilidade sem tremores, hesitações e exigências sobre-humanas.
Bebo com vontade de saltar da esplanada e percorrer todo o caminho directo a ti. Receio que os meus pés de chumbo e a desarmonia do meu corpo me levassem para as profundesas deste mar e eu jamais voltaria a ver o início deste mar zulmarinho.
Bebo pensando porque e por quem choras.
Bebo porque não sei usar o equilíbrio musical do gesto feito dança.
Bebo porque não sei usar as palavras certas nos momentos que devem ser usadas.
Bebo simplesmente porque não quero despertar desta imagem: a lua e tu!
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca

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