Camba, olha só este mar zulmarinho que parece um doce de calmo que tá. Mas ele esconde bué de coisas dentro dele, desde peixes que são grandes e mordem até minúsculos molúsculos que maltratam as gentes. Tem carcaças de barcos lá nos fundos dele. Este mar parece mais que não é. Vês, camba, nem tudo tem a cara do que é, nem a cara é o que parece ser que é.Te lembras da música do Bartolomeu? Assobia um bocado para mim.
Tás a ver aquele biquini azul que está a entrar na água? É só mesmo sonho. Não tem ninguém que entra na água a esta hora. Os teus olhos só mostram aquilo que queres ver.
Um dia, aqui sentados, olhando este zulmarinho, te contarei estórias de Angola de hoje. Te falarei como vão os Hospitais, as cresches, os mercados, as coisas mais pequenas e as maiores de Angola de hoje. Sabes que tudo na vida é como este mar com as ondas no vai e vem mas tem parte que não volta mais para trás, fica mesmo na areia? Tens que olhar sempre nele e vais ver que a onda não tem igual, é sempre diferente, é sempre nova.
Bebe mais uma comigo e vamos falar das coisas de hoje lá, onde estão os nossos irmãos. Vais ver que tem coisas boas que nem te passam na cabeça que estás mesmo com ferrugem das coisas que foram e não são.
Bebo eu.
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
Sanzalando em Angola
Carlos Carranca
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