"Fio": Um café na Esplanada
carranca
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Usando as garrafas...fazendo novo o Zulmarinho - III Hoje, 00:20
Forum: Conversas de Café
Bebendo mais meia taça de vinho, pego na caneta de tinta permanente, que essa o tempo não pode apagar, pois senão permanente não seria a tinta. Neste instante lembro-me que existe nos tempos modernos uma coisa mais usual, o e-mail. Mas se eu enviasse o e-mail teria que pôr o destinatário, deixaria de ser a sorte, os ventos ou as marés a ditarem o rumo. Serias tu, só tu a receber. Não. É mesmo melhor continuar com a ideia inicial e manter a esperança que ela chegue lá, ao início do zulmarinho, podendo atracar num porto qualquer, ou quiçá, dobrar o cabo e ir para outros mares, outros destinos.
Mas com toda esta incerteza continuo a ter-te em mente. Esta mensagem, escrita em caligrafia desenhada ou imprensa em novas tecnologias, mas enviada aproveitando a força da minha alma, a minha barreira, o zulmarinho, pode ter um destinatário ao acaso. Mas é para ti, que só eu sei quem é e a falta que me faz. Nossos destinos estão peremptoriamente separados, numa dicotomia aparentemente impossível de reverter. Ao mesmo tempo em que aceito a distância que nos é imposta concedo-me o direito de sonhar com um amor possível.
Eu queria ficar contigo, viver-te.
Mas entende, se ainda não o fiz é por absoluta incapacidade. Eu simplesmente não posso deixar tudo e ir ter contigo numa daquelas aventuras de sonhador. Sei que sou utópico, que sou livre-pensador, mas tenho ambos pés na terra, criando em mim a contradição da minha existência. Há pessoas que dependem de mim, da minha presença física, do meu suporte. Aqui estou porque sempre tive o defeito incorrigível de ser responsável e de me sentir responsável pela felicidade alheia. Fico por medo de decepcionar, não a mim que me conheço como conheço a palma das minhas mãos, como conheço as rugas da tua geografia corporal, como conheço o perfume que transpiras. Fico porque não seria feliz contigo e com o sentimento de culpa ferindo-me os ombros, as costas e a alma. Só que eu não sabia que naquele dia e naquela hora eu havia abdicado de toda e qualquer possibilidade de ser feliz.
Bebo mais mais taça de vinho, olho o zulmarinho e estou aqui e estou ali, no lado de lá da linha recta que afinal é curva.
Sanzalando em AngolaCarlos Carranca
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